São João em Barcelona
João Cancelo e João Félix, IMAGO
Foto: IMAGO

São João em Barcelona

OPINIÃO24.09.202309:32

Como Félix e Cancelo se mostram jogadores tão especiais numa atmosfera tão especial

Tal como os brasileiros inventaram o carnaval fora de época, dir-se-ia que a cidade de Barcelona importou também fora de época um belíssimo São João, à boa imagem das tradicionais festas populares da nossa mui nobre e invicta cidade do Porto. São João Félix e São João Cancelo têm ambos, por estes dias, dado à capital da Catalunha fortíssimas razões para celebrar em romaria sempre que a festa dos adeptos do Barcelona assenta arraiais no belo Estádio Olímpico de Montjuic, como é conhecido o agora designado Estádio Lluís Companys, onde a equipa dos dois internacionais portugueses passou, esta época a jogar, por força da profunda remodelação que está a sofrer o mítico palco de Camp Nou.

Depois de uma especial e bem-sucedida noite de estreia, num jogo de campeonato (5-0 ao Bétis, com um golo de Félix e um golo de Cancelo) e do festival na Champions, com dois golos e mais uma assistência de Félix (nos 5-0 ao Antuérpia), eis que ao final da tarde deste sábado, numa partida que parecia perdida para os catalães (desvantagem de 0-2 para o Celta de Vigo, a dez minutos dos 90’) a festa do Barcelona fez-se, mais uma vez, muito em português e de novo sob inspiração de São João.

Mais uma fabulosa assistência de Félix, outra de Cancelo (ambas para o polaco Lewandowski faturar) e, ainda, cereja no topo do bolo, um tão surpreendente quanto extraordinário golo de Cancelo a confirmar a reviravolta épica e a fechar o resultado em 3-2 terão levado os adeptos do Barça a compreender, definitivamente, porque queriam tanto os responsáveis do clube (ao contrário do que, mesmo em Portugal, muitos insistiram dar a entender) contar com João Félix e João Cancelo e como é absolutamente ímpar o talento dos dois jogadores.

Montjuic, a mais alta colina da cidade de Barcelona (quase 200 metros acima do mar), parece abençoar a ligação mágica de Félix e Cancelo ao Barça, que apesar de contar com os extraordinários Gavi, Raphinha, Lewandovski, sentiria certamente saudades de jogadores que pudessem dar realmente um pouco mais de génio a uma equipa que sempre exibiu, ao longo da história, o espetacular futebol de alguns dos maiores jogadores de sempre, como Cruyff, Maradona, Ronaldo, Ronaldinho ou Lionel Messi, para referir apenas os que farão, eternamente, parte do olimpo.

Sem entrar, naturalmente, em descuidadas ou desnecessárias comparações, creio que não oferecerá dúvidas a ninguém a qualidade do futebol de um João Félix ou as notáveis capacidades de um João Cancelo. Seguramente Félix mais genial no pormenor, seguramente Cancelo mais forte na versatilidade, ambos com a inteligência e a técnica que distinguem os melhores.

Talvez agora, por serem jogadores tão especiais reconhecidos num clube que é, também ele, tão especial, Félix e Cancelo deixem de sentir, mesmo à distância, aquela pontinha de inveja com que nós, portugueses, temos o péssimo hábito de brindar os nossos.

Incondicional admirador do futebol de ambos, que considero, há muito, dois dos melhores futebolistas da atualidade, não escondo a especial satisfação por vê-los amar tanto o jogo e dedicar-lhe tanta paixão e merecerem a admiração dos que, como eu, gostam tanto de futebol.

Não vai certamente o caminho de Félix e Cancelo em Barcelona ser sempre iluminado de luzes brilhantes; terá, como sempre, as suas sombras, porque o futebol é um jogo e como jogo é imprevisível e por ser imprevisível e por dar aos menos fortes uma chance de vencer é que cria mais impacto e angaria mais adeptos e se torna ainda mais apaixonante.

Mas torcer pelo êxito dos dois proscritos é torcer pela promoção do excecional jogador português e pelo aproveitamento desse imenso talento numa Seleção Nacional que, mais do que a obrigação de se candidatar aos mais altos voos, tem o dever de pensar em grande e dar espetáculo como nunca. Merecem os jogadores, merecem os adeptos, merecemos todos!