Uma taça está ganha e continuamos em primeiro lugar. Quem diria?

OPINIÃO28.01.202121:00

Depois da final da Taça da Liga, o Sporting teve um jogo calmo no Bessa. Venha o Benfica, sendo que um dérbi nunca se sabe como acaba

U ma célebre canção de Leonard Cohen tem a seguinte frase, como refrão (traduzindo em português): «Primeiro tomamos Manhattan, depois tomamos Berlim.» A ideia não foi clara para ninguém que ouviu a canção, mas o autor sempre foi muito claro nas respostas ao significado de tais palavras: «Significam o que lá está escrito.»
Esta clareza está, igualmente, nas palavras de Rúben Amorim. A Taça da Liga era um objetivo evidente, sobretudo depois da vitória suada e esforçada sobre o Porto, nas meias-finais da competição. Há uma semana escrevi aqui desejar que a final fosse com o Benfica, por preferir jogar com o original em vez da fotocópia. Mas a fotocópia derrotou o original na outra meia-final e calhou-nos o Braga, sábado passado.
Uma nota prévia para a Liga: se selecionam um estádio neutro para a final four, poderiam ter mais cuidado com o terreno que escolhem. O Estádio de Leiria, edificado na loucura das construções para o Euro-2004, não tem clube de primeira que jogue nele, e parece um batatal. Em qualquer jogo, mas sobretudo na final, foi pena não se poder desenvolver futebol de jeito naquele campo. Foi por isso natural que o jogo se tornasse mais feio e pesado, tendo sido resolvido com um golpe de génio de Pedro Porro, depois de um bom passe de Gonçalo Inácio. Esse 1-0 deu a conquista de Manhattan, falta a conquista de Berlim.
Achei, por isso, muito interessante que Rúben Amorim se referisse à vitória como algo que soube bem no momento, uma explosão de alegria para uma equipa de jovens, dos quais a maioria não tinha ganho nada a nível nacional, como seniores titulares. Parece-me ser esse o caso de Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Pedro Gonçalves, Tiago Tomás, Matheus Nunes ou Nuno Santos (este ganhou, teoricamente, um campeonato nacional pelo Benfica, tendo raramente jogado, por ser titular da equipa B). Foi saboroso, como afirmou o treinador do Sporting, mas hoje não sabe a nada. E é verdade, a taça está no museu, as medalhas penso que em casa de cada jogador e membros da equipa técnica, mas falta o mais difícil, que é tomar Berlim.
 

Salvador?

H Á salvadores de clubes que andam a salvá-los há mais de 15 anos. O presidente do Braga é um deles. Não tenho nada a opor, salvo fazer o reparo pela falta de educação do senhor. António Salvador devia escrever 100 vezes no seu caderno, que é tradição dar os parabéns a quem ganha. Por muito irritado e desgostado que esteja de o Sporting ter estragado a sua perspetiva de ganhar um título no centenário do Braga (que foi fundado e 19 de janeiro de 1921), não ter mais nada para dizer do que uma frase completamente despropositada, ligando a alegria dos jogadores do Sporting ao reconhecimento que o Braga era um dos grandes, uma equipa superior à de Alvalade, sinceramente é patético. Mas é com ele…
Mais razão teve Carlos Carvalhal ao tomar uma atitude que também é um pouco inédita, mas que se explica. Recusou receber a medalha correspondente ao finalista vencido. Porém, Carvalhal, tal como Rúben Amorim, tinha sido expulso por um árbitro (Tiago Martins) que tentou, sem êxito, ser a vedeta principal do jogo. Compreendo que Carvalhal, tal como todo o país, não entendesse por que motivo uma discussão compreensível entre dois treinadores, que aliás nada quer dizer (parece que Rúben chamou «papagaio» a Carvalhal, juntando algum vernáculo à frase, e que este devolveu em triplo o vernáculo). Enfim, não estando numa Igreja, nem em nenhum lugar Santo, não me parece que seja caso para expulsar dois treinadores de uma assentada. Toda a gente que sabe de arbitragem, assim como toda a gente que tem bom senso, percebeu que antes de qualquer expulsão era necessário tentar calá-los e fazer com que cada um se concentrasse no jogo.
Mas, a verdade, é que Rúben num jogo normal viu dois bracarenses serem admoestados com amarelo, ao passo que do seu lado foram seis, e um deles, Pedro Gonçalves, ainda levou um cartão vermelho por cima. Curiosamente, ainda, o árbitro viu uma falta que mereceu cartão amarelo a Jovane, quando a carga fora sobre Jovane, e compensou com uma falta para cartão amarelo cometida por Jovane (pisar o pé do guarda-redes do Braga) sem sancionar absolutamente nada. Enfim, o árbitro, como se diz eufemisticamente, foi infeliz. Ou seja, não presta, ou mais suavemente: não tem requisitos fundamentais para ser juiz de uma partida.
 

