Que grande Vitória!
«Que o próximo ano traga ao meu Vitória novas páginas para abrilhantar a sua História Centenária» (Foto: Grafislab)

Que grande Vitória!

OPINIÃO31.12.202409:15

'Sentido de pertença' é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1 Assim que terminou o jogo em Faro, com mais um empate sofrido nos últimos segundos, escolhi imediatamente o título para estas linhas: que grande Vitória! Se a irracionalidade é um pressuposto do futebol — de que não prescindo para acompanhar os jogos com pureza — não podemos também deixar condicionar a nossa análise pelos sentimentos de frustração que todos os vitorianos sentiram aos 98' do jogo de Faro.

2 Vejamos: o Vitória fez um jogo avassalador contra a Fiorentina. Não é exagero dizer que vulgarizou o 4.º da Serie A (o mesmo que esta semana foi empatar com a Juventus em Turim), apresentou um futebol ofensivo e destemido, podia ter marcado vários golos e acaba a sofrer o empate aos 87’. A seguir, frente ao Nacional, um jogo não tão bem conseguido, mas em que a superioridade face ao adversário foi evidente e suficiente. Menor caudal ofensivo, mas, ainda assim, jogo controlado. O Nacional empata aos 93’.

Este domingo em Faro, num São Luís praticamente lotado (parabéns ao Farense pela excelente casa e por ser o 7.º clube com maior média de assistências; clubes assim fazem falta à Liga), o Vitória deu a volta ao resultado após se encontrar a perder por 1-0, dominou o jogo todo, encostou o Farense às cordas e desperdiçou umas 10 oportunidades; sofremos o empate aos 98’.

Esta descrição revela mais inconseguimentos do que o seu contrário. Revela que há trabalho a ser feito, que não é admissível sofrer tantos golos (mais ainda nos últimos momentos das partidas), mas que diabo, essa circunstância não pode fazer-nos esquecer o jogo magnífico que fizemos. Vejo o Vitória há muitos anos e é muito raro ver o Vitória a apresentar-se com tamanha confiança, tamanho domínio, tamanha qualidade. E isso não pode ser obliterado quando analisamos como está a decorrer esta época. Já tivemos muitas vezes a sorte do jogo e temos tido o azar de vários jogos. Sucessivos. Mas olhando com justiça para o que se vê temos de reconhecer que é de elevadíssimo nível o futebol apresentado.

3 Falta-nos um avançado capaz. Com um meio-campo criativo e trabalhador, temos neste momento os dois avançados lesionados — Nélson Oliveira e Jesús Ramírez — mas independentemente dessa circunstância, felizmente passageira, sou de opinião que nenhum deles tem estado à altura da produção do resto da equipa. Creio que é aqui que se poderá justificar um esforço na abertura de mercado de janeiro.

Tenho sido sempre apologista de contenção e racionalidade financeira, que o Vitória aliás tem demonstrado. Não temos capacidade para entrar em loucuras porque o que vendemos esta época (mais os valores da Liga Conferência) não chegam sequer para cobrir o défice da época anterior, quanto mais o desta… Mas parece-me claro que a época que se está a fazer e a luta pela qualificação europeia que temos obrigação de atingir, justificam este ajustamento no plantel. Isto, já antevendo que possam ocorrer vendas em janeiro. É a consequência natural da excelente época que temos feito e da qualidade dos jogadores que temos.

4 De caminho, perdemos o Rui Borges para o Sporting. Melhor dito: o Moreirense perdeu o Rui Borges para o Vitória, o Sporting perdeu o Ruben Amorim para o Manchester United e o Vitória perdeu o Rui Borges para o Sporting. É assim o mercado, tanto quando funciona a nosso favor como quando funciona a nosso desfavor. Sobre isso há apenas a dizer exatamente aquilo que disse o presidente do Vitória, António Miguel Cardoso: «Quando um treinador manifesta vontade de sair, para nós, sai cinco minutos antes.»

Fecha o ciclo e imediatamente se abre outro. Daniel Sousa é o novo timoneiro e — com toda a sinceridade — apesar do murro no estômago que levámos temos de reconhecer que apresentámos em Faro um futebol de altíssimo nível. Toda a confiança no novo treinador. Toda a confiança, sobretudo, nos nossos atletas que saberão demonstrar serem eles o fator de diferenciação. E já de seguida temos precisamente o Sporting em Guimarães...

5 A culminar. Portugal está em terceiro lugar no ranking da UEFA desta época, apenas atrás de Inglaterra e Itália. O que quer dizer que está à frente de França, Alemanha, Países Baixos e… Espanha. Feito notável assegurado, até ao momento, pelos clubes portugueses. Sendo o Vitória — tantas vezes não considerado na dimensão que lhe é devida pelo potencial do que pode acrescentar ao futebol português — o clube português que mais contribuiu para esse ranking. Segundo na fase de liga da Conference League, atrás de Chelsea e à frente da Fiorentina. Com nove vitórias em onze jogos e ainda com o recorde de vitórias consecutivas de todos os clubes portugueses. Um feito inolvidável.

A época ainda vai a meio. Ainda não conquistámos nada. Mas temos de assentar no orgulho que temos no que fizemos até aqui como rampa de lançamento para o resto da época que aí vem. Manter a confiança, mas nunca perder a humildade. Seguimos juntos!

Um excelente 2025 a todos os desportistas e adeptos de futebol e que o próximo ano traga ao meu Vitória novas páginas para abrilhantar a sua História Centenária.