Uma carta para o dr. Proença

OPINIÃO14.07.202306:32

Que tal homenagear o saudoso Manuel do Laço e eleger o ‘público do mês’ como se elege o treinador e o jogador do mês?

S E o nosso director for nisso, hoje na nossa colaboração quinzenal no mais antigo, e mais lido, jornal desportivo português como é A BOLA, quase se pode dizer como o prontuário mais folheado do País e, sobretudo, no futebol, desde o trabalho pioneiro do inesquecível Cândido de Oliveira que, além dos seus conhecimentos do jogo da bola, mas sempre bem redondinha, abriu as portas da Travessa da Queimada a nomes dos mais brilhantes do jornalismo (e foram tantos, que não temos a coragem de os enumerar para não falhar nenhum, ficando pelos inesquecíveis Vitor Santos, que nos tratava por menino, tal como o Carlos Pinhão, que ternamente gostava de nos tratar por Quim.

Se o nosso director for nisso, dizia eu, apesar de todos os nossos receios de ouvir um «tenha juízo» do director João Bonzinho, causa-nos algum nervoso miudinho não poder usar este cantinho para lançar um desafio/convite ao presidente da Liga Portuguesa do Futebol Profissional, dr. Pedro Proença, antigo e reputado árbitro que testemunhámos a actuar nos relvados nacionais.

Por isso, não há como correr o risco e aqui vai o recado para o senhor presidente.

O dr. Proença certamente que já não se lembra deste velhinho (a foto em cima engana muito), mas na verdade fomos mesmo um daqueles que durante mais de meio século tivemos de carregar com o procurar separar os bons dos maus que corriam atrás de uma bola.

Foram 50 anos em que vivemos, como poucos, o grande fenómeno do futebol, desde o tempo em que ele era um desporto e não uma actividade empresarial.

Fomos jornalistas, até fomos directores de três jornais; fomos dirigente desportivo e tivemos de suportar a presidência de uma Comissão Administrativa (1977) do Leixões Sport Clube, quando não havia ninguém com disponibilidade para presidir a um clube sem dinheiro e na iminência de descida de divisão.

Por isso, senhor dr. Pedro Proença, sabemos bem do que futebol gasta, e no que presentemente mais nos preocupa é que começa a perder fregueses. O dinheiro está a estragar tudo e, ainda por cima, neste momento, estamos a levar nos olhos com areia do deserto das Arábias.

Mas vamos ao que interessa, porque o espaço começa a encolher.

Senhor dr. Proença, agora que vai começar mais uma época, há a preocupação que o dinheiro ainda venha a assanhar as multidões e os próprios profissionais que calçam chuteiras.

Há que atenuar e se possível travar de forma eficaz os desmandos do público, com uso e muito abuso de artefactos pirotécnicos e outros exageros, com claques cada vez mais impetuosas, bastando passar os olhos, todas as semanas, pelo comunicado do Conselho de Disciplina.

E nada melhor, pensamos nós, homenageando o adepto-modelo que foi o saudoso Manuel do Laço, recentemente falecido, do que premiar o público mais amigo do futebol, dando mais uma tarefa aos delegados da Liga de nos seus relatórios dos jogos terem uma linha sobre o comportamento do público (da casa e do visitante), através duma pontuação, para nomear o ‘público do mês’, tal como a Liga faz dos melhores futebolistas.

E, já agora, aqui fica o alvitre de nos jogos da 1ª. jornada da Liga se guardar um minuto de silêncio por Manuel do Laço, anunciando o acto, para que o mesmo ajude ao futuro bom comportamento do público que vai à bola. Seria bonito.

Mas há mais, senhor presidente: temos de assistir a um esforço para que o futebol não seja jogado com as mãos e os braços, como está a ser um exagero; que tenhamos de assistir às qualidades teatrais de alguns futebolistas, encenando faltas graves, que por dá cá aquela palha se passe o tempo com o jogo parado, ao mesmo tempo que os senhores árbitros, já como começa a ser bom hábito, prolonguem os jogos pelos reais minutos perdidos durante os 90 da praxe.

Aqui fica o nosso alvitre de quem ama e já viveu do futebol. Velho e cansado, gostaríamos de ainda termos tempo de voltar a ver o futebol que Cândido de Oliveira tanto gostava de ensinar.