Uma maravilhosa surpresa cor de rosa

OPINIÃO09.10.202004:00

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Desta vez não há espaço para mais ninguém. Enfrentamos uma maravilhosa surpresa cor de rosa.  Até à passada semana quase não havia quem soubesse que em Caldas da Rainha nascera, há 22 anos, um rapaz com o nome da João, João Almeida.  Ninguém pode garantir qual virá a ser o seu futuro ao mais alto nível do ciclismo de elite. Só uns raros conhecem o seu passado. Quase todos vibram com o seu presente. Haja o que mais houver: Obrigado João!

Os elefantes não escolhem onde morrer

Desde meados do século XIX que a literatura viática contribuiu para a divulgação dos chamados cemitérios de elefantes. Ou seja, uma mítica e inesgotável fonte de marfim, que repousa secretamente oculta. Uma vez em curso a chamada Partilha da África, a fantasia em torno desse sepulcral manancial de marfim não foi obliterada pela realidade colonial. Assim, desde o segundo quartel do século XX, nomeadamente com o advento do cinema e das suas fitas repletas de aventuras, que o imaginário colectivo delirou com a progressiva e inesgotável revelação de riquezas infinitas e ainda ocultas. Outros, sim, cumpridas as duas primeiras décadas do milénio, vivemos tempos em que um bicho, de tão pequeno que não pode sequer ser vislumbrado pela mais potente das ópticas humanas, desafia sozinho todas e cada uma das nossas vidas, ao mesmo tempo que são anunciadas, em cadência impagável, dezenas, quando não centenas, de milhões  de euros na aquisição de astros desportivos. Há só um problema que subsiste em ambas as utopias: tanto a demanda  dos cemitérios de elefantes como a conquista dos sucessos gloriosos são sonhos que só se mostram nos sonos. Isto é, enquanto se dorme. O tempo em que nada pode ser feito.

Entrevista imaginária

- Pareceu-lhe justo o resultado final?
- Mas que conversa é essa? Sou algum bronco de endrominar? Respeitinho, está a ouvir, ou será que além de ser um mentecapto também sofre de problemas auditivos? Vou dizê-lo outra vez, agora mais devagar, a ver se você percebe isto de uma vez por todas: res-pei-ti-nho, porque quem não se dá ao respeito logo de princípio tem depois de o comprar muito mais caro. Mas que raio lhe acertou na nuca?
- Bem, considerando que a outra equipa teve mais tempo de posse de bola, mais remates enquadrados com a baliza e mais oportunidades de golo, parece-me óbvio que mereceu a vitória…
- Cale-se! Primeiros: se acha que já sabe tudo isso para e porque é que ousa questionar-me sobre estatística? Por acaso nunca vi, na vida inteira que levo dedicada em exclusivo ao futebol, jamais vi, dizia, alguma estatística marcar ou evitar um golo. E você já viu? Vamos, diga lá, seja um homenzinho e confesse: viu ou não uma qualquer estatística marcar um golo?
- Bem eu…
- Agora fique caladinho que estou eu a falar! E não lhe admito que tente interromper-me de novo!
- (…)
- Muito bem. Então é assim: mérito e justiça não são, não são mesmo, sinónimos. E nós até podemos ter merecido perder, mas a derrota, essa maldita vagabunda cultora dos maus costumes, ofende de forma vil e soez os princípios e a essência da justiça correctiva.
- De que é que estamos a falar? Agora sinto-me completamente perdido…
- Naturalmente. É o que sucede a quem não conhece o seu destino. E por hoje chega de perguntas. Quando tiver tempo e paciência tentarei voltar a aturá-lo.