Ventos de mudança

OPINIÃO04.01.202205:30

Modelo vigente na arbitragem deve evoluir para algo semelhante ao que se faz em Inglaterra

A arbitragem portuguesa tem o mesmo modelo de gestão há vários anos. É um modelo que, convém sublinhar, decorre da lei e que, como qualquer outro, foi criado de forma pensada e bem intencionada. O problema é que começa a ficar ultrapassado. Já não serve às exigências crescentes do futebol de alta competição.
Todos sabemos que o jogo evoluiu muito nos últimos tempos. Mais do que os inevitáveis progressos tecnológicos, o futebol moderno está mais rápido dentro de campo e tem um estilo de jogo taticamente evoluído, com mais dribles, mais jogadas trabalhadas, mais golos sensacionais. Isso exige de quem o arbitra outros conhecimentos e competências, que só um trabalho constante, de grande intensidade e exigência, pode satisfazer.
A estrutura responsável pela arbitragem, dirigida por pessoas capazes e íntegras, tem que acompanhar esta transformação, tornando-se totalmente profissional e profissionalizando todos os seus maiores ativos: árbitros, árbitros assistentes, videoárbitros e staff que esteja totalmente dedicado ao futebol de topo.
Ao contrário do que se possa pensar, profissionalizar não significa pagar mais e achar que isso aumenta a qualidade ou que deixa as pessoas imunes a influências perversas. Profissionalizar significa dar tranquilidade. Significa compensar adequadamente a escolha pela exclusividade na carreira, oferecendo condições e tempo para que realizem trabalho sem sobressaltos nem preocupações colaterais.
É aqui que se percebe que o modelo vigente deve evoluir. E deve evoluir, por exemplo, para algo semelhante ao que já se faz há mais de vinte anos (?) na melhor liga do mundo. O que acontece em Inglaterra é muito simples: em 2001 foi criada uma empresa (a PGMOL), que é financiada pela Premier League, pela Liga Inglesa de Futebol (EFL) e pela Football Association (FA). A ideia subjacente à sua criação foi a de melhorar substancialmente os padrões da arbitragem inglesa.
Da sua administração constam ex-árbitros, mas também ex-jogadores e pessoas com sensibilidades diferentes do jogo, que podem contribuir à sua maneira para um maior sucesso das arbitragens. Os árbitros são profissionais, treinam e trabalham diariamente e reúnem-se (todos) duas vezes por mês. Têm acompanhamento próximo de cientistas e psicólogos, médicos, nutricionistas, preparadores físicos e fisioterapeutas. Nada é deixado ao acaso. Tudo é tratado de forma dedicada e independente. Absolutamente independente. Ao nível da comunicação - algo em que somos muito, muito fracos -, dispõem de vários canais onde explicam decisões, clarificam regras e mostram processos internos, de forma clara e absolutamente transparente. Promovem fóruns, interações com jogadores e adeptos, palestras e outras iniciativas didáticas, de sensibilização e aproximação ao exterior.
Este é o único caminho que faz sentido. É inevitável e vai acontecer, mais cedo ou mais tarde.