Um monstro chamado penálti
Como se justifica que seis árbitros (em 20) tenham média de faltas superior a 35 por jogo?
H Á uma tendência para se dizer que quem está deste lado tem uma visão demasiado restritiva dos lances. Cada toque é penálti, cada choque é falta, cada cheirinho é irregular.
A acusação, a ser verdadeira, fazia todo sentido. O que todos queremos é que a bola role e que o jogo não páre por tudo e por nada. E o que queremos é distância dessa posição lesa-futebol, que desinforma pessoas e só contribuiu para discursos tóxicos. Mas há aqui algo que deve ser pensado em conjunto: se o futebol é para ser jogado no limite, se as análises exteriores tendem a ser demasiado minuciosas em certas zonas do terreno, se o jogo pressupõe dureza até ao limite... como é que se justifica que a média atual de faltas, na nossa Liga, seja de 32,5? Como é que se justifica que até 30 de dezembro de 2020 tenhamos colocado 6 jogos no top-8 dos que têm mais faltas na Europa? E como se justifica que seis árbitros (em 20) tenham média de faltas superior a 35 por jogo?
Sabiam que no Farense-P. Ferreira foram assinaladas 48 infrações? E 46 no Boavista-Benfica? E 45 no Nacional-Boavista? E 44 no Marítimo-Nacional? E 44 no Sporting-P. Ferreira? E 44 no Sporting-Farense?
Não são os comentadores, jornalistas ou adeptos que apitam para as faltas. O seu papel, importante, não tem impacto nas decisões, porque quando começam a opinar, o jogo já acabou. Claro que há análises técnicas distintas e que ninguém é infalível, mas o que é escrito e/ou falado baseia-se na experiência, conhecimento e sensibilidade. Concorde-se ou não, goste-se ou não, o que se diz e escreve é coerente com o que se interpreta.
O que não é coerente é pedir-se amplitude de avaliação em lances nas áreas, para depois punir-se tudo o que mexe fora delas. O que não é coerente é exigir interpretações mais práticas, mais terrenas, para depois se assinalar um número surreal de infrações.
O jogo, em Portugal, tem demasiadas faltas sim. E tem não apenas porque existem arbitragens mais defensivas, mas porque culturalmente o jogador português gosta de dramatizar a queda, criar o conflito e protestar a decisão. É como é e é assim. Há muita reflexão para fazer nesta matéria e muitos passos para dar rumo a um jogo mais apelativo. Só não me venham com a história que a culpa é de quem comenta. Tenham santa paciência.