Paulinho é a 'Champions' do Sporting
'Hat trick' e o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1Paulo Jorge Gama. Quem? Simplesmente, Paulinho. O técnico de equipamentos do Sporting é uma unanimidade improvável neste universo futebolístico cada vez mais extremado e menos cordial. Gostam dele os adeptos leoninos, mas arrisco garantir que os seguidores de outras cores nutrem por ele a mesma simpatia e até admiração por um percurso notável.
Se há nomes que faz sentido associar ao lema do clube fundado a 1 de julho de 1906 por José Alvalade — Esforço, Dedicação, Devoção e Glória —, o de Paulinho é um deles. Na quinta-feira, 30 de janeiro, celebrou o 56.º aniversário de uma caminhada que começou marcada por tons sombrios, abandonado pela mãe, antes de se rasgarem horizontes de verde esperança.
Vale a pena lembrar as dificuldades psicomotoras daqueles primeiros tempos em Alvalade, onde chegou à beira de entrar na idade adulta, à boleia de um amor saudavelmente doentio pelo Sporting que a instituição que o acolhia julgou ser o motor para agarrar a vida na plenitude.
A 15 de maio de 1964, em Antuérpia, os leões venceram o MTK Budapeste, por 1-0, o célebre golo marcado na sequência de um canto direto saído do pé direito de Morais, triunfo que valeu a conquista da já extinta Taça dos Vencedores de Taças. Nas vitrinas do museu dos verdes e brancos constam honrarias a perder de vista, nacionais e internacionais, no futebol e em inúmeras modalidades. Mas um dos maiores troféus de que o Sporting se pode orgulhar, diariamente em exposição itinerante, tão reluzente como uma Liga dos Campeões celebrada no último minuto, chama-se Paulo Jorge Gama, o Paulinho.
Lembro-me de conviver com ele nas grandes quartas-feiras europeias do início do século, assim batizadas aqui em A BOLA, quando o Plateau, nas Escadinhas da Praia, era ponto de encontro fechada nova edição do jornal. Conversas de circunstância, ao som de boa música, sem nunca abrir a boca sobre qualquer assunto que marcasse a atualidade da equipa de futebol do Sporting.
Um guardião dos segredos de balneário, não admira que quem passou por Alvalade só diga maravilhas dele, quase como se fosse um filho eternamente criança a quem se quer bem e protege sempre.
Lage não é adepto
2 O benfiquista Fernando Santos ganhou o penta no FC Porto. O sportinguista Jorge Jesus ganhou três ligas no Benfica. Outro benfiquista, Ruben Amorim, cobriu-se de glória no Sporting. Nunca os três renegaram as origens para caírem no goto dos adeptos, sempre defenderam os emblemas que representavam e isso bastou para serem respeitados sem soarem a falso.
Bruno Lage gosta do Benfica e esse amor convive com a missão de treinar os encarnados. E é nisso — treinar — que o técnico se deve concentrar, ao invés de reagir aos resultados como o pior dos adeptos, eufórico em demasia após as vitórias, de cabeça perdida numa garagem ou parque de estacionamento perto de si selado um desaire.
Galeno na hora certa
3 Galeno despediu-se do FC Porto e deixou 50 milhões de euros nos cofres dos dragões, valor só superado pela saída de Otávio para o Al Nassr (€60 M). Desde que regressou aos azuis e brancos, no mercado de inverno de 2022, para substituir Luis Díaz acabado de se transferir para o Liverpool, assinou 44 golos e 21 assistências em 149 jogos, total de uma Liga, três Taças de Portugal, duas Supertaças e uma Taça da Liga.
O extremo brasileiro assegurou rendimento desportivo e financeiro e sai na hora certa, aos 27 anos, penalizado apenas por aqueles dois penáltis falhados frente ao Santa Clara que impedem uma saída em ombros.