Que pensar de modelo que não é bom nem mau?
Uma pantera chamada João Sem-medo
Durante as três últimas semanas, mal começava a tarde, todas as tardes, um país inteiro unia-se a sofrer, pleno de orgulho, por causa de uma guerra travada nas alturas. País inteiro? Bem, quase. Faltou uma declaração de incentivo do português mais conhecido de Itália. Mas o que agora interessa é que, haja o que houver, a nossa pantera desafiou as mais ferozes altitudes. Munida apenas da sua atitude e do verso camoniano:
É cuidar que se ganha em se perder
No fim partilharemos em uníssono as palavras do nosso campeão: «Foi um festival de sofrimento!»
Pois foi, João, pois foi. Muito obrigado!
Um inesperado axioma
Otécnico portista acaba de revolucionar todas as teses da Geometria pós-euclidiana: «O círculo só tem um lado», proclamou. Eureka!
O impacto desta incrível descoberta não poderia ser mais surpreendente, uma vez que até aqui se pensava exactamente o oposto, isto é, que o círculo era a única figura geométrica que não tinha nenhum lado.
Mister Jesus
Vai ficar para os anais o antológico depoimento de Jorge Jesus no chamado processo Football Leaks. Sem dúvida alguma que raras vezes terá sido tão acertado aplicar-se à Justiça a sentença segundo a qual «rir é o melhor remédio». Vamos lá a ver se, depois de apreciados os devidos recursos, o acórdão decisivo não concluirá que «ri melhor quem ri por último».
Coisas do Diabo?
SE eu acreditasse em demónios também seria tentado, estou em crer, a aceitar como verdadeiro aquele aviso sempre latente, qual ameaça: «O Diabo ensandece aqueles que quer perder.» Mas como explicar então a atracção pela vertigem do abismo inglês, dando sempre o consequente e fatal passo em frente? Palavra que jamais consegui entender a razão pela qual, época após época, o FC Porto decide operar, num qualquer jogo em Inglaterra, uma alteração nunca antes experimentada. Seja na táctica adoptada, seja na escolha do seu elenco. Com os resultados conhecidos. Ainda assim impõe-se a pergunta: o que terá passado desta vez pela cabeça do técnico portista?
E o que pensar do atraso de cinco pontos que já separa o actual campeão em título do seu principal rival, ainda no dealbar do campeonato? Talvez se possa responder dizendo que, precisamente porque a procissão mal saiu do adro, tal perda não é irreparável, como se viu na época transacta, quando recuperou um atraso de sete pontos.
E o que pensar da insólita e absurda circunstância de a equipa sofrer 8 (oito!) golos em três jogos consecutivos, pese embora seja um defesa-central (Pepe) o seu jogador em melhor forma?
E o que pensar das incontáveis (mas que deveriam ser contadas) vezes em que a equipa portista, em particular os quatro defesas e o médio mais recuado, se mostra absolutamente incapaz de começar uma jogada, preferindo - ou sendo obrigada a - atrasar a bola para o seu guarda-redes?
E o que pensar das substituições feitas já depois dos 90’, nomeadamente fazendo entrar mais um defesa quando está a vencer por um golo apenas?
Finalmente: o que pensar do corrente modelo de jogo? Que não é bom nem mau - simplesmente não existe? Ou subsiste enquanto sistema de meia-bola e força?
Tudo isto é lastimável. Mas ainda assim tenho de confessar que não é o que me custa mais. O que verdadeiramente mais me marcou foi ver o guardião do Dragão ser punido, no jogo de Alvalade, com um cartão amarelo (aliás, justo) por demora, aos 86 minutos de jogo, na reposição da bola em jogo. Ou seja, fazendo aquilo a que se chama «esperteza de jogar com o relógio». Como se o glorioso FCP pudesse sentir medo de qualquer equipa - repito: qualquer - para ter de se submeter à inconcebível prática de anti-jogo. E é a manifestação desse medo que deve ser liminarmente repudiada, por abominável. Perder? Sim, se e quando tiver de ser. Mas ter medo de jogar é uma humilhação que jamais poderá ser tolerada.
Dito isto, o que mais desejaria agora é que Sérgio Conceição convidasse o grupo de trabalho para, todos juntos, cantarem à capela o Capitão Romance, uma música de um grupo do Porto que atende pelo nome de Ornatos Violeta. Repetindo as vezes necessárias:
«Parto rumo à maravilha
Rumo à dor que houver pra vir
(…)
Pra sentir que eu sou capaz
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz»