Vítor Machado Ferreira

OPINIÃO07.03.202205:30

Há um português (entre dez milhões) que não gostaria de estar na pele de Fernando Santos: eu. Escolher seis de 14? Nem pensar!

H Á dez milhões de portugueses e, muito provavelmente, dez milhões menos um gostariam de ser selecionadores nacionais de futebol. Deve ganhar-se bem e só em dez ou quinze jogos anuais (ou seja, menos do que as 24 horas de um dia) sentirão a pulsação a mil. Foi assim com todos. De Ribeiro dos Reis a Cândido de Oliveira, de Manuel da Luz Afonso a Otto Glória, de José Maria Pedroto a Mário Wilson, de José Torres a Artur Jorge, de Carlos Queiroz a António Oliveira, de Humberto Coelho a Luiz Felipe Scolari, de Paulo Bento a Fernando Santos. Quase todos, sobretudo dos anos 60 para cá, sentiram na pele a dificuldade de terem tantos e tão bons jogadores para poderem convocar.

I MAGINEM-SE, por momentos que seja, na pele de Fernando Santos. Cigarro na mão, ar matinal rabugento e uma folha de papel com uma série de nomes à frente: João Moutinho, William Carvalho, Danilo, Bernardo Silva, Rúben Neves, Renato Sanches, Bruno Fernandes, Sérgio Oliveira, Palhinha, Otávio, Matheus Nunes e agora Vitinha. Sobretudo Vitinha. Todos os outros são internacionais A e, ao lado ainda de Pizzi e João Mário, potencialmente convocáveis para a dupla jornada que aí vem (Turquia e talvez Itália/Macedónia do Norte). Mas e agora que aparece Vitinha em grande força. Ajudemos o selecionador nacional e escolhamos metade destes 14 médios. Sim, vai dar dores de cabeça. Acabei de estar dois minutos a olhar para a lista e não consegui tirar um nome que fosse (além do castigado Renato Sanches mas apenas para o jogo com a Turquia) Uma coisa parece-me certa (a mim, claro): sejam chamados seis, sete, oito ou nove, Vitinha tem de estar entre eles. Além disso, se olharmos apenas para o rendimento atual, talvez Vitinha tivesse de ser mesmo titular.

VITINHA tem tudo: visão de jogo, velocidade de pernas e de interpretação das diversas cambiantes de um jogo, técnica para colocar a bola, com precisão, a distâncias curtas e longas, remate forte de meia distância e, sobretudo, frescura física. Tem sido o dínamo do FC Porto líder absoluto da liga portuguesa e parece ser, de momento, o médio luso em melhor forma. Dentro e fora de Portugal. Poderá o facto de ter apenas 22 anos e não ter ainda jogado na Seleção A ser óbice a uma chamada para os jogos de final de março? É possível. Serão (se tudo correr bem) dois jogos de altíssima competitividade e Fernando Santos poderá optar por chamar somente os mais experientes. Também por isso haverá sempre um dos dez milhões de portugueses que não se sentiriam confortáveis em ter à frente uma folha em branco e 14 nomes para escolher seis, sete ou oito: eu. Façamos, no entanto, um pequeno exercício e escolhamos o melhor onze do momento, sem lesionados e castigados: Diogo Costa; João Cancelo, Pepe, José Fonte e Nuno Mendes; Bernardo Silva, Danilo, William Carvalho e Vitinha; João Félix, Diogo Jota e Rafael Leão. São 12? É pá, não me compliquem a vida. Nem a Fernando Santos.

M UDEMOS de assunto e continuemos no futebol. O Sporting melhorou quando juntou Paulinho a Slimani: um toureador e um matador. O português é muito bom jogador, mas não é um matador; o argelino é muito bom matador, mas não é um artista. Juntando os dois (a espaços, como no ar deixou Rúben Amorim) talvez o Sporting ganhe agressividade na frente sem perder criatividade. Talvez. É uma tese a precisar de confirmação. A verdade é que o Sporting tem apenas 49 golos marcados em 25 jornadas. Dá menos de dois por jogo. O ponto mais débil do leão de Amorim, tal como já o era na época  vitoriosa de 2020/2021 (65 golos em 34 jornadas).

T AMBÉM o Benfica melhorou quando colocou Gonçalo Ramos como titular, seja à frente ou ligeiramente mais atrás. É outra tese a precisar de confirmação. O futuro é imprevisível e, como tal, é necessário ver e rever Gonçalo Ramos como uma espécie de libero do ataque.


PS: aquele menino do FC Porto, o Vítor Machado Ferreira, joga mesmo muito, não joga? Qualquer dia está na Seleção A.