Os desafios de Villas-Boas
Adeptos pedem muita coisa em campanha, mas no fundo o que ajuda mesmo é ganhar
Escrevi aqui, no início do ano, que quem vencesse estas eleições do FC Porto teria um trabalho difícil para sarar as feridas abertas em campanha até conseguir voltar a haver só um Porto. O que não sabia na altura - nem imagino que alguém tenha adivinhado até à noite de sábado - é que o FC Porto não estava, afinal, dividido.
De 19,5% para 80,3% vai uma longa distância e, apesar do choque inicial, penso que estes números até podem ajudar os portistas a seguir em frente. Porque são inequívocos e fruto de uma votação exemplar, democrática e sem quaisquer sombras a pairar sobre os resultados. A grande maioria escolheu as ideias, o projeto e a visão de futuro de André Villas-Boas e o próprio admitiu que uma votação tão expressiva lhe traz uma responsabilidade maior. (Re)unir estes 19,5% e 80,3% é o mais urgente desafio do novo presidente e as primeiras declarações de vitória têm ido nesse sentido. Mas, como em tudo no futebol, se a bola entrar na baliza vai ser mais fácil. Se não entrar...
28 abril 2024, 00:54
Villas-Boas para Pinto da Costa: «Esta é e sempre será a sua casa»
Presidente eleito dos dragões fala na sede de campanha após vencer as eleições
DESAFIO DAS CONTAS
Durante a campanha, a situação financeira do clube foi um foco constante e motivou grande parte dos ataques mais ferozes de parte a parte. Não foi por acaso: era precisamente aqui que as duas candidaturas chocavam mais e nunca como agora os sócios estiveram tão interessados em números. Mas quando Villas-Boas tomar posse, o desafio vai muito além de mudar a gestão do clube: vai começar a ter uma real noção de tudo e a tentação para uma caça às bruxas será grande. Se for por aí, desistirá do desafio da união. Se não for, pode ter de deixar cair algumas das ideias e projetos que lhe deram votos. No meio desta decisão, certo é que a bola poderá ajudar: se entrar na baliza, claro...
GANHAR AJUDA
Se isto já parece muito e difícil, vem aí outro desafio: ganhar. Se pensarmos bem, não é o mais complexo de todos. Não mete gratidão ou desejo de mudança, nem palavras esquisitas como governance ou folhas ilegíveis de Excel, nem terrenos na Maia ou no Olival, nem bilhetes para as claques ou representatividade feminina. É bem mais simples do que isso: para a presidência de André Villas-Boas satisfazer pelo menos os 80,3% de sócios que votaram nele e ainda convencer os 19,5% que escolheram Pinto da Costa, precisa de ganhar títulos. A herança neste campo é pesadíssima, já que ninguém ganhou tanto quanto o presidente agora derrotado. A campanha mostrou a estrutura e as pessoas (fora a dúvida com o treinador, o que não é pouco) que vão partir com Villas-Boas nesta exigente corrida, mas o que será mesmo, mesmo decisivo é se a bola entra ou não.
Para um presidente que recebe o testemunho de 42 anos de defeitos e virtudes de Pinto da Costa, será este o maior desafio. Enquanto treinador, Villas-Boas ganhou tudo numa época. Mas agora estará mais longe da bola que entra ou que não entra...