Ruben Amorim: o fantasma de Frederico Varandas
Varandas e Amorim antes do Sporting-City, último jogo do agora treinador do United em Alvalade à frente dos leões (Foto: IMAGO)

Ruben Amorim: o fantasma de Frederico Varandas

OPINIÃO08.12.202411:00

Mercado de Valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador e economista

Na época passada, no final da vitória com o Benfica, Ruben Amorim referiu no balneário que um dia mau podia colocar tudo em causa. Será que o que o Sporting está a passar é apenas uma fase negativa? Invertendo a primeira declaração de Ruben Amorim quando chegou ao Sporting: e se corre mal?

Má gestão de expetativas

Por normal, os líderes têm de saber gerir as expetativas da sua equipa e dos adeptos. A saída de Ruben Amorim nunca seria fácil de gerir. Trata-se do treinador que colocou o Sporting a jogar um futebol encantador, que comunicava, por ele e pelo clube, como ninguém, que sabia criar empatia com os adeptos, que tinha carisma e que o sabia utilizar a seu favor fazendo com que todos acreditassem na sua mensagem e com que o seguissem com total confiança. As competências de Ruben Amorim eram muito abrangentes. Sabendo disto, Frederico Varandas e a sua equipa tinham de arranjar uma solução e saber gerir o momento. A forma como o fizeram não me parece a melhor.

Começou na apresentação, onde referiu que João Pereira iria ser, dentro de quatro anos, mais um treinador a sair para um grande clube europeu. Com estas palavras Frederico Varandas surpreendeu muita gente, uma vez que João Pereira tem ainda uma curta carreira. Então, o que será que Frederico Varandas quis dizer com esta afirmação? Que ele tem olho clínico para escolher treinadores? Ou será que, mesmo sem que João Pereira tenha sido testado, Frederico Varandas conhece competências que nós não temos capacidade de analisar? O presidente do Sporting acreditava mesmo que a sua estrutura era tão boa que saía Ruben Amorim, entrava outro treinador e tudo continuava igual? Não percebeu que as suas palavras aumentaram a expetativa e a pressão sobre o novo timoneiro?

Por norma, os grandes líderes não têm de se auto elogiar, há outras pessoas que o fazem por eles. No dia 16 de novembro Frederico Varandas discursou nos Rugidos do Leão e referiu: «Confesso que me rio para mim quando ouço: 'agora é que vamos ver o que vale esta administração sem o treinador e o diretor desportivo'. Mas digam-me uma coisa: esta administração herdou o Amorim e o Viana? Já cá estavam?».  Com esta afirmação será que, indiretamente, quis desvalorizar Ruben Amorim para se valorizar? Será que Frederico Varandas entende que merece ficar com os louros do trajeto do Sporting nos últimos anos e sente que, na opinião pública, a ideia é que o mérito é de Ruben Amorim?

Ruben Amorim: o fantasma de João Pereira

João Pereira entrou no melhor momento do Sporting. Encontrou uma equipa confiante, com jogadores motivados, crentes e unidos.  A sua missão seria dar continuidade ao bom momento que o Sporting atravessava. O seu mérito nunca seria o de colocar a equipa a jogar com o seu cunho, mas sim o do homem que deu seguimento ao grande trajeto que o Sporting estava a fazer. Deveria ser por aqui que devia ter seguido.

Analisando os quatro jogos, com maior enfoque nos últimos dois, todos conseguem perceber algo a olho nu:  a equipa parece outra. A confiança diminuiu. A crença de que os jogos duram até ao minuto 90 desapareceu. Os movimentos coletivos deixaram de existir. Aquilo que era um rolo compressor, transformou-se numa equipa banal. As oportunidades de golo abundavam e agora escasseiam. Antes os adversários colocavam um autocarro à frente da grande área para tentar impedir que o Sporting marcasse golos, agora jogam olhos nos olhos sem receio de se exporem.

Durante o jogo, no banco de suplentes, o toque de Midas também parece que se perdeu. Em termos comunicacionais, João Pereira não tem sido melhor. Na conferência de imprensa antes do jogo com o Moreirense referiu que não sabe em que se baseavam os comportamentos e nuances da dinâmica do jogo de Ruben Amorim. Um dos motivos pelo qual João Pereira foi escolhido não era o de conhecer bem a realidade por dentro? No final dos jogos, o discurso também fica curto. Dizer que quando a bola começar a entrar tudo vai mudar ou que basta o clique de uma vitória para que tudo mude, parece-me muito redutor. Aliás, esta é uma realidade para qualquer equipa! O que se pede a um treinador é que consiga identificar o que está mal ou o motivo de algo estar a correr fora do previsto, até porque só assim se conseguem corrigir os problemas.

Numa semana tudo muda

Em poucos dias tudo mudou. As derrotas do até então super Sporting tiveram o condão de fazer com que o FC Porto saísse mais rapidamente da crise que lhe queriam associar. Se o FC Porto vencer o Famalicão fica com os mesmos pontos do Sporting, que ainda tem de jogar com o Benfica em casa durante o mês de dezembro. Já o Benfica (escrevo antes do Benfica–V. Guimarães), depois de um início de época negativo, pode chegar ao jogo de Alvalade em primeiro, no campeonato, se vencer todos os jogos até lá. No último artigo, antes do Sporting jogar com o Santa clara escrevi o seguinte: «Quando as coisas estão todas a correr bem é importante desconfiar e perceber que num ápice tudo muda». No caso do Sporting, o exemplo da sucessão de Ruben Amorim é um claro exemplo de falta de escrutínio, sensibilidade e de realidade.

A Valorizar: Capdeville

No final do FC Porto-Benfica da última quarta-feira em andebol, o guarda-redes do Benfica e amigo de Alfredo Quintana regressou à quadra para brincar com a filha do seu falecido amigo. O desporto é isto: humanidade, respeito e união. Estes são os exemplos e os valores que devem ser realçados por todos.

A desvalorizar: Mbappé

Tem sido uma desilusão em Madrid (no Real). A realidade não está a corresponder à expetativa criada.