Têm azar, pois têm!  Mas jogam mal, pois jogam!

OPINIÃO07.11.201903:00

Isto já andava mal; a vitória por 3-1 ao Guimarães e depois, embora jogando bastante mal, por 2-1 ao Paços de Ferreira (aquele penálti foi das coisas mais sem jeito que se viu) fez diminuir, que não amainar, a tempestade. Afinal Silas não perdera qualquer jogo para o campeonato. E assim chegámos a Tondela onde a derrota por 0-1 com os locais fez de novo abanar todas as estruturas do clube.

O Sporting jogou mal? Tendo em conta o que se tinha visto, não foi, longe disso, o seu pior jogo. Teve azar? Sim, se considerarmos azar não termos um ponta de lança, um avançado ou alguém que jogue na área e saiba marcar golos em vez de os desperdiçar. Jogam mal? Esta é a resposta mais simples: Sim! Jogam mal. Jogam com elementos que não davam nem na equipa B. Jogam com jogadores que não sabem ao certo o seu papel no campo. Jogam sem fio de jogo. Jogam um pouco ao calhas, como se 11 elementos se encontrassem por acaso e decidem fazer uma peladinha.

A culpa será de Silas? Não faço ideia. Na verdade, esta época, depois das saídas de Bas Dost (que faz falta, deixa saudades e nunca foi substituído) e de Raphinha (que nunca foi substituído, deixa saudades e faz falta), além da sangria do ano passado (Patrício, William, Gelson, etc) o Sporting tem uma das piores equipas de que há memória. Por isso tem uma das piores pontuações de que há memória à 10.ª jornada, um número de golos marcados baixíssimo e altíssimo de golos sofridos. Sobretudo a diferença entre feitos e consentidos 16-12 é ridícula para uma equipa que se afirma com pretensões a um bom lugar na tabela da Liga.

Arranjar culpados

Uma das coisas que distingue o futebol, e dentro do futebol em especial o Sporting, é arranjar culpados. Neste particular reina a confusão. Há quem diga que são aqueles que demitiram Bruno de Carvalho (e eu esfalfo-me a tentar explicar que com o anterior Conselho Diretivo nunca estiveram em causa resultados desportivos); outros disparam sobre a Direção atual; outros ainda sobre a oposição à Direção atual. Há ainda o treinador, os jogadores, as claques e sabe-se lá que mais.

Penso que devemos ir por partes. Por exemplo, a atitude que esta Direção teve com as claques foi digna do maior elogio. Mas isso não significa nem que esta Direção não tenha culpa de nada, nem que as claques tenham culpa de tudo.

É também verdade que o CD de Bruno de Carvalho deixou o Sporting uma miséria tanto material como moralmente (o clima de ódio é uma dessas vertentes) - e aqui volta o peso excessivo das claques. Mas confesso que até eu entendo que o prazo para culpar Bruno de Carvalho está esgotado. Foi expulso, é passado e por muito que uns poucos chorem por ele ou que adeptos seus (e o próprio) tentem desestabilizar o Sporting, não é a esses que devem ser pedidas responsabilidades hoje. Tanto mais que todos sabiam (do mais humilde sócio aos dirigentes atuais) que esse desgaste, essa espécie de guerrilha, iria perdurar.

Por isso, com o devido respeito, não me parece que restem muito mais hipóteses do que responsabilizar quem tem… responsabilidades. Ou seja, Frederico Varandas e a sua equipa diretiva. Claro que isto não desculpa nem apaga as dificuldades que lhes são criadas por egos grandes e pequenos que a todo o custo pretendem destituir a Direção. Os movimentos Dar futuro ao Sporting e Devolver o Sporting aos Sócios podem ter as mil assinaturas requeridas e o dinheiro estabelecido para organizar uma AG com vista à destituição dos atuais corpos gerentes, isso é o mais fácil. O busílis está na fundamentação, que terá de ser aceite pelo presidente da AG e não me parece fácil uma fundamentação séria, salvo a de que o Sporting está a jogar mal e contratou jogadores errados. Mas, convenhamos: se abrirmos o precedente, cada vez que no futuro houver  maus resultados poderá haver AG’s para demitir os eleitos? Não é normal.

E não se faz nada?

Com isto posso estar a dar a ideia de que não é necessário fazer nada. Se dei, peço desculpa a quem me lê, porque entendo serem necessárias algumas medidas imediatas. Uma delas - e veremos o que dá a contratação de uma empresa especializada - residia exatamente na comunicação do Sporting, que tem sido lamentável. Mas este não é, seguramente, o ponto mais importante.

O essencial tem a ver com a própria perceção que a Direção e o Sporting têm da equipa. Não podem estar convictos de que este treinador é o futuro treinador do Sporting, ou seja, que não é de transição, nem de que é possível ganhar alguma coisa de jeito com esta equipa. Agora recordemos as razões que levaram Varandas a presidente: a primeira foi unir o Sporting, coisa que manifestamente não tem sido capaz de fazer. A culpa, no essencial, pode nem ser dele, mas não duvido que era dele a responsabilidade de tentar. E, que eu conheça, as tentativas foram nenhumas ou quase. A segunda vertente que fez de Varandas presidente foi a ideia de que, tendo ele passado anos no banco, era um homem que percebia profundamente de futebol. Ora, neste capítulo foi uma desilusão. Mais uma vez podemos dizer que as exigência financeiras que teve pela frente o impediram de construir uma equipa à altura, mas eu penso e muitos sportinguistas terão esta opinião: mais vale ficar em sexto ou sétimo lugar com jogadores vindos da formação, do que em quinto ou quarto com jogadores emprestados e que não provam substancialmente mais - se é que provam alguma coisa - do que aqueles que vêm da formação. O caso de Pedro Mendes, e não é o único, é brutal. Entretanto, a própria equipa de sub-23 começou a vacilar na Liga Revelação e os juvenis nem à fase final do campeonato passaram, coisa de que não tenho memória.

Varandas está a tempo de não ser o pior presidente da história do Sporting em termos desportivos. Na verdade, já ganhou duas taças em futebol, teve sucessos europeus nas modalidades… mas se o caminho continua assim, embora seja difícil superar negativamente as gestões de Jorge Gonçalves de Bruno de Carvalho (até porque envolviam aspetos extra futebol dos quais Varandas não é suspeito), está, cada vez mais, a ser considerado uma desilusão. Mesmo para os sportinguistas com as melhores intenções a seu respeito.

Como aqui escrevi a 26 de setembro, já lá vai mais de um mês, «com toda a lealdade e saudações leoninas digo ao presidente: se achar que não é capaz de melhor do que tem feito (…) desça do seu lugar». E faça-o, acrescento, enquanto é tempo, enquanto guardamos de si a imagem de alguém que se sacrificou e triunfou no Sporting, permitindo que através de um debate que possa ser efetuado com tempo, o presidente da MAG possa convocar um ato eleitoral onde se restabeleça a unidade e a necessária competência para o Sporting ser fiel ao seu passado e poder encarar o futuro com confiança. Seria uma forma de todos ganharmos, incluindo Frederico Varandas.