Políticas de mercado
Benfica e Sporting agitam já o mercado, mas não se pense que o FC Porto irá partir com atraso. Trata-se, apenas, de uma política diferente
DESDE que a época ficou definida em relação ao pódio do campeonato, iniciou-se... a nova época. É verdade que o FC Porto ainda tem uma Taça de Portugal para carimbar, o que deve ser devidamente considerado, mas Benfica e Sporting já estão no futuro, tal como a maioria dos clubes da Liga, salvo os que ainda vão ter decisões bastante penosas nesta última jornada.
Os media formais, apesar das naturais tendências para explorarem hipóteses de possíveis transferências que chegam, por vezes, através de fontes interessadas no negócio e por isso devem ser devidamente acauteladas, têm divulgado a agitação que por aí anda no mercado, com base na reformulação muito significativa do plantel do Benfica e na clara tentativa do Sporting ir além de uma consolidação e de dar um passo em frente no nível global da equipa. Será esse o seu principal objetivo.
Visto de longe e observando o movimento à luz do que transparece na comunicação social pode parecer que o FC Porto irá partir atrasado em relação aos seus dois rivais. Trata-se de uma ilusão de ótica. O que acontece de diferente no FC Porto é que existe uma política diferente de contratações, feitas quase sempre no maior sigilo, porque dependem de duas únicas pessoas (o presidente e o treinador) e que, por norma, são apresentadas pela comunicação social como factos consumados, não passando pela pública exposição da fase negocial.
Existem óbvias vantagens na política de mercado do FC Porto. Por um lado, evita especulações e desnecessárias perturbações internas, por outro, não cria condições para haver maior especulação de mercado e, por último, permite agir sem interferências externas, incluindo a de chamar a atenção de outros clubes internacionais com maior poder negocial para uma boa oportunidade. Dirão que esse secretismo também pode permitir interesses mais obscuros, mas isso seria preciso provar.
Não diremos que a política de mercado do Benfica e do Sporting é uma política de palco aberto, mas torna-se evidente a diferença sobre a capacidade de cada um em resguardar-se nas suas verdadeiras intenções.
Há, claro, situações inevitáveis. Dizer que Sarabia e Feddal não continuam é uma notícia oficial. Prever que o Sporting resolva diretamente essas saídas (difícil de resolver, a do espanhol, pela sua excecional qualidade) é, mais do que estar informado, uma questão de observação e bom senso. Daí que se tenha confirmado a anunciada vinda de Jeremiah St. Juste, já apresentado oficialmente.
Também se percebe que o Benfica, apesar da inflação de avançados, olhe para o mercado de uma forma gulosa se se vier a confirmar uma venda gloriosa do passe de Darwin Núñez. Aliás, não deixa de ser curioso e sintomático que Domingos Soares de Oliveira tenha vindo a público dizer que Darwin poderia ficar no Benfica, até porque financeiramente a SAD não tem uma necessidade imperiosa de o vender. É uma maneira inteligente de não baixar o valor de mercado do seu jogador.
Benfica espera grande encaixe com Darwin
Entretanto, vão sendo anunciados nomes de muitos candidatos a tornar mais competente e mais equilibrado um plantel que, talvez por ser de futebol, foi construído com os pés.
Formiguinha a passar despercebida, o FC Porto trabalha, pois, longe dos olhares públicos e agora, que está livre das correntes de restrição obrigatória imposta pela UEFA, acredita-se que aponte para a construção de um plantel mais forte, com escolhas criteriosamente já feitas e apenas dependentes do mercado internacional e das oportunidades de venda de alguns dos seus jovens valores.
DENTRO DA ÁREA – O CAMPEONATO DOS ÚLTIMOS
Será uma decisão a três. Dois descem e um deixa em aberto a esperança de ainda ficar. Tondela, Moreirense e B SAD jogam um jogo e um futuro. Vantagem teórica para o Tondela, que depende apenas de si próprio, jogando em casa com o Boavista; e desvantagem teórica da B SAD, que é a única que joga fora e que também dependerá de todos os outros.
São sempre jogos imprevisíveis, porque dependem muito da capacidade que cada equipa tiver para sustentar a pressão e fazer dela uma força para vencer na última oportunidade.
FORA DA ÁREA – A GUERRA E OS SEUS SOFREDORES
Na sua recente visita à Ucrânia, António Guterres lembrou que a guerra, nos tempos de hoje, é um absurdo. É verdade. De tal forma absurdo que, ao contrário do que registam os livros da História, no final de uma guerra não há só vencedores e vencidos. Há, sobretudo, vítimas sofredoras. E essas estão sempre dos dois lados das barricadas, entregam a vida, supostamente, pelos mais elevados valores da Pátria, mas são sujeitos passivos de outros valores inconfessáveis, porque a guerra a quase todos empobrece, mas enriquece alguns.