OPINIÃO Rui Borges merece mais do que a ajuda de Lage...
Novo treinador do Sporting, com grande coragem, fez um corte com o passado. Ganhou créditos no dérbi e bem merece reforços. Tem a palavra Frederico Varandas
Grande entrada de Rui Borges no Sporting. Foi chegar, ver e vencer… o Benfica. Não podia pedir mais o treinador que trocou o V. Guimarães por Alvalade. Não podia em três… dias. Apresentado a 26 de dezembro, recolocou os leões na liderança da Liga a 29.
O treinador de 43 anos não perdeu tempo e num ápice apagou o passado recente do clube. Fez esquecer João Pereira, que em apenas quatro jornadas desperdiçou todos os oito (!) pontos que o Sporting já cedeu neste campeonato e simultaneamente também colocou uma pedra sobre a herança deixada por Ruben Amorim!
Vamos por partes. A aposta em João Pereira falhou, como o próprio Frederico Varandas reconheceu, e Rui Borges teve o mérito de, num ápice, devolver a confiança aos jogadores e unir a equipa. O ex-treinador da equipa B nunca o conseguiu. Quatro derrotas, um empate e apenas três vitórias (todas em casa e duas para a Taça de Portugal) em oito jogos dizem praticamente tudo e muito já se disse e escreveu sobre o tema, pelo que o melhor e o mais importante para os leões é passar à frente.
Ruben Amorim esteve seis épocas no Sporting — a primeira e a última incompletas — e tudo no clube foi feito à medida do atual treinador do Manchester United. Das contratações, às vendas, das dispensas ao sistema tático. Amorim construiu uma equipa de autor e o resultado foi o que todos sabemos. Varandas arriscou, confiou, deu-lhe todas as condições possíveis e teve sucesso. Contudo, certo dia, as libras falaram mais alto e houve que mudar.
De início, a estratégia foi alterar o menos possível, mas cedo se percebeu que não funcionaria, pelo que foi mesmo necessário fazer um corte com o passado. Fê-lo Rui Borges e com grande coragem.
O novo treinador não hesitou em mudar e nos tais três dias conseguiu com que os jogadores assimilassem as suas ideias de jogo. O Sporting abandonou o tão enraizado 3x4x3 e apresentou-se diante do Benfica num novo modelo ou… dois. Ou seja, em 4x4x2 a defender e em 4x3x3 a atacar. Importante é que os jogadores o entenderam e a prova foram os primeiros 45 minutos de clara superioridade sobre o eterno rival, que acabaram por valer e, na minha opinião, justificar a vitória.
Considero que Bruno Lage deu uma ajudinha aos leões. Ao prescindir de um ponta de lança e lançar Amdouni como referência mais ofensiva, o treinador do Benfica mais do que encolher a equipa transmitiu algum receio, o que foi explorado da melhor forma pelos leões, que automaticamente ganharam confiança. E que bem dela precisavam…
Não critico a exibição do internacional suíço, que até desperdiçou a melhor oportunidade das águias, mas num dérbi ou em qualquer outro grande jogo o aspeto mental tem um peso muitas vezes decisivo, como se comprovou em Alvalade. O Sporting entrou melhor, ganhou confiança e vantagem no marcador e depois quando Bruno Lage corrigiu a estratégia e melhorou a equipa já o jogo estava inclinado para o lado dos leões. Tanto assim foi que estes até estiveram mais perto do 2-0 do que os encarnados do empate.
Rui Borges dificilmente poderia ter entrada mais complicada. Depois do Benfica, segue-se o V. Guimarães, já esta sexta-feira, depois o FC Porto, na final four da Taça da Liga, e se vencer os dragões novamente o Benfica ou o SC Braga, no jogo decisivo. Isto para já não falar da deslocação a Vila do Conde, para o campeonato, ou a viagem até Leipzig, para a Champions, que são os jogos que se seguem no calendário.
Pelo que se viu no dérbi, Rui Borges já tem créditos e merece mais da parte da Administração. Ou seja, reforços. O plantel dos leões foi construído por Amorim e para Amorim, mas considero que é necessário dar algo mais ao novo treinador, pelo que Frederico Varandas além de manter a estratégia de não alienar nenhuma das mais-valias neste mercado de janeiro tem ainda de abrir os cordões à bolsa e contratar os reforços que Rui Borges necessitar para lutar pelo bicampeonato. Sejam eles laterais para jogar numa defesa a quatro, extremos para alinhar em 4x3x3, o modelo predileto do técnico, ou mais um médio, para equilibrar as opções para o meio-campo. Tem a palavra Frederico Varandas.