Os árbitros não são o principal problema. Mas são um problema

OPINIÃO06.02.202001:00

Vamos diretos ao assunto, falando apenas de três jogos, com os três grandes, nesta semana. Primeiro, a derrota do Sporting por 1-0 em Braga. Foi justa, ou injusta? Já se sabe que uma resposta a esta pergunta é razoavelmente subjetiva. Não me parece injusta a derrota do Sporting, mas não me pareceria injusto o empate, nem mesmo uma vitória do Sporting. Isto significa que jogámos bem? Não, de todo. Houve momentos em que pareceu, mas a maioria do jogo foi um desperdício.
Há, porém, algo que eu sei ser totalmente injusto. Não só eu; quase todos os comentadores, sendo eles do Sporting ou não. Cito Duarte Gomes neste mesmo jornal quando analisa os casos de arbitragem do jogo. Na altura em que Jorge Sousa apita para o intervalo «Neto é bem advertido por provocação a Galeno, o bracarense, que antes já protestara muito, tinha de ter visto o segundo amarelo pela reação que teve». Não se pode ser mais claro. Mas poderia continuar a citar Duarte Gomes, que escolheu os casos do jogo. Aos 57’ Wallace pisa Wendel de forma negligente, passível de cartão amarelo. Pois bem, apesar de sete jogadores do Sporting terem visto a cartolina, o que mostra o rigor de Jorge Sousa, Wallace safou-se… ao contrário de Acuña que levou com o cartão por uma falta igual. Mais uma vez recorri ao analista de arbitragem de A BOLA.
O Braga foi um justo vencedor? Vamos recolocar a questão: e se tivesse jogado toda a segunda parte com 10, após a merecida, mas não consumada expulsão de Galeno? O que teria acontecido? Ninguém sabe, mas seria outra história.
Volto a Duarte Gomes, agora no jogo do Benfica contra o Famalicão. Aos 70’, o árbitro Hugo Miguel não viu Gabriel a pisar Fábio Martins (e cito) «de forma muito perigosa com o pé direito». O lance que nem deu origem a qualquer falta «podia ter valido o cartão vermelho para o médio brasileiro do Benfica». Gabriel marcaria, 25 minutos depois, o golo que deu a vitória ao clube da Luz. No Académico de Viseu - FC Porto o árbitro João Pinheiro (e o VAR) não viu um penálti claro cometido aos 90’ por Luisinho sobre Corona, que poderia ter mudado o resultado. Do meu ponto de vista, ainda bem que não viu, já que torço pelo Académico. Mas é mais uma para o rol.
João Pinheiro, Hugo Miguel, Jorge Sousa - três jogos, três erros de palmatória. O problema está, também nos árbitros. Sem dúvida.
Acontece, ainda, que o Sporting é a equipa de toda a Liga que menos faltas precisa de cometer para mais amarelos receber. Porquê? Eis o que não sei, mas alguém devia investigar. Porque outros analistas de arbitragem dizem mais ou menos o mesmo que Duarte Gomes sobre o jogo do Braga, a que se pode acrescentar uma falta incrível marcada a Sporar num lance de ataque do clube, sem que ninguém tenha visto qualquer infração.
Não sei se deveria ser o presidente do Sporting a ameaçar fazer barulho; pode haver várias opiniões sobre o assunto. Sei, no entanto, que os sportinguistas estão fartos destas arbitragens jeitosas.

