Turismo desportivo (artigo Vítor Rosa, 203)

Espaço Universidade Turismo desportivo (artigo Vítor Rosa, 203)

ESPAÇO UNIVERSIDADE10.07.202219:43

Do ponto de vista histórico, é nas primeiras manifestações desportivas que encontramos a associação entre o desporto e o turismo. Pausanias, no seu récito, caracterizava e diferenciava os espaços de prática desportiva e os locais de hospitalidade frequentados pelos espetadores dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, que surgiram no ano 776 A.C., e se repetiam de quatro em quatro anos, durando milhares de anos. As instalações desportivas edificadas permitiam acolher um vasto público. A famosa cidade grega Olímpia podia acolher quarenta mil pessoas. Sabe-se que os atletas eram acompanhados pelos “fans”, que os encorajavam durante as competições. Mas é preciso esperar pelo fim do século XIX e início do século XX, com o estabelecimento do desporto moderno, para que se estabeleçam estes dois fenómenos.
 

A noção de desporto é um saco vazio que cada um enche como quer. As definições desta atividade não se simplificaram com a chegada de novas práticas, jogging, práticas “californianas”, “livres”, “fun”, “de deslize” (em água ou na neve) “desorganizadas”, “auto-organizadas”, “selvagens” que se vieram juntar às modalidades federadas tradicionais. O mesmo se passa para o turismo. Os diferentes Observatórios, nacionais ou internacionais, têm dificuldade em identificar os limites e estabelecer uma definição. Distinções subtis são propostas entre turismo e excursão. Os tipos de turismo simples na origem (de vilegiatura e de negócios) tendem a se multiplicar e a desmultiplicar (religioso, de memória, cultural, gastronómico, etc.), cada um podendo comportar um certo número de nichos, mostrando a riqueza desta atividade, que consiste, antes de mais, a deixar o domicílio habitual por um lugar mais ou menos afastado e por uma duração mais ou menos longa, que se vai encontrar com um certo número de pessoas que nunca se teriam conhecido em outras circunstâncias (salvo se integrarmos o turismo virtual na definição, no qual é possível “fazer turismo” sem sair da sua sala, a viagem se efetua pelo écran da televisão ou por computador). De facto, estas duas palavras abrangem múltiplas realidades e, por isso, é muito delicado em se apresentar uma definição, um só sentido aos termos.
 

O turismo desportivo não tem uma tradição na história das férias, do turismo ou do desporto. É um produto com contornos vagos. Na maioria dos países ocidentais, o interesse pelo turismo desportivo nasceu de um duplo movimento. O primeiro, é a associação e a crescente integração de práticas e representações tradicionalmente veiculadas pelo desporto como uma atividade de lazer em produtos turísticos. O segundo, caracteriza a amplificação social do lazer desportivo que se funda cada vez mais em práticas sociais, escapando assim ao quadro espaço-temporal do universo desportivo. O turismo desportivo parece fazer parte de um processo original de cruzamentos, mas que se encontra em evolução.
 

A participação em grandes eventos desportivos (Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo, etc.) combina o turismo com serviços desportivos, mesmo que o consumidor seja passivo. Outra categoria de observações combina desporto e turismo num destino de férias. Outras reflexões centram-se na visita de lugares culturais relacionados com o desporto: museus, monumentos, instalações desportivas, atrações. Entre estas categorias de observações, existe um elemento comum: a associação ou combinação do termo "desporto", ou pelo menos elementos do desporto, com os serviços de turismo.
 

O desporto assume um lugar importante no imaginário das pessoas. Quando se pergunta “o que procura durante as suas férias?”, o desporto tem um lugar de destaque, após o descanso e bem-estar, o descobrir as regiões, visitar os monumentos e os sítios históricos. As respostas são homogéneas, quer nos homens, quer nas mulheres. O golfe, o ténis, a vela, as atividades de risco são algumas das modalidades desportivas plebiscitadas. As práticas desportivas durante o tempo de férias são apontadas como momentos privilegiados para se fazer encontros ou de estar juntos e não apenas como um momento de solitude.

Vítor Rosa

Sociólogo, Pós-Doutorado em Sociologia e em Ciências do Desporto, Doutor em Educação Física e Desporto, Ramo Didática.