Rafaelíssimo!

OPINIÃO12.10.202206:30

Ronaldo estreou-se na Seleção a substituir Luís Figo em agosto de 2003. 18 anos depois, Rafael Leão estreou-se na Selecção a substituir… Ronaldo. Coincidência ou sinal?...

C RISTIANO estava a dar os primeiros passos no Man. United de Alex Ferguson quando foi chamado à Seleção principal pela primeira vez, no verão de 2003. Tinha 18 anos e estreou-se num particular com o Cazaquistão, em Chaves (3-0), no dia 26 agosto. Felipe Scolari, que era o selecionador, fê-lo entrar ao intervalo para o lugar de… Luís Figo. Figo, então com 30 anos, era o líder indiscutido da Seleção e um dos melhores jogadores do Mundo. Havia ganho a Bola de Ouro do France Football e o World Player of the Year da FIFA, jogava no Real Madrid e estava no auge de uma carreira internacional até então sem par na história do futebol português - craque absoluto no Barcelona de Johan Cruyff, Bobby Robson e Louis van Gaal, craque absoluto no célebre Madrid dos Galáticos.

Rafael Leão chegou à seleção principal com 22 anos, no ano de 2021. Estreou-se num particular com o Catar, no estádio do Algarve (3-0), a 9 outubro. Fernando Santos, o selecionador, fê-lo entrar ao intervalo para o lugar de… Cristiano Ronaldo. Ronaldo, então com 36 anos, era o líder indiscutido da Seleção (ainda é) e um dos maiores desportistas da história. Uma lenda viva.

Ronaldo jogou dois anos ao lado de Figo na Seleção. Fizeram juntos o Europeu de 2004 (final) e o Mundial de 2006 (meia-final). No último jogo de Figo pela Seleção (contra a Alemanha, para os 3.º e 4.º lugares), Cristiano foi titular e Figo só jogou os últimos 13 minutos. Entrou para o lugar de Pauleta e ainda foi a tempo de fazer uma última assistência para Nuno Gomes. Portugal perdeu por 3-1. Lembro-me bem da primeira página d’ A BOLA no dia seguinte: «Já temos saudades» (de Figo). Mal sabíamos nós que o novo número sete da Seleção (e do Manchester United havia de levar a equipa nacional para um patamar acima daquele que a geração de ouro atingira.

Não sei se há algum simbolismo nesta coincidência (admitamos: deliciosa) de Ronaldo ter substituido Figo no jogo de estreia por Portugal e de, dezoito anos depois, ter sido substituído por Rafael Leão no jogo de estreia deste pela equipa nacional. 

O que sei, porque é público, porque é notório, porque entra pelos olhos da cara, é que Rafael Leão, agora com 23 anos, tem andado a provar no único sitio que interessa - no relvado - que é um jogador fantástico - mesmo! - capaz de decidir jogos (e até competições, veja-se como foi fundamental no primeiro scudetto do Milan em onze anos!...) à custa da força, do talento, da ginga e da velocidade que efetivamente tem. É claro que Ronaldo, como Messi, é um jogador de tal maneira único que não parece sensato apontar-lhe sucessor, até pelo peso esmagador da sua carreira e pela quase impossibilidade de a igualar - qual é o futebolista português que se atreve a presumir que pode vir a ganhar cinco Champions, cinco Bolas de Ouro, decidir n competições de topo e marcar mais de 800 golos? 

Não serei eu a fazer essa maldade a Rafael Leão, como não faço em relação a nenhum dos outros putativos sucessores da lenda. Mas creio que Rafael, a julgar pelo que tem feito nos relvados (repito: nos relvados) e, igualmente importante, pelo que tem evoluído (talvez Stefano Pioli esteja a ser o Ferguson que ele precisava para corrigir a atitude competitiva, suave e intermitente e tornar-se na  fera que está à vista…), é aquele que se encontra melhor situado para empunhar o facho que Ronaldo inevitavelmente vai ter de largar. Por uma razão muito simples: Leão não só é o mais excitante futebolista português da atualidade como parece ter pinta de estrela global, como antecipou há três anos o treinador Jorge Jesus numa entrevista que deu à Bola TV.

Leão tem merecido na Imprensa italiana (vejam as primeiras páginas que ilustram este artigo) o tipo de destaque que só os jogadores capazes de mobilizarem paixões e multidões conseguem ter. Como Figo teve no seu tempo. Como Cristiano continua a ter. 

Quem sabe se não estaremos perante o terceiro elemento de uma fabulosa dinastia de extremos nascida para reinar. 
 

BENFICA SEMPRE SEM MEDO  

E RA difícil a tarefa do Benfica em Paris, ainda que tenha subido ao relvado confortado com a notícia da derrota desta medíocre Juventus em Haifa (0-2). Pois bem. O Benfica não só repetiu a mostra de personalidade, confiança e caráter oferecida há uma semana na Luz - no fear! - como voltou a neutralizar o fortíssimo PSG, impondo novo empate. O duelo não foi tão interessante e intenso como o da semana passada, mas valeu pelas exibições de algumas personalidades fortes (João Mário, magnifico!, Otamendi e Enzo; Mbappé, Vitinha e Verratti…) e, claro, pelo resultado -  17.º jogo consecutivo do Benfica sem derrotas desde o inicio da época, uma marca formidável que deixa o alemão Roger Schmidt a um ponto da qualificação e a um jogo de igualar a melhor sequência de sempre do Benfica na Champions/ Taça dos Campeões (10 jogos sem derrota), conseguida por Jorge Jesus na época de 2011/2012 (chegou aos quartos de final). 

Nos outros jogos, destaco o triunfo categórico (2-0) do poderoso Chelsea de Graham Potter em S.Siro (confirmando que o Milan, generoso e atrevido à imagem de Rafael Leão, ainda não tem pedalada para colossos desta envergadura) e a bravura com que o Shakhtar Donetsk de Igor Jovicevic, no exílio forçado de Varsóvia, fez frente ao campeão europeu Real Madrid, que só evitou a derrota aos 90+5 (1-1) com um golo do central Rudiger. Um resultado cruel para uma equipa certamente devastada com os horrores infligidos pelos mísseis de Putin um pouco por toda a Ucrânia. Os deuses do futebol podiam ter forçado, neste caso, uma sentença de justiça poética…