Ronaldo, a dúvida
Sou fã de Cristiano Ronaldo, que me parece o melhor desportista português de todos os tempos, o maior animal de competição que este país jamais produziu. Devo ser um dos muito milhões que se encontram perplexos com as noticias perturbantes da última semana. A história cheira mal por todos os lados, mas é preferível, por motivos óbvios, esperar que seja a Justiça (se for caso disso) a pronunciar-se sobre ela … e no local devido. Não serão os tabloides, nem os programas de telelixo e muito menos as sentenças das biliosas redes sociais a fazerem luz sobre o assunto. Facto é que Kathryn Mayorga diz uma coisa e Cristiano diz outra. O documento revelado pela Der Spiegel, assinado por ambos em janeiro de 2010, a ser verdadeiro claro, sugere que alguma coisa correu francamente mal a CR7 em Las Vegas. Diz-nos o bom senso que ninguém de consciência absolutamente tranquila gasta 325 mil euros para comprar o silêncio de uma ocasional parceira sexual. O mesmo bom senso também nos diz que não é normal que alguém que aceitou de livre vontade receber muito dinheiro para ficar calado demore nove anos a perceber que há coisas que não se calam nem se vendem. Espero que Cristiano consiga provar a inocência. Este é o tipo de caso em que ninguém gosta de se ver envolvido. Faz uma mossa terrível à imagem. Numa coisa estou inteiramente de acordo ele: a violação é um crime abjeto.
Sobre a nova dispensa de Ronaldo da Seleção Nacional: parece-me cada vez mais claro que a não participação do capitão na novel Liga das Nações foi decidida há mais tempo numa conversa a três (com o selecionador e o presidente da FPF). Não me choca a poupança. Ronaldo tem 33 anos e uma carreira de 15 anos a jogar a um nível de intensidade e desgaste máximos. Talvez já não possa ir a todas. Ademais, tendo um passado irrepreensível ao serviço da Equipa Nacional - sempre deu tudo por ela a ponto de ter jogado lesionado no Euro-2008 e no Mundial de 2014, lembram-se? - qual seria o problema de assumir essa decisão de forma pública? Alguém ia contestar? O enorme Luís Figo também negociou com Scolari um retiro sabático da Seleção (voltou depois de trocar o Real Madrid pelo futebol italiano, curiosamente) e toda a gente compreendeu os motivos. Assim, foi pior a emenda que o soneto e toda a gente ficou numa posição desconfortável: o jogador, o selecionador e a própria Federação. Porque aquilo que se queria evitar - uma certa ideia de que Cristiano põe e dispõe a seu bel-prazer da Seleção e só vai lá quando lhe apetece - é o que está na boca do povo. E, como todos sabemos, não há nada que dê mais prazer aos Portugueses do que terem motivos para criticarem e zurzirem os seus maiores campeões.
Sobre a Bola de Ouro do France Football. Cristiano é mais uma vez o único português entre os 30 candidatos à conquista do troféu que ele já ganhou por cinco vezes (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017). Não sei se vai ganhar um inédito sexto Ballon d’Or - talvez não, os ventos não sopram a favor dele - mas mesmo que não suba pelo terceiro ano consecutivo ao topo da Torre Eiffel continuará a ser o futebolista mais premiado da História. Três troféus (11-8) acima do grande rival Messi.