Ronaldo, um capitão mais próximo
ANDRÉ ALVES/GRAFISLAB

Ronaldo, um capitão mais próximo

OPINIÃO13.06.202409:00

Ganhar à Irlanda não diz mais do que perder com a Croácia, mas Ronaldo entusiasmou

Ao terceiro e derradeiro ensaio para o Campeonato da Europa apareceu o capitão Cristiano Ronaldo a puxar dos galões. Não que uma vitória frente à República da Irlanda nos diga mais sobre a preparação da equipa das Quinas do que a derrota frente à Croácia, mas o jogo de Aveiro permitiu, entre outras coisas, confirmar as boas expectativas em torno da referência maior da Seleção Nacional.

Quão diferente está a energia de Cristiano Ronaldo, em comparação com os dias que antecederam o Mundial do Catar, marcados pela perda de estatuto no Manchester United e a polémica entrevista a Piers Morgan, num contexto que contagiou negativamente o ambiente da Seleção, e que fez com que Fernando Santos apostasse justamente em Gonçalo Ramos, perante o mau momento do capitão.

Agora é diferente: Ronaldo está feliz, e isso nota-se em campo. Ser a estrela do Al Nassr não é necessariamente melhor do que suplente do Manchester United, mas o craque português recuperou o sorriso, e isso deveria ser suficiente para validar a mudança para a Arábia — assumindo a importância dos milhões do contrato e sem necessidade de tentar convencer-nos de que a Liga saudita já está entre as melhores do mundo.

Se Riade foi importante para prolongar o legado de CR7 na Seleção, então valeu a pena. A fase de apuramento já tenha deixado essa sensação positiva, que Cristiano parece agora querer transportar para o torneio. Pelo menos a avaliar por aquilo que fez frente à Irlanda. Os dois golos apontados são apenas a faceta mais mediática de uma exibição inspiradora. Se o primeiro tento é digno de todos os elogios, até porque recupera a versão mais explosiva do goleador luso, existem outros apontamentos que reforçam a ideia de frescura mental e física. Do passe a lançar Diogo Dalot na área, ao livre direto que saiu ao poste da baliza irlandesa. Da disponibilidade para um futebol mais associativo à energia colocada nos momentos definidos para intensificar a pressão na frente.

Ronaldo exibiu também um sorriso rasgado no treino descontraído com os filhos dos jogadores e de alguns funcionários da Federação Portuguesa de Futebol, foi exemplar igualmente na forma como conduziu a adepta escolhida para o acompanhar na entrada para o relvado do Municipal de Aveiro, anteontem.

Até o discurso foi irrepreensível, na forma como valorizou a crítica como caminho para o sucesso, e como destacou a importância de encontrar um equilíbrio entre a euforia e o pessimismo para ambicionar mais uma conquista pela maior paixão desportiva de todas, a Seleção Nacional.

É certo que tudo fica mais fácil quando a bola entra, mas Cristiano Ronaldo, no único ensaio para o Europeu em que participou, conseguiu reforçar o entusiasmo geral em redor da equipa das Quinas.

Mostrou-se um capitão mais próximo de todos. Até de si próprio.