A bandeira que une Barcelona e FC Porto
Unidos por uma identidade própria, contra o centralismo. Forças da resistência no plano desportivo, que extravasa para o plano político
É dentro das quatro linhas, no Estádio Olímpico Lluís Companys, que Barcelona e FC Porto vão medir forças em mais uma partida da Champions, mas o reencontro de dois clubes bem conhecidos extravasa o campo meramente desportivo. De bases bem estabelecidas nas respetivas regiões - o Norte de Portugal e a Catalunha -, dragões e culés apresentam-se há décadas como forças de bloqueio ao poder de Lisboa e de Madrid. As segundas maiores cidades de Portugal e Espanha tiveram papéis determinantes nas histórias dos próprios países, bastando, para tal, lembrar por exemplo a Revolução Liberal, que se deu no Porto, em 1820.
Na verdade, a relação institucional entre o FC Porto e o Barcelona é bastante salutar e cordial, tanto que os dois clubes já se sentaram várias vezes à mesa para negociar. Neste sentido, são muitos os nomes que passaram pelos dois emblemas, com Deco e Vítor Baía à cabeça. Além destes, há os casos Aloísio, Fernando Couto, Juan Carlos Heredia, Juan Antonio Pizzi, Ricardo Quaresma, Cristian Tello ou Nico González.. De resto, a proximidade vê-se também em detalhes como um entretanto partilhado por Pinto da Costa, presidente dos dragões, que, aquando do planeamento do museu dos dragões, visitou o dos catalães.
«Més que un club» é um lema aplicável às duas partes. Narcís de Carreras, autor da mítica frase, tomou posse como presidente barcelonista em janeiro de 1969, dois anos depois de ter visitado o Porto e de ter constatado factos curiosos sobre o futebol ibérico.
Dono de uma vincada visão anticentralista, segundo o historiador Alcino Pedrosa, o político e advogado catalão sublinhou a importância das vitalidades regionais no crescimento dos clubes, escreveu que o FC Porto e o FC Barcelona eram «dois clubes que têm de seguir uma estratégia comum» e elaborou sobre essa linha de pensamento: «Quanto maior o enraizamento na região, maior o potencial de desenvolvimento.»
Com um peso histórico nos respetivos países e, sobretudo, nas regiões em que estão inseridos, os dois emblemas apresentam muitas parecenças entre si, sendo que essas semelhanças acabam, de forma inevitável, por se estender às cidades de que são oriundos.
Pese as diferenças de contexto, já que pertencem a territórios vizinhos, mas distintos, na Invicta e na capital da Catalunha respiram-se identidades muito próprias, cujas raízes são profundas e seculares.
UMA DIFERENÇA ABISSAL
No campo desportivo, diga-se que se o valor financeiro do plantel interferisse no resultado, os dragões entravam em campo derrotados. De acordo com o Transfermarkt, o plantel do Barcelona está avaliado em 814,30 milhões de euros, enquanto o do FC Porto vale 289, quase três vezes menos.
Do lado da equipa portuguesa, o jogador mais valioso é o guarda-redes Diogo Costa, avaliado em 45 milhões de euros, seguido do brasileiro Pepê, com um valor de 25 M. No Barcelona, o rei é o jovem Pedri, que de acordo com as contas do Transfermarkt tem um valor de mercado de 100 milhões. Seguem-se Gavi (90 M) e De Jong (75 M).
Essa diferença foi esbatida na primeira mão, mas um erro de Romário Baró deitou tudo a perder ainda antes do final da primeira parte. O FC Porto jogará na Catalunha com sede de vingança.