Uma decisão a rebentar

OPINIÃO Uma decisão a rebentar

OPINIÃO28.05.202409:00

Conquista da Taça reforçou mensagem de Sérgio mas revelou desconforto de AVB

Se Geny Catamo fez uma assistência involuntária para o início da reviravolta portista na final da Taça de Portugal, o termo utilizado pelo presidente do Sporting em ambiente informal, dias antes do jogo, foi passe em profundidade convertido em mote oficial para a festa azul e branca. Expectável, claro, ainda que ninguém tenha rebentado com ninguém no Jamor. O que é positivo, tendo em conta o ambiente bastante saudável em que decorreu a decisão da prova-rainha. A festa não esteve isenta de incidentes, nomeadamente com adeptos, mas o balanço revela-se positivo se tivermos em conta a elevação generalizada dos verdadeiros protagonistas, dentro e fora do campo. Honra aos vencedores e aos vencidos por terem sido dignos da prova-rainha.

No que ao jogo diz respeito, a expulsão de St. Juste inverteu a tendência de um Sporting com mais bola, ainda que até então o domínio tenha sido sobretudo aéreo, ilustrado no golo inaugural do neerlandês. Sagaz a aproveitar os erros alheios, o FC Porto encontrou no tal corte atrapalhado de Geny Catamo o caminho mais curto para chegar ao empate.

Amorim fez o que tinha a fazer para ajustar a equipa, colocando Pote e Trincão como interiores, à frente de Hjulmand, numa espécie de 5x1x2x1 que forçava a equipa de Sérgio Conceição a jogar por fora, onde só o filho Francisco criava perigo. Os leões não conseguiam estabelecer ligação a Gyokeres (grande jogo de Zé Pedro), mas pareciam suficientemente sólidos para segurar o fogo do dragão até aos penáltis, só que o peso nas pernas voltou a revelar-se sintoma do nervosismo de Diogo Pinto, e o segundo choque com Evanilson transformou a redenção em castigo máximo.

Taremi deu a Taça ao FC Porto e ao mesmo tempo que beijava o símbolo aumentava o tamanho da porta de saída. Para ele e para Sérgio Conceição, que não disse adeus com todas as letras mas aproveitou mais uma conquista para reforçar o discurso que já tinha lançado na véspera. Sempre em jeito de balanço de sete anos no cargo, o técnico puxou para si a decisão relativamente ao futuro, ainda que tenha adiado o anúncio formal para depois da prometida conversa com o novo presidente. Se, até aqui, nenhuma das partes tinha feito questão de dar o primeiro passo, o que alimentou a ideia de separação à vista, agora Sérgio tomou a iniciativa, mesmo deixando o ónus por atribuir.

André Villas-Boas tem exibido assinalável jogo de cintura para evitar um ataque ao legado de Pinto da Costa enquanto reprova a administração dos últimos anos — como se o líder cessante fosse alheio a certas questões —, mas já não conseguiu esconder o desconforto no relvado do Jamor quando teve de fugir mais do que uma vez às perguntas sobre a decisão reclamada por Sérgio Conceição uns metros ao lado.

Na tribuna do Jamor o trio juntou-se para erguer a Taça. Dentro em breve a decisão vai rebentar.