Contrato-programa apresentado pelo governo deixa bons sinais e ótimas intenções para o desporto, mas continua a faltar o essencial: mudança de mentalidade. Algo que só pode começar na Educação
O Governo anunciou na terça-feira, com pompa e circunstância, a assinatura de um contrato-programa para a promoção do desporto em Portugal. As intenções são boas, o esforço é louvável e as prioridades parecem as certas: «Aumentar a prática desportiva, promover a igualdade de género e aproximar Portugal das boas práticas de outros países da União Europeia», disse o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte.
Este não é o primeiro nem será o último governo a demonstrar boa vontade para com o desporto, e a assumir que as práticas de Portugal são (como sabemos que são) muito menos boas que as da maioria dos nossos parceiros da UE.
Anunciado contrato-programa que inclui valores adicionais para o investimento no desporto nacional; documento contempla cinco medidas e 14 diferentes programas a implementar nos próximos quatro anos
Os milhões anunciados são obviamente importantes, porque poucas coisas avançam sem dinheiro a movê-las, mas o que importa realmente no nosso País é operar uma mudança de mentalidades. E essa, sabemo-lo, é a tarefa mais difícil de todas.
Enquanto a Educação Fìsica for o parente pobre dos currículos escolares (por mais que boa parte dos professores se esforcem para mudar a tendência), não evoluiremos por aí além.
Enquanto acharmos que é uma atividade paralela e por vezes marginal, longe da elevação das matemáticas, das ciências ou das línguas, continuaremos na cauda da Europa.
Enquanto não promovermos reais condições para os melhores atletas frequentarem as universidades e poderem prosseguir a sua carreira desportiva, estaremos a milhas dos exemplos que gostamos de apontar de quatro em quatro anos nos Jogos Olímpicos e teremos pouca moral para exigir medalhas aos nossos.
Mas o fundamental não está no ensino superior — está no básico e no secundário. Vivemos um tempo em que qualquer atividade desportiva praticada pelos nossos filhos é paga, porque os clubes também se veem com cada vez menos meios para ser tudo como dantes, quando ainda nos forneciam equipamentos, davam uma sandes e um sumo depois dos jogos e, com jeito, um prémio de jogo simbólico em caso de vitória.
O segredo (mal guardado) de uma melhor saúde desportiva em Portugal reside no Desporto Escolar. Há autênticos heróis a batalhar por ele pelo País fora, mas os resultados continuam fracos. Faltam infraestuturas, nuns casos, faltam professores, em outros, falta o próprio interesse dos alunos, muitas vezes. Gastem-se bem os milhões, mas sobretudo motive-se a comunidade escolar.