Sporting conquistou, em Leiria, a Taça da Liga, o primeiro título com Rúben Amorim

E mais uma habilidade 

O Sporting chegou, assim, anteontem ao Bessa privado de Pedro Gonçalves e com vários jogadores em risco de apanharem o quinto amarelo e não poderem receber o Benfica. O treinador arranjou as coisas, e o clube teve um jogo relativamente tranquilo (o terreno, melhor do que o de Leiria também não estava grande coisa, queria ver se o nosso clima fosse igual ao de Inglaterra, como se jogaria futebol). Uma abertura fantástica de Nuno Mendes, que parece ter voltado à forma do início do ano, permitiu um golo a Nuno Santos; golo anulado pela equipa de arbitragem, mas validada pelo VAR. O Boavista tentou resistir, mas, na verdade, Adán só teve de fazer uma defesa digna dos seus méritos. Depois, Pedro Porro, como já fizera na Taça da Liga, mas desta vez com direito a vénia e fanfarra, fez uma obra de arte a uns 30 metros da baliza, um tiro que entrou junto à barra, perto do poste. Sei lá, um daqueles golos que achamos que só se viam dantes; mas que felizmente continuamos a ver…
Dois minutos antes desse golo, Rúben tirou Nuno Santos e colocou João Palhinha em campo. Azar dos Távoras, não contou com Fábio Veríssimo, que tendo errado no fora de jogo no golo de Nuno Santos, pelas linhas do VAR, arranjou um modo de nos estragar o jogo: mostrou um cartão amarelo a Palhinha, que o impede de jogar contra o Benfica. Ouvi dizer que ele reconheceu o erro, mas não confirmei em lado nenhum. Se assim for, só lhe fica bem (veremos se chega para o cartão ser retirado). Entretanto, deixo as opiniões de alguns árbitros:
O nosso Duarte Gomes: amarelo mal mostrado. Jorge Faustino: mal exibido. Fortunato Azevedo: má decisão. Jorge Coroado: decisão absurda e estúpida.
Não deixo a dos comentadores, mas vão todas, ou quase, neste sentido. Fábio Veríssimo teve um momento infeliz (volto ao eufemismo) e manda a justiça dizer que o presidente do Benfica embirrou com ele no ano passado, dizendo que ele não poderia arbitrar mais. O que se passou? Foi enganado pelo ângulo? Não percecionou bem? Ou outras coisas que se poderiam dizer, talvez mais verdadeiras. Mas como vem na Bíblia, há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por mil justos que chegam.
E segunda-feira, que sendo 1 de fevereiro termina o mês mais difícil para o Sporting (Braga, Porto e outra vez Braga, além de Nacional, no batatal, Marítimo, Rio Ave e Boavista), segue-se o Benfica. Com ou sem Palhinha, com mais ou menos momentos infelizes, entra-se para ganhar. O Sporting já demonstrou que é capaz.
 

Superliga

A FIFA, juntamente com todas a federações e confederações continentais, proibiu qualquer ideia de Superliga de clubes milionários. Fico contente, porque assim escusamos de ter uma liga sem portugueses. Talvez se organizarem uma liga de clubes falidos possamos dar cartas e ser campeões.
 

Holter

O meu Holter de 24 horas, de que aqui falei a semana passada, revelou que estou bom do coração (pese o pico no segundo golo do Sporting contra o Porto). Segundo o meu consócio sportinguista, médico e amigo, posso viver até aos 100 anos. Duvido. Mas caso viva,  espero ver ainda uns campeonatos ganhos pelos Leões. É que vi poucos, apenas nove (e de um deles não me posso lembrar, porque tinha um ano, mas sabe-se lá o que senti).