Uma bonita e original versão de amor paternal
O filho
Como é por todos sabido, Zinedine Zidane acaba de retornar ao Real Madrid. No pretérito domingo, em partida a contar para a 29.ª jornada da Liga espanhola, mas apenas a segunda após o seu regresso, o clube merengue sofreu atrozmente para conseguir derrotar, em casa e pela margem mínima (3-2), o Huesca, último classificado.
Dado o impedimento de Thibaut Courtois, por lesão, o técnico francês decidiu-se por lançar o seu filho Luca como guarda-redes titular do clube que exibe a maior colecção de títulos e troféus do globo. Opção essa que implicou obrigar Keylor Navas a sentar-se no banco de suplentes. Explica o técnico gaulês: «O Luca não jogou por ser meu filho. Lancei um jogador do Real Madrid. Em casa vamos falar, mas achei que era uma boa oportunidade. Penso que esteve bem, tem caráter e personalidade. Não vou falar como pai, interessa-me falar como treinador. Não tem medo e isso agrada-me».
Não tendo quaisquer motivos ou indícios para duvidar da sinceridade de tais palavras, subsistem, ainda assim, duas dúvidas:
(I) Algum outro treinador seria capaz de tal opção naquela concreta circunstância?
(II) Se Luca não fosse filho de quem é, o treinador Zidane tomaria a mesma opção?
Seja como for, aqui fica uma bonita e original versão de amor paternal.
O afilhado
No ano de 2018 Esteban Ocon era piloto oficial, aliás talentoso, da equipa de Fórmula 1 Racing Point Force India.
O empresário de Ocon é Toto Wolff, o mesmo sujeito que é também o responsável máximo da Mercedes, actual campeã do mundo da disciplina.
A Racing Point foi entretanto alienada.
Stroll, Lawrence, o novo dono, escolheu Stroll, Lance, seu filho, para o lugar de Ocon.
Em consequência, Toto Wolff assegurou que Ocon iria gozar um período de licença sabática até encontrar novamente um lugar na Fórmula 1, presumivelmente em 2020. Até lá, ficará o pobre do Esteban Ocon desocupado? Não propriamente. Assumiu, para já, o papel de piloto de testes numa modesta e quase desconhecida equipa denominada… Mercedes. Exacto, aquela mesma formação que é dirigida por Toto Wolff, ou seja, o seu padrinho, perdão, empresário. Todo este processo decorreu sem a mínima sombra de qualquer putativo impedimento ou eventual incompatibilidade. Tudo claro como água. Mais transparência provocaria uma cegueira fulminante. Sucede isto num desporto onde até o tamanho e feitio de uma irrelevante porca é objecto de exaustiva e minuciosa regulamentação. Mas, lá está, isso é uma coisa e outra, bem diferente, é o amor de um padrinho por um afilhado.
VAR, ver & mostrar
Mantenho-me fielmente a favor do VAR. Sabendo de antemão que não é solução infalível nem garante de imunidade contra o erro. Porque, por mais potente e sofisticada que possa ser a tecnologia, no fim da linha estará sempre o critério humano.
Quando nos lembramos que a UEFA e a FIFA proibiam a exibição de imagens referentes a lances polémicos, tem de se reconhecer que muito de bom caminho foi já percorrido. Claro que ainda não se chegou ao ponto já alcançado pelo râguebi, nomeadamente pela audição pública dos diálogos entre os juízes de campo e os videoárbitros. Mas há que reconhecer que a tendência seguida no futebol é a mais acertada. Um exemplo: a associação inglesa de futebol anunciou que os adeptos presentes nos estádios ingleses durante as meias-finais e a final da Taça de Inglaterra vão poder assistir às imagens referentes à reversão de uma decisão da equipa de arbitragem. Como diria Bernard Baruch, antigo especulador financeiro e conselheiro presidencial americano, «todos têm o direito de se enganar nas suas opiniões. Mas ninguém tem o direito de se enganar nos factos».