Os 'não' treinadores do Sporting

Direito ao golo é o espaço quinzenal de opinião de João Caiado Guerreiro, advogado

A Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF) apresentou queixa contra João Pereira por este não ter as habilitações necessárias para ser treinador principal do Sporting. Trata-se de uma medida corporativista em que a ANTF faz o seu papel defendendo os seus membros contra aqueles que não têm determinadas habilitações. Depois de Amorim, Frederico Varandas voltou a contratar um treinador sem o almejado grau 4 da UEFA. Será que corre bem de novo?

A lei — artigo 82 do Regulamento da Liga Portugal — diz que «Os clubes (...) devem proceder à inscrição (...) de um quadro composto por no mínimo dois treinadores, os quais devem possuir as seguintes habilitações mínimas (...): a) treinador principal: habilitação UEFA Profissional Grau IV (...)». Ou seja, João Pereira não se enquadra e como tal não pode ser considerado o treinador principal do Sporting. Mais, lê-se no Art.º 78 do Regulamento Disciplinar da Liga: «Quem exerça a atividade de treinador sem ter o grau regulamentar e legalmente exigido para a competição (...) é sancionado com suspensão de 15 dias a 1 ano.»

Como tal, o antigo internacional português também não pode dar as entrevistas de antevisão do jogo ou após o jogo. Estranho, ou não, é o facto da UEFA, que tem os mesmos regulamentos, ser bem menos exigente: o Sporting explicou a situação e João Pereira foi autorizado a estar nas conferências de imprensa antes e depois do jogo frente ao Arsenal. Critérios diferentes para a mesma questão ou apenas o puritanismo tão português?

Vamos ver o que decide a Liga Portuguesa, mas deseja-se bom senso, até porque a Liga já perdeu uma vez na contenda com Amorim — o não treinador — que recorreu para os tribunais comuns que lhe deram razão. Os tribunais portugueses não costumam ir nestas histórias corporativistas e os tribunais europeus ainda menos. Pressionada por estes em muitas questões a UEFA foi, desta vez, sensata. Decidiu não arriscar mais derrotas judiciais.

A mão pesada da Disciplina da FPF

O Conselho de Disciplina da FPF, liderado por Cláudia Santos, teve mão pesada no castigo que aplicou ao jogador Nuno Santos na sequência do incidente verificado no jogo da Supertaça em que o Sporting perdeu com o FC Porto (3-4 ap), em Aveiro. Recorde-se que decorrente da queda de um vidro, onde o jogador teve responsabilidades, segundo a FPF, uma menina sofreu ferimentos na cabeça. A sanção de oito jogos é raramente vista em Portugal. Nuno Santos não terá querido magoar ninguém. Mas magoou. A jurisprudência da liga indicaria uma sanção mais leve, mas o facto de o jogador estar lesionado e só regressar aos relvados na próxima época, pode ter tido influência. Penso, por isso, que se foi encontrada prova de que o jogador provocou a queda do vidro, a decisão foi aceitável: podia ter acontecido uma tragédia.

O Direito ao Golo vai para as equipas de vermelho: grandes vitórias do Benfica e SC Braga nas competições europeias.