Os árbitros de sofá

OPINIÃO31.07.202306:30

E se todos fizéssemos um exame da faculdade na disciplina mais difícil e todas as semanas?

Aduas semanas do início do campeonato que se joga no fim de semana de 13 de agosto, e a poucos dias da disputa da Supertaça entre o SL Benfica e o FC Porto, este artigo é dedicado aos árbitros. Aqueles senhores que todas as semanas são presenteados com alegações como «é incompetente, cego, foi comprado, jogamos contra 12, filho disto e muito filho daquilo».

O árbitro, o desprotegido do reino futebolístico, não tem descanso, já que as suas decisões são revistas por profissionais nos media e por cidadãos no sofá de casa, nos empregos, nos cafés. E mesmo que a arbitragem tenha sido boa, nunca ninguém fica 100% contente, já que há sempre aquele lançamento lateral que foi feito três metros à frente. E se os áudios do VAR fossem divulgados?

Presumo que dirigir um jogo não seja fácil. É necessária formação específica, preparação física adequada e os deveres são muitos: aceitar as nomeações para que são designados; comparecer aos jogos para que são nomeados; manter uma conduta (…) de retidão e verdade (…); comparecer para depor em inquéritos e processos (…). Tudo isto e muito mais no art.º 19º do Regulamento de Arbitragem. Mas a mais difícil, porque apesar de desprotegidos são humanos, deve ser: «Não emitir declarações (…) públicas (…) sem autorização prévia». Ou seja, os árbitros não se podem defender das acusações que lhes fazem. E se os áudios do VAR fossem divulgados?

As decisões dos árbitros estão sujeitas a um forte escrutínio: fazem um relatório com tudo o que se passou no jogo. Mas repare caro leitor, se no seu relatório «intencionalmente alterem, deturpem ou falsifiquem atos ocorridos no jogo ou prestem falsas declarações ou informações são punidos (…) com suspensão entre 6 e 10 épocas desportivas», art.º 189 do regulamento disciplinar da Liga. Duríssima norma para combater a corrupção, já que uma suspensão destas é o fim de uma carreira. Será mesmo que são todas as semanas «comprados»? Não me parece, mas e se os áudios do VAR fossem divulgados?

Mais, os árbitros são avaliados por observadores da FPF/FIFA, que fazem uma análise do seu trabalho em cada jogo, atribuindo uma nota final. E quanto aos conflitos de interesse, esses são muitos e definidos num anexo ao regulamento da Liga. Os próprios clubes podem queixar-se formalmente expondo uma arbitragem incorreta (art.º 95). 
 
É como se todos nós fizéssemos aquele exame da faculdade, da disciplina mais difícil, mas todas as semanas. E se a nota for má pode mesmo ser despromovido, perdendo o seu lugar na elite. Poucos de nós estamos sujeitos a tanto teste, correto? E se os áudios do VAR fossem divulgados?

Da próxima vez que me «queixar», caro leitor, vou lembrar-me do que acabo de escrever porque não é uma profissão nada fácil. Como tal, o direito ao golo vai para todos os árbitros, incluindo os do VAR, que vão fazer o seu melhor para que esta época desportiva seja um enorme sucesso. E, segundo Conselho de Arbitragem, «já com a divulgação de alguns áudios do VAR». Alguns não são todos, por isso resta saber quais.