Sérgio Conceição e a SAD

OPINIÃO29.06.202207:00

De Hulk a Luis Díaz e Vitinha - passos em frente para o precipício; Stephen Curry, o lançador; adeptos comem e calam

No verão de 2012, o FC Porto negociou os 85 por cento dos direitos económicos que detinha de Hulk para o Zenit, por €40 milhões, ponto final em trajeto iniciado em 2008 ao longo do qual o brasileiro - hoje, aos 35 anos, continua a dar cartas de trunfo no Atlético Mineiro - contribuiu para a conquista de 11 troféus dos dragões. Nesse defeso, o super-herói descoberto no segundo escalão japonês, no Tokyo Verdy, foi o único titular que os azuis e brancos perderam, no início de setembro, porque o mercado russo fechava mais tarde, sinal também de que a pressão para vender não obrigava a aceitar propostas antes sequer da pré-época começar. Saiu Hulk, que ainda picou o ponto nesse campeonato 2012/2013, entrou um tal de Jackson Martínez, a prova de que planear com cabeça - e sem esta no cepo - compensa.
Dez anos depois, transferido Luis Díaz em janeiro, a preço de saldo apesar de ter rendido €45 M mais possíveis €15 M, quando a Liga e a Taça de Portugal estavam ao rubro, além de que a Liga Europa não era uma miragem, o FC Porto já abriu entretanto a porta de saída a Fábio Vieira e por essa ou outra sairá igualmente Vitinha. O médio, decisivo na mudança de face do dragão promovida na temporada passada por Sérgio Conceição, muda de ares apenas com época e meia na equipa principal, total de quatro troféus. É comparar com o caminho feito por Hulk no clube...
De Hulk a Luis Díaz e Vitinha, operações separadas por uma década mas que ajudam a perceber os constantes passos em frente para o precipício que a SAD liderada por Pinto da Costa teima em dar. Alienar ativos para equilibrar as contas - uma inevitabilidade para todos os clubes, exceto alguns dos big 5 - é muito diferente de recorrer ao mesmo método para resolver problemas de tesouraria capazes de asfixiar no curtíssimo prazo. É a diferença entre navegar à vista e definir um rumo com vistas largas. Vale aos dragões que o homem do leme assina pelo nome de Sérgio Conceição.
Mas a dobradinha e as restantes façanhas do técnico que prometeu e cumpriu quando, em 2017, afirmou que não vinha para aprender, antes para ensinar, não chegam para evitar que se diga que o rei vai nu. Talvez Sérgio Conceição devesse estender à administração da SAD os ensinamentos, de preferência em gestão e finanças, que provou saber proporcionar aos jogadores nos capítulos técnicos, táticos e de liderança ao longo destas cinco épocas de sucesso. Contra tudo e todos - fora de portas mas também dentro - enquanto reconstruía equipas, sob o manto diabólico do fair play financeiro, valorizava jogadores para patamares em alguns casos inimagináveis e recuperava a mística perdida nas quatro temporadas de seca que se seguiram ao golo de Kelvin ao minuto 90+2 de uma noite de maio.
Para a história, o último grande ato de gestão de Pinto da Costa terá sido a contratação de Sérgio Conceição e a forma como sempre o defendeu - defendendo-se, assim, a ele próprio.  

Para quem jogou basquetebol - no grande Atlético Clube de Portugal! - torna-se ainda mais inacreditável constatar a pontaria de Stephen Curry, craque dos Golden State Warriors, campeão da NBA e melhor jogador da final frente aos Boston Celtics. Na escolha para segundo melhor jogador de  sempre, atrás, obviamente, de Michael Jordan, serão vários os candidatos - LeBron James e Kobe Bryant, entre os que me lembro mais de ver jogar - mas se a discussão é sobre o melhor lançador da história, então Curry não tem discussão.

A ladainha de desculpas  sempre que os resultados não aparecem, outrora exclusiva do futebol, está cada vez mais a espalhar-se para as modalidades de pavilhão. Se perdem, os protagonistas queixam-se dos árbitros, se ganham, está tudo bem - e o pior é que os adeptos, ao invés de questionarem as opções de investimento dos clubes e os resultados que obtiveram, comem e calam.