Transferências e governança
O tempo não se compadece com vícios antigos e exige outra mentalidade para conseguir melhor saúde financeira
SÃO inúmeras as situações em que a circulação de verbas elevadas atinge tal pulverização que se torna muito complexa, acabando por não se poder conseguir acesso a valores que têm de ser transparentes, sem hipótese de fuga fiscal, dificultando saber quem recebeu e quanto. Também as SAD, como todos os negócios, devem apresentar as realidades do seu capital social, despesas, investimentos e lucros. O nosso futebol ganhará maior prestígio se, além de apresentar mais qualidade, apresentar contas em dia, potenciando transparência, reforçando ativos e valorizando a marca com imagem a internacionalizar-se. O tempo não se compadece com vícios antigos e exige outra mentalidade para conseguir uma saúde financeira que permita estabilidade e confiança. Portugal, no futebol e não só, tem de aperfeiçoar o paradigma das contas certas e auditadas com rigor.
O próprio governo e as entidades que tutelam o futebol só se prestigiam se exigirem pormenorizadamente a situação económica dos clubes. O futebol tem de acumular valor que possibilite negócios de ocasião, porque tem bases para o conseguir. Essas exigências devem ser partilhadas pela FIFA, UEFA, respetivas Federações e Ligas nacionais. Por outro lado, o prestígio do nosso futebol passa também por uma análise cuidada em que alguma comunicação social acaba por «meter golos na própria baliza». Há programas de televisão que, muitas vezes, funcionam como adversários do jogo, com fanatismos intoleráveis, conseguindo grandes audiências mas destruindo possibilidades de melhor e imprescindível futuro. O tempo confirmará se não houver alteração significativa! Quanto aos diretores de comunicação, em particular dos três grandes, ou se muda o conceito ou então caminhamos para uma degradação acentuada que não beneficia e apenas semeia tempestades perfeitamente dispensáveis que, por vezes, ferem os próprios interesses. Ao futebol deparam-se vários caminhos, de entre os quais: um que procura visibilidade a qualquer custo e outro que consegue alicerçar, com inteligência, persistência e boa governança prestígio reconhecido.
O tempo das polémicas e suspeições para abrir noticiários já perdeu o lugar e os que insistem nessa estratégia também se afundam em conjunto. Quem não entender que o tempo não pára não deveria estar no futebol. Hoje exige-se uma visão global renovada e com saúde financeira como objetivo obrigatório, para se tornar mais atraente para grandes investidores. O futebol e o desporto em geral não podem estar associados à violência, aos insultos sistemáticos, ao clima de guerra sem sentido, mas evidenciar a segurança e permitindo a famílias e adeptos usufruírem esse espetáculo emocional que só o jogo consegue. Convém saber aceitar os resultados, sem frustração profunda, sempre mantendo o clubismo, ou seja, mantendo o apoio constante em segurança, em qualquer resultado. Assim se construíram grandes referências (jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes…) e se deve continuar a destacar quem é exemplar. Nos resultados menos favoráveis é quando a equipa mais precisa do apoio da sua família. Sabemos que o futuro está nos escalões de formação, onde treinadores qualificados vão trabalhando com os jovens jogadores para, o mais breve possível, estarem aptos a integrar a equipa principal, no prazo mais curto possível e com o apoio imprescindível de especialistas de scouting e do comportamento.
DESGASTE PARA REFLEXÃO
NO prazo de 24 dias o FC Porto realizará 8 jogos de várias competições (Taça de Portugal, Campeonato, Liga Europa). Claro que os jogadores são profissionais e têm de estar preparados para essas fases mais densas em termos competitivos. Mesmo com especialistas de recuperação física e psicológica, com jogos praticamente de 3 em 3 dias, o esforço é intenso e, por vezes, as equipas oscilam por cansaço ou porque eventuais lesões demoram mais tempo a superar. O que acontece com o FC Porto também se passa com outros clubes que ainda estão em provas europeias (Sporting, Benfica e Braga). Para o País são importantes os resultados favoráveis e as receitas para os clubes, mas talvez seja o momento de planificar melhor os quadros competitivos, pois a esses quatro clubes, ainda em provas internacionais, o que se lhes exige é muito mais do que aos outros e por isso devem enquadrar-se os jogos da melhor forma, caso contrário o excesso acaba por penalizar quem mais se esforça, quem mais investe mas também quem recupera menos em mais quantidade de jogos. Assim surgem resultados inesperados, porém basta uma lesão, uma acumulação de amarelos ou um vermelho para, após um jogo europeu, ter de mudar o chip e tentar voltar a dar o máximo. Não é fácil mas é urgente refletir, pois são esses clubes que contribuem para o ranking do futebol europeu, e também os que sofrem maior desgaste pela carga física e emocional. Estudar com atenção possibilidades de calendarização mais justas para todos é desígnio nacional.
