Repto (pré)natalício: vamos ser mais educados
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, antigo árbitro
Ainda não é Natal, mas o cheiro das festas já paira no ar. Nota-se nas montras, cada vez mais compostas com renas e pais natais, nas árvores dentro das casas, que começam a brilhar escondidas atrás das cortinas, e na iluminação alegre, que vai vestindo timidamente as ruas das nossas cidades.
Sim, é oficial. O Natal está à porta. Vem aí uma das quadras mais especiais do ano, que miúdos e graúdos tanto gostam. Vêm aí dias que apelam ao sentimento, ao melhor que cada um de nós pode, sabe e deve dar (a si e aos outros).
E a esta maré de boas sensações espera-se que nem o desporto escape. Não esqueçamos: estamos a falar de uma atividade essencial no bem-estar das pessoas, na forma como as afeta e influencia quotidianamente.
É por isso que estes são também tempos de consciencialização. Tempos que devem sugerir reflexão profunda a todos os que fazem parte dessa grande família. O desporto é um exemplo para muitos, sobretudo ao mais alto nível. Tem a obrigação adicional de abraçar essa responsabilidade e servir de referência aos muitos que o seguem religiosamente. Aos tantos que aplaudem, admiram e apoiam os seus protagonistas, os seus maiores representantes, competição após competição, jogo após jogo.
Por detrás de cada atleta, jogador, treinador ou até dirigente, há uma vasta multidão de entusiastas que vibra com as suas conquistas, com os seus sucessos e vitórias. É a mesma que os ampara, abraça e conforta quando as coisas correm menos bem. Quando as metas não são atingidas.
É por isso que o comportamento desses agentes desportivos - aliás, de todos os agentes desportivos, em geral - é fundamental. A sua conduta faz escola. A sua forma de ser e estar dentro e fora da competição, cria tendências que tantos querem imitar e replicar.
Por isso, fica o repto habitual: vamos tentar ser (ainda mais) educados em todos os momentos, mas sobretudo nos mais difíceis. Nos mais desafiantes.
Vamos ter (ainda mais) desportivismo, aceitando os resultados com elegância e mantendo o nível dentro e fora dos recintos desportivos.
Deixemos de fora quaisquer estratégias colaterais, quaisquer focos de conflito ou colisão. Deixemos para outras núpcias os desabafos mais irados, as reações explosivas, o palavreado exagerado. Não se esqueçam, vem aí o Natal.
Contrariem as emoções negativas que vos podem levar a dizer ou fazer o que não vos define. Tentem ter essa capacidade, essa inteligência emocional. Façam um esforço para controlar a impulsividade, mesmo quando a situação seja impossível de digerir. Transcendam-se. Supreendam-se na forma como lidam com a sensação de injustiça, com a adversidade e desilusão.
Procurem ser nas pistas, ringues, pavilhões e estádios a mesma pessoa que são em vossas casas, quando estão junto daqueles que mais amam. Tenham essa nobreza, esse discernimento.
O desporto cresce e valoriza-se através das palavras e atitudes dos seus principais atores. E como é Natal, tentem que essas sejam sempre as melhores possíveis.
Assumam esse compromisso convosco, como se fosse uma espécie de código de honra, uma obrigação moral.
Se a uma boa atitude somarmos muitas outras, o efeito positivo será inevitável. Não duvidem.
Os mais pequenos, os que vos adoram, aqueles que um dia querem ser como vocês, irão assimilar tudo o que nas suas idades é importante apreender. E é importante que apreendam o que importa.
Tornemos as coisas fáceis, tornemos as competições emotivas, tornemos os jogos exemplares.
A verdadeira mudança está em cada um de vós, em cada um de nós.
Vamos começá-la antes que se faça tarde, até porque o Natal está à porta.