A célebre AG

Já se sabe que o Sporting nem seria ele, caso não existissem psicodramas. O último é de uma Assembleia Geral para destituir a atual Direção. O problema está em saber se os prazos estão a ser cumpridos, se o presidente da mesa, Rogério Alves, pode ou não aquilatar se há justa causa para se realizar uma assembleia magna com tal ordem de trabalhos e muitos outros pormenores que são, no geral, alvo de muitos palpites por parte de quem não sabe.
Evidentemente, há um problema com os Estatutos do Sporting, aprovados durante a presidência de Bruno de Carvalho: o facto de não serem democráticos. Ou seja, não há hoje qualquer contrapoder institucional no clube (no sentido dos freios e contrapesos recomendados em todas as organizações democráticos). Ao se aprovar que tanto o Conselho Fiscal e Disciplinar como a Mesa da AG são eleitos na mesma lista do que a Direção, lança-se um labéu sobre estes dois últimos órgãos. E por muito independentes que sejam os seus membros (e acredito que sejam) não deixam de ser parceiros do Presidente na mesma lista. Pior, acabou-se com o método de Hondt no Conselho Fiscal e Disciplinar, acabou-se com o Conselho Leonino e assim criou-se um sistema presidencial, no qual mais nenhuma candidatura tem representação em nenhum órgão.
De qualquer modo, e ainda que eu não consiga entender claramente o que dizem os Estatutos e, portanto, se é obrigatório convocá-la, parece-me do mais elementar bom senso que uma AG para destituir uma Direção passasse pelo crivo de alguém ou de algum órgão. Desde logo por este critério simples: num clube onde bastam mil votos (e isto são cerca de 300 pessoas) qualquer grupo de amigos pode convocar a destituição. Se não houver crivo sobre a existência de justa causa, podemos em teoria passar a vida em AGs. Por exemplo: perder 5-0 com o Benfica dá justa causa? Ir a 22 pontos do primeiro lugar é uma justa causa? Vender-se Bas Dost? Sei lá, há e houve tanta coisa de que não gosto que se arranjar um grupo de 100 pessoas (com o meu número de votos) posso passar a vida a convocar AGs. Resta como dissuasor o problema do pagamento. Mas aí também há várias coisas a discutir: porquê num pavilhão como o Altice Arena e não no João Rocha? E porque não no Multiusos do estádio? Ou no meio da rua, por braço no ar?
O certo é que as AGs costumam ser uma fonte de confrontos verbais e - caso não haja pronta intervenção - físicos. Necessitam de uma complexa organização e logística. Fazê-las sem que haja fundamentos, sem uma alternativa clara à demissão da Direção, só pode resultar numa abstenção medonha. Toda esta guerra é feita para isto mesmo: desgastar a Direção e abrir as portas a incógnitas. Até hoje só ouvi uma pessoa colocar a hipótese de candidatar-se: Carlos Vieira. A sua suspensão termina a 2 de março, mas poderá fazê-lo? O tempo que esteve suspenso não é uma interrupção da sua condição de sócio? E se for, não necessita de cinco anos ininterruptos como sócio para se candidatar?
Enfim, todas estas questões são entediantes e desnecessárias. Penso que a Direção do Sporting deve refletir bem sobre elas. Já se sabe onde está o problema: nos resultados. E de onde vem esse problema? Seguramente da falta de dinheiro, mas também da falta de competência e de jogadores. E isto, a somar ao já abordado problema dos árbitros é terrível.

E justiça?

Preferia não ter de falar nisto, mas é quase impossível não o fazer. Telegraficamente, pode dizer-se que, em Monsanto, o julgamento do assalto a Alcochete decorre de forma a perceber-se melhor o que se passou. E o que se passou não é bom para o Sporting, salvo num ponto: o Sporting soube afastar da Direção e dos lugares-chave aqueles que por ação, omissão ou criação de condições contribuíram para aquele momento negro da nossa história. Entretanto, começou o julgamento da morte de Marco Ficini, o adepto italiano atropelado por um membro de uma claque benfiquista (que não existe, como se sabe).
 Finalmente, ao fim de três anos, vai haver um veredicto. Embora, como o caso é com o Benfica seja sempre uma incógnita. Por último, Rui Pinto. Ontem, nestas páginas, Miguel Sousa Tavares fez uma série de perguntas que subscrevo. Se a Justiça não se pode basear em dados obtidos ilegalmente, não pode ignorar delitos, roubos, traficâncias e outras ilegalidades provavelmente cometidas. O que se passa sobre o que se soube, principalmente, do Benfica e das suas jogadas? Neste particular parece haver pouca ou nenhuma iniciativa das autoridades… mas pode ser que não. Talvez haja surpresas.
O certo é que todos os adeptos do Sporting, FC Porto ou Benfica que são honrados e probos quererão saber a verdade. Doa a quem doer, ainda que aos clubes dos próprios. Eu por mim falo.