100 dias passaram e até parece que nada se passou (crónica)
Youssouf Zaydou acaba de marcar o segundo golo do Famalicão. Foto: Grafislab

Famalicão-Benfica, 2-0 100 dias passaram e até parece que nada se passou (crónica)

NACIONAL11.08.202421:23

Há pouco mais de três meses o Benfica confirmou o adeus ao título ao perder com o Famalicão no Minho. Voltou a ser derrotado pelo mesmo resultado, cometeu os mesmos erros, sentiu as mesmas dificuldades

Há 100 dias, em Famalicão, o Benfica perdeu por 2-0 e, mais do que isso, perdeu hipótese de conquistar o título, festejado no fim desse jogo no Minho pelo Sporting, quando faltavam duas jornadas para o fim do campeonato. Muito tempo passou, entretanto, e, no mesmo palco, parece que nada mudou. Porque foi o pior Benfica da época passada que esteve em campo, apesar de algumas caras novas — os mesmos erros, as mesmas fragilidades, as mesmas dificuldades, as mesmas inseguranças, a mesma falta de ideias, a mesma incapacidade de lutar contra o destino.

Se considerarmos que tantas e tão estruturantes decisões foram tomadas, como o voto de confiança no treinador contra a insatisfação de adeptos, o investimento elevado em reforços, a saída de João Neves, algumas exibições inspiradoras na pré-época, havia pelo menos a justificada expectativa de que alguma coisa poderia mudar. Não mudou. E esta ideia de que, apesar de tudo o que foi feito no já largo tempo que passou, o Benfica levou para Famalicão o que de pior tinha da última época só pode corroer as mais sólidas fundações de quem acredita ou acreditava que tudo seria melhor, a mais irracional fé de quem acredita ou acreditava que tudo seria melhor.

O tempo que por cá passámos a ver futebol também nos ensinou que nada é definitivo no futebol, especialmente à primeira jornada. Mas não é preciso ser bruxo para adivinhar que o Estádio da Luz será já um caldeirão a ferver para Roger Schmidt e o Benfica. O futebol é assim.

Cem dias depois, então, já com três reforços na equipa — Pavlidis, Beste e Leandro Barreiro — o Benfica entrou animado com as boas sensações da pré-época, tentou ser autoritário ao pressionar na área do Famalicão e... pouco mais. Com a bola, em ataque posicional, foi uma e outra vez a mesma coisa — Florentino e Leandro Barreiro sem capacidade de construir, João Mário e Aursnes sempre muito por dentro, laterais projetados mas sem forma de combinar com os extremos ou dar profundidade ao jogo. E uma e outra vez a bola acabava nos pés dos minhotos.

Sem bola, por outro lado, o Benfica não acertou no tempo e na zona para fazer pressão e o Famalicão foi capaz de sair a jogar em apoio ou em futebol mais direto. Assim que passavam a primeira linha de pressão dos encarnados, os minhotos tinham espaço e tempo para criar perigo.

Antes de Sorriso marcar (12'), num lance tão simples como eficaz, com um lançamento de De Haas para Aranda e depois deste a isolar Sorriso, já o Famalicão tinha exposto o Benfica, então num belo lance coletivo desde a área, ao qual faltou boa excução final. Os minhotos deram a bola ao Benfica mas também souberam tratá-la bem e levá-la à area de Trubin.

Só uma vez na primeira parte o Benfica quase ameaçou, quando Pavlidis (isolado da equipa como uma ilha grega) desviou sem força um passe de João Mário para as mãos de Luiz Júnior. O primeiro verdadeiro remate do Benfica surgiu apenas aos 59', uma hora, como tal, sem incomodar.

Roger Schmidt, por outro lado, não teve capacidade de influenciar o jogo. Kokçu entrou ao intervalo. Em 45 minutos foi segundo avançado, médio-direito e médio-interior. Só a entrada de Di María — treinou-se pela primeira vez na quinta-feira — animou o Benfica. Mas, desta vez, de pouco valeu o talento do avançado argentino. Foi sol de pouca dura. Porque o que durou e prevaleceu foi a boa organização e estratégia do Famalicão. Marcou o segundo aos 90' por Youssouf Zaydou. Poderia ter marcado mais dois.