Para lá da decisão legítima de Rui Costa
Os dados estão lançados, vamos ver como rolam. A partir de agora, o insucesso de Schmidt será arma de arremesso contra o presidente...
Ao decidir manter Roger Schmidt como treinador do Benfica em 2024/25, Rui Costa tomou a decisão mais arriscada da sua presidência. Como tive ocasião de escrever num passado recente, o histórico dos treinadores benfiquistas que começaram uma época fragilizados, essencialmente por contestação de uma parte significativa dos adeptos, está longe de ser brilhante (isto para dizer o menos), e numa das ocasiões até o presidente foi com a água do banho: depois de ter sido eleito em 1996, com 90 por cento dos votos, Manuel Damásio não resistiu ao mau começo (uma vitória, um empate e três derrotas) do treinador que, embora contestado, decidiu manter (Manuel José), e acabou por demitir-se, abrindo caminho à liderança desastrosa de Vale e Azevedo.
Rui Costa tem legitimidade para fazer as suas escolhas e um clube não pode ser gerido de fora para dentro. Mas haverá apenas um aferidor de mérito para o rumo por que o presidente do Benfica optou, que passa pelos resultados (especialmente os iniciais), sabendo-se que Roger Schmidt não contará com qualquer estado de graça que lhe dê margem de manobra.
Por tudo isto, torna-se claro que o Benfica não pode falhar de novo na construção do plantel, dando prioridade a algo que faltou de forma exponencial em 2023/24, o equilíbrio. Os melhores momentos de Schmidt na Luz, em 2022/23, aconteceram quando apresentou equipas onde todos atacavam e todos defendiam, faziam uma pressão alta que asfixiava os adversários, e eram capazes de manter os setores sempre juntos. Quando, na época agora finda, o Benfica sem Gonçalo Ramos perdeu o seu primeiro defensor, sem Grimaldo deixou de atacar pela esquerda, e com Di María deixou de defender pela direita, o equilíbrio eclipsou-se e sem ele a irregularidade comprometeu o sucesso. Rui Costa, que percebe a fundo de futebol, vai ter de devolver ao Benfica a coerência perdida, e a Schmidt meios para regressar ao tipo de futebol moderno que esteve na base da sua contratação. Mesmo assim, deverá estar consciente de que um eventual insucesso de Roger Schmidt em 2024/25 será usado como arma de arremesso contra a sua presidência. Os dados estão lançados, esperemos por ver como rolam, na certeza de que se o Benfica não for mais criterioso no perfil dos jogadores a contratar, o gelo em que vai patinar será insustentavelmente fino.