OPINIÃO Os 12 trabalhos de Vítor Bruno

OPINIÃO08.06.202409:45

Novo treinador do FC Porto precisará de coragem e talvez força sobre-humana

Não serão exatamente 12, nem Vítor Bruno é Hércules ou chegará a ter de lutar contra monstros, como conta a narrativa grega, mas o novo treinador do FC Porto precisará de coragem e talvez de alguma dose de força sobre-humana para enfrentar o enorme desafio que tem pela frente.

Nunca seria fácil substituir Sérgio Conceição, um treinador com um perfil profissional e público muito especial, amado pelos adeptos e incontornável na história recente do clube, que durante as últimas sete temporadas foi muito mais do que um treinador, foi a personificação da identidade portista e conquistou três Campeonatos, quatro Taças de Portugal, três Supertaças Cândido de Oliveira e uma Taça da Liga.

Seria, e será, ainda mais difícil a afirmação quando se trata da primeira experiência de Vítor Bruno como treinador principal e ainda por cima vindo do lugar de técnico-adjunto precisamente de Conceição.

Vítor vai ter lutar para conseguir provar que é bom treinador para o FC Porto e ao mesmo tempo lutar contra o fantasma de Sérgio Conceição, que provavelmente lhe vai continuar a puxar os pés durante algum tempo. A forma como Sérgio Conceição foi despedido do FC Porto e a reação que teve ao saber que o seu antigo adjunto iria ocupar o seu lugar diz tudo. Conceição sente-se traído, já o confessou em comunicado, e prometeu contar ainda mais sobre este caso. Podia ter-se sentido traído e ter dito tudo o que tem para dizer a Vítor Bruno em privado, a bem da estabilidade que seria desejável para o futuro imediato do FC Porto, mas não, foi espalha-brasas e quem se pode queimar mais é, claro, o novo treinador principal. Independentemente do lado em que estiver a razão.

Mas tudo isto, como quase tudo no futebol, muda à velocidade de um golo, de uma vitória, de um título. Fatores que a partir de agora são da responsabilidade de Vítor Bruno e que vão depender não apenas da sua competência como treinador mas também da competência para mudar o chip de um balneário que conhece bem, mas onde continuam alguns elementos muito próximos de Sérgio Conceição. Em especial o filho, Francisco Conceição, estrela emergente do futebol português. O profissionalismo não será certamente colocado em causa, mas pode ser difícil receber ordens e olhar nos olhos de um homem que o pai considerou um traidor.

Há também Pepe, uma extensão do passado recente, mas o defesa-central estará de saída, aos 41 anos.

Vítor Bruno terá as suas convicções e tem, pelo menos, o conforto de não estar sozinho nesta transformação do FC Porto. André Villas-Boas, o novo presidente, terá igualmente os seus próprios demónios para exorcizar e precisa de provar que é o homem certo para, neste caso, liderar o universo portista.