Sheiks, cheques e… choques
Dos dólares da Arábia Saudita à ‘pedra no sapato’ de Roger Schmidt
NO futebol não sabemos por onde começar pois os temas são imensos, como a areia do deserto. E nada melhor do que pousarmos na Arábia Saudita, país que, pelos vistos, quer comprar o futebol mundial, fazendo do jogo mais adorado no planeta o detergente capaz de lavar mais branco o regime político do país árabe, assim a modos como uma outra nação que conhecemos que, durante quase 50 anos, viveu do futebol, fado e religião. Certo, essa mesmo, caro leitor!...
Dinheiro não falta, é coisa barata, na bolsa de uns quantos sauditas, e por isso, clubes como o Al Nassr, deu o pontapé de saída ao contratar e fazer a ressurreição do nosso Ronaldo. Outros clubes o seguiram, numa procissão de petrodólares, que encheram e vão encher os bolsos dos treinadores Jesus e Espírito Santo (agora seguidores do Corão…), tal como Luís Castro. Ronaldo chamou Benzema, Neymar, Otávio, Bono e tantos mais que engrossaram um largo pelotão de ases da Europa, África e Américas. Dinheiro a rodos, tirado de poços sem fundo, na mira de vir a ser o país árabe capital do futebol mundial. Até à hora que estamos a escrever esta crónica, aventava-se que João Félix também estaria já a comprar o turbante. Faltará, agora, também contratar quem perceba de dirigir o jogo (diretores e árbitros), de preferência que saibam como se ganha sem rematar à baliza, não esquecendo as claques para o que, não estranharemos, se o dragão Fernando Madureira assinar também um chorudo contrato para formar a Superdragões de Riade...
Para aguçar o apetite, vejam-se as mordomias de Neymar, sem contar com o valor do contrato: um avião privado para uso exclusivo do futebolista; casa com 25 quartos, três saunas e uma piscina de 40 metros; geladeira abastecida de suco de açaí e refrigerante guaraná; um motorista 24 horas por dia, para ele, família e amigos; três automóveis topo de gama; cinco funcionários; hotéis e restaurantes, em dias de folga; 500 mil euros por cada post no Instagram a promover o país e 80 mil por cada vitória do Al Hilal em que participe. Poucas mordomias, como se vê...
SCHMIDT ESTÁ A VER-SE GREGO
Não se fala noutra coisa que não seja no divórcio de Roger Schmidt com o guarda-redes grego, Odysseas Vlachodimos, como resultado da derrota no Bessa. Foi, quanto a nós, o eclodir da pressão que já vinha desde a chegada do treinador alemão, que reclamava, entre outros reforços, um bom guarda-redes, por não gostar do n.º 1 grego. Acontece que Odysseas lhe respondeu com um trabalho, muitas vezes a roçar o luxo, na conquista da Liga e no palco europeu. Mas a pedra no sapato de Roger lá continuou e… chegou a hora, e a acusação pública ao profissional de futebol foi a explosão final.
Agora está Rui Costa com a criança nos braços e vamos lá ver o que irá acontecer. À hora que os leitores se derem ao trabalho de percorrer esta prosa, Vlachodimos já estará em Inglaterra? Bom seria para dar sossego ao presidente e ao treinador que estará, veja-se, sem se pensar que tal acontecesse, baralhado com a crise de fartura de jogadores. E terá de sossegar a nação benfiquista com as hesitações com Neres, Aursnes, que qualquer dia joga a guarda-redes, bem como o conhecimento que Ristic também é profissional encarnado.
Roger é bom treinador, mas teimosinho, que Deus nos livre. Rui Costa merecia ter outra sorte. E não se sabe o que virá por aí.
O ‘AFILHADO’ MOUTINHO
Otávio, depois do era e não era, acabaria por tratar da vidinha à cata dos petrodólares, porque a vida são dois dias. E Pinto da Costa, apanhando Sérgio Conceição no hospital, para ser operado aos dois joelhos, deu a oportunidade a que Otávio voasse para a Arábia e o administrador Fernando Gomes acertasse o vermelho das contas.
Entretanto, o presidente, que sabe mais de olhos fechados que o treinador com eles abertos, já tinha apalavrado João Moutinho, que fará 37 anos em setembro, pois acredita que o filho pródigo é como o vinho do Porto. Vamos lá ver se ficamos por aqui, mas Pinto da Costa é um presidente com bom jogo de cintura.
O ‘SUECO’ PAULINHO
O Sporting está embalado em justificada euforia, com Rúben Amorim a polir a estrelinha que estava baça. A chegada do sueco Gyokeres veio dar mais peito às balas com a artilharia leonina, alertando um Paulinho que, até agora, só dava tiros de pólvora seca. Temos assim Gyopaulo para o leão procurar ser de novo o rei da selva do nosso futebol.
No embate com os casapianos aconteceu que o VAR teria ido fumar um cigarro e deixou cair a cinza no regaço, não vendo o erro de apreciação ao validar o golo de Paulinho, obrigando que a Comissão de Árbitros, pela primeira vez, logo após o fim do jogo, emitisse um comunicado a suspender o lapso do VAR, desencadeando uma guerra no mundo negro dos árbitros, com a APAF a saltar para o ringue. Coisas do nosso futebol, mas que apesar do fair-play do treinador do Casa Pia e o mas, sim, pois, de Rúben Amorim, não é caso que já tenha tido ponto final.
UM MOMENTO, POR FAVOR
O espaço reservado para a nossa presença já deve estar esgotado, mas ainda temos apontamentos: felicitar as campeãs do mundo (Espanha) de futebol feminino, com os olhos arregalados para o beijo na boca do presidente da Federação, Luis Rubiales, à atleta Jennifer Hermoso. Bom prémio. Para quem?
O Arouca ficou pelo caminho na Taça Liga Conferência, mas sem direito a transmissão da TV. A Sport TV tinha-a previsto, mas não a fez, e nem sequer o Canal 11 da FPF a procurou, preferindo transmitir a partida entre israelitas e gregos. Mau serviço de quem manda, que os arouquenses saberão reconhecer.
O Boavista soma e segue, mesmo sem água quente para o duche. Sete golos em dois jogos para o grande Petit.
Por fim, o castigo aos treinadores, que é uma mentira quanto ao seu cumprimento efectivo. E Sérgio Conceição, a exemplo dos seus colegas, mas mais sofisticadamente, mostra como é. Mas é mal. Um treinador castigado terá de estar ausente, terá mesmo que ficar em casa. Estamos enganados? Olhem que não. Voltaremos ao assunto.