DESTAQUES DA JORNADA
OFCP foi a Alvalade vencer por 2-1 o Sporting, na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal, no dia 3 deste mês. No dia 6, os azuis e brancos foram a Paços de Ferreira vencer por 4-2 e no dia 9 o dragão perdeu com o Lyon por 0-1 e sofreu um erro decisivo do árbitro espanhol, ao anular grande penalidade ao FC Porto. Os reduzidos tempos de recuperação entre jogos deveriam merecer maior atenção nos calendários nacionais. Em França confiamos que o FCP poderá surpreender o adversário. Distinguiram-se o Estoril pelo empate em Barcelos, a vitória do Marítimo no Moreirense, o bom trabalho de Mário Silva no Santa Clara. O Tondela venceu o Mafra na primeira mão da meia-final, por 3-0, prestes a garantir um lugar na final do Jamor.
FC Porto foi derrotado no Estádio do Dragão pelo Lyon e terá de ir ganhar a França
GRANDES COMPETIÇÕES
AUEFA dá apoio à candidatura ibérica para o Mundial-2030, anunciada pelos dois países em 7 de outubro de 2020. Dessa forma, e como a UEFA pretende apenas uma candidatura europeia, o Reino Unido foca os seus interesses na candidatura para o Euro-2028, aglutinando os esforços de Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte. Esse Europeu vai ser um regresso ao modelo anterior, que a pandemia obrigou a pulverizar por locais muito dispersos, o que causou condições divergentes em vez de um formato idêntico para todos.
Na próxima edição da Liga das Nações a seleção espanhola recebe a de Portugal, em Sevilha, a 2 de junho. Para além dessas seleções, o grupo 2 integra também a República Checa e a Suíça. A segunda jornada ocorrerá dia 5 de junho e a terceira jornada, quatro dias após a segunda jornada (9 de junho). Portugal foi o vencedor da primeira edição (2018/2019) e a França venceu a segunda edição (2019/2020).
Continua a insistência na Superliga, agora com versão renovada e admitindo duas séries, com 20 equipas cada, com subidas e descidas, embora a UEFA mantenha a ideia de que não é um projeto de futebol, porque ficam fora das competições já existentes. O presidente da Liga espanhola é mais contundente e considera os clubes que persistem nesse projeto, como uma enorme «mentira», apesar do presidente da Juventus afirmar que a Superliga não falhou e de ainda estarem vinculados ao projeto onze clubes. A liberdade para organizar essa competição pode ser uma possibilidade, mas convém recordar que impossibilita os participantes da Superliga de integrar as competições da UEFA.
REMATE FINAL
— Diogo Costa desde cedo se revelou predestinado para a baliza. Compleição física à medida dos grandes guarda-redes, lidera a organização defensiva, excelentes reflexos, sempre na trajetória da bola e eficaz a lançar o ataque rápido da equipa. Muito inteligente na organização tática, lidera posicionamentos, mantém tranquilidade e faz defesas seguras. Calmo, muito atento e com bom jogo de pés. Equilíbrio emocional exemplar. Certamente aprendendo muito com Marchesín, um dos melhores guarda-redes do mundo.
— Abel Ferreira conquista novo título para o Palmeiras, desta vez alcançando o seu quarto título: 2 Taças dos Libertadores, 1 Taça do Brasil e a Recopa Sul-Americana.
— A fatura com as multas provocadas pelos desacatos dos adeptos leoninos, nesta época, já atingiu os 200 mil euros e seria melhor conseguir parar, para evitar eventual interdição de Alvalade por efeito do lançamento constante de engenhos pirotécnicos.
— Nos Jogos Paralímpicos de Pequim, o Comité Paralímpico Internacional, em função da ameaça de desistência de vários países, foi obrigado a não admitir a participação dos russos e bielorrussos. Apoiar ucranianos é tarefa universal.