Sistema tácito: da gratidão à traição

OPINIÃO Sistema tácito: da gratidão à traição

OPINIÃO02.06.202412:00

Conceição queixa-se de sofrer uma facada nas costas do seu ex-fiel escudeiro; Vítor Bruno emancipou-se e decidiu escolher o... FC Porto

Como se não bastassem as enormes adversidades com que se deparou assim que tomou posse como CEO da SAD do FC Porto, sendo uma das principais relacionadas com a tesouraria, que colocam em causa os próprios salários dos funcionários, André Villas-Boas debate-se, agora, com uma dificuldade acrescida relativamente ao treinador. Sérgio Conceição renovou a dois dias das eleições, o que gerou um enorme descontentamento em grande parte do universo azul e branco, e ficou melindrado pelo facto de o seu principal adjunto, Vítor Bruno, num gesto de pura emancipação, querer seguir uma carreira a solo... que poderá terminar com o seu lugar nos últimos sete anos. O ainda treinador do FC Porto tem o direito de se sentir traído, mas o seu fiel escudeiro nos últimos 13 anos também pode escolher o seu destino, não tendo de justificar as suas opções.

Sérgio Conceição fala em traição, ingratidão, falta de honestidade e frontalidade de Vítor Bruno, criando ondas de choque enormes, que já afetaram os demais adjuntos — DiamantinoFigueiredo, Siramana Dembelé e Eduardo Oliveira —, que ficaram sob a alçada na nova Administração da SAD.

Está criado um clima de grande hostilidade, que penaliza e atrasa a planificação da próxima temporada. André Villas-Boas tem duas opções perante um contexto tão complicado:por um lado, senta-se novamente à mesa com Sérgio Conceição e explica-lhe que em causa está o bom funcionamento do trabalho no clube que ele aprendeu a amar desde os 15 anos, quando trocou Coimbra pelas Antas, promovendo uma saída airosa do treinador que elevou bem alto o nome do FC Porto em Portugal — com 11 títulos — e além fronteiras — conseguindo façanhas notáveis na Champions; ou, em alternativa, tem de optar por uma saída mais musculada e que implica enfrentar Sérgio Conceição, podendo o caminho resultar num diferendo judicial, uma situação que certamente quer evitar, já que apenas o técnico tem uma cláusula no contrato que lhe permite sair sem qualquer indemnização.

Tudo isto seria evitável se a tão famigerada renovação de contrato fosse oficializada fora da campanha eleitoral e em moldes diferentes. Pinto da Costa sabia de antemão que ao avançar com tal ato iria deixar na mão da nova Direção o ónus de despedir o novo treinador. Jogou esse trunfo na tentativa desesperada de ganhar votos, mas a sua intenção saiu gorada e faz com que André Villas-Boas esteja, uma vez mais, refém de mais uma decisão sua, concretizada à pressa e que atrasa o futuro do FC Porto...