Uma comparação com a Holanda

OPINIÃO20.12.201803:00

O trabalho de Marcel Keizer no Sporting está a ser positivo não apenas por ter revolucionado o futebol do Sporting mas também pela discussão interessante que começa a promover: a comparação do campeonato português com o holandês. Em qualidade (tática/estratégia), o futebol em Portugal é melhor e o desempenho das três/quatro equipas lusas de topo nas competições europeias é, globalmente, superior ao das holandesas do mesmo nível. Mas quando olho para as assistências na Eredivisie e constato que clubes de pequena dimensão têm médias entre os 10 e os 15 mil espectadores nos seus estádios questiono-me sobre o que realmente se pretende para uma competição: bons jogos de risco calculado para minorias ou um futebol pueril, ingénuo e aberto para uma multidão?

Em dez eliminatórias, um FC Porto Benfica ou Sporting, em boa forma, eliminariam um dos dos grandes holandeses em sete vezes, mas não posso dizer o mesmo de possíveis confrontos entre o Willem II e o Tondela. Quero com isto dizer que o maior problema do nosso campeonato está nos desequilíbrios financeiros e na cultura desportiva que premeia mais o resultado que a estética. O adepto comum em Portugal gosta ainda mais do seu clube que de futebol.  E se quiser ver espetáculo vê a Premier League.

No nosso campeonato já não vemos muitas goleadas dos grandes aos pequenos mas nos jogos entre pequenos temos bancadas vazias. Em 2017/2018, 10 dos 18 clubes da Liga tiveram médias inferiores a cinco mil espectadores; na Holanda houve apenas um (Excelsior, o 18.º, com 4.200). Ganhamos dentro de campo, mas perdemos fora dele. O ideal de um campeonato de um país de média dimensão europeia talvez fosse uma fusão destas duas realidades. Keizer pode dar uma ajuda a médio prazo.