Di María ganha lance a Francisco Moura, no clássico da volta, que terminou com a vitória do Benfica por 4-1, no Estádio da Luz
Di María ganha lance a Francisco Moura, no clássico da 1.ª volta, por 4-1 (Foto Miguel Nunes)

Um clássico vale sempre mais que três pontos

OPINIÃO03.04.202506:50

Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal

Esta semana torna-se impossível contornar o tema do clássico a jogar no próximo domingo que coloca frente a frente FC Porto e Benfica. Ainda que a matemática do campeonato dite que um clássico vale os mesmos três pontos que qualquer outro jogo, a verdade é que o seu peso vai muito além da tabela classificativa.

Um clássico é uma prova de fogo para a estabilidade emocional dos atletas, transporta rivalidade histórica, identidade cultural e simbolismo emocional. Trata-se de um contexto de exigência máxima, onde a capacidade de regulação emocional se torna tão ou mais determinante quanto a preparação física ou tática de qualquer atleta. A pressão de um clássico é sempre intensificada  pelas as bancadas em êxtase e pela atenção mediática dos meios de comunicação social.

Neste caso o próprio momento do campeonato e o percurso realizado pelas equipas na presente época são fatores de pressão adicional e que aumentam não só pressão social percebida como consequentemente o stress competitivo. É verdade que as equipas se encontram em momentos distintos, mas a vitória é de extrema importância para ambas e aqui não é só uma questão emocional.

O Benfica está na luta pelo título e qualquer falha neste momento pode comprometer essa ambição (o que claramente é um fator de pressão extra), mas não deixa de ser evidente que se encontra na melhor fase da época desportiva, com um plantel qualitativamente superior ao adversário e com uma memória do último encontro onde se superiorizou com a vitória de 4-1.

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Por outro lado, o FC Porto atingiu finalmente as duas vitórias consecutivas na era Martín Anselmi, encontra-se a nove pontos da liderança do campeonato, matematicamente não é impossível ser campeão, mas só a conjugação de um grande Porto com um desaire gigante quer na Luz quer em Alvalade lhe permitia lá chegar. Mas também para o FC Porto estes três pontos não são de menos importância, pois garantir o terceiro lugar é relevante para a próxima época do clube. Além disso, a vitória no clássico seria um reacender da chama e uma forma de reafirmar a alma portista que por vezes tem parecido adormecida.

Neste tipo de encontros de elevada pressão, a regulação emocional torna-se um fator determinante para o desempenho coletivo. Quando os atletas não conseguem gerir eficazmente os seus estados emocionais, é comum surgirem manifestações de ansiedade competitiva, tanto a nível cognitivo como somático. Esta ansiedade interfere diretamente na tomada de decisão, na concentração e na execução técnico-tática, comprometendo a performance individual e, por consequência, a dinâmica da equipa. Além disso, num jogo onde o erro pode ser amplificado pela carga simbólica do adversário e pela exposição mediática, o impacto da ansiedade não regulada tende a propagar-se entre os elementos do grupo, afetando a coesão e o rendimento global.

Além disso, também a gestão emocional de treinadores e equipas técnicas revelam aqui um papel crucial. A forma como gerem a sua emoção e comunicam antes e durante o jogo pode ajudar a baixar a tensão ou, pelo contrário, aumentar a pressão. Um discurso emocionalmente equilibrado, que reforce a confiança e minimize o medo de falhar, contribui para que os jogadores entrem em campo com a mente limpa e o coração no lugar certo. Quantas vezes ouvimos falar em jogo de nervos, na verdade deveríamos falar em jogo de gestão de nervos, pois é na forma como atletas e equipas técnicas gerem a pressão destas circunstâncias que se pode fazer a diferença em momentos cruciais do jogo.

Um clássico vale sempre mais que os três pontos a contar para a tabela classificativa, reforça da identidade e consiste em uma demonstração de força e vitalidade dos clubes.  Além disso, coloca à prova tudo o que há de mais humano no desporto: o domínio da emoção, a força mental e a capacidade de manter a cabeça fria quando tudo em volta ferve e, é exatamente desta força mental que os verdadeiros talentos são feitos.

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