André Villas-Boas, presidente do FC Porto
André Villas-Boas, presidente do FC Porto. Foto: Grafislab

OPINIÃO O vazio que o FC Porto deixa

OPINIÃO10.04.202509:45

Sem VAR o golo de Pavlidis no Dragão aos 42 segundos teria sido anulado. As conversas seriam hoje, seguramente, outras. Como aconteceu, vá lá, durante 42 anos

Avitória do Benfica sobre o FC Porto no Dragão por 4-1 foi mais que a afirmação da candidatura dos encarnados ao título, reforçada, no dia seguinte, com o empate entre Sporting e SC Braga. Se a analisarmos numa perspectiva mais abrangente é ainda mais representativa do momento do FC Porto e do que significa (e pode significar) para o futebol português.

Com seis jogos até ao fim, a corrida pela conquista do campeonato é, agora ainda mais evidente, a dois, entre Benfica e Sporting, com seis jogos até ao fim. Ficou também mais claro, que o FC Porto, a 12 pontos de distância do primeiro lugar, poderá ter de contentar-se com o terceiro, no qual acabou a época anterior, com menos 18 pontos que o Sporting.

Os últimos meses e anos do FC Porto, que durante muito tempo foi a força dominadora do futebol português, por diversas razões, deixaram a nu fragilidades que mais depressa se identificavam em Benfica ou Sporting. A política desportiva discutível, mesmo sob o condicionalismo de um colete de forças financeiro que clube e SAD foram obrigados a vestir por políticas desastrosas, algumas destapadas por auditoria, ajuda a explicar o atual momento. Mas é apenas um dos motivos.

O FC Porto tentou recriar as condições de antigos clássicos, recorrendo a expedientes conhecidos, mas, sabemos bem, a cópia nunca é tão boa como o original. De comunicados que se dispõem à classificação de incendiários ao anúncio do presidente de que o clássico era o jogo da época, como se uma vitória a pudesse salvar, da tentativa cómica de Martín Anselmi atirar toda a pressão para o Benfica, como se fosse melhor nada ter a perder que ter a perder a liderança, à música em elevados decibéis que foi oferecida aos adeptos dos encarnados que ficaram no Dragão, no fim do jogo este novo FC Porto ainda está preso a um passado que em muitas circunstâncias despreza e do qual ainda não se consegue libertar.

Alemão analisa palavras do treinador do FC Porto após a derrota no Dragão com o Benfica, na 28.ª jornada da Liga.
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Já aqui escrevi que Villas-Boas fez caminho e cortou, com coragem, com práticas que chegaram a tribunal. Nunca seria fácil para o presidente do FC Porto. Desde logo porque as viúvas do antigo regime, populistas de trazer por casa, algumas agora sem muito que fazer, só estavam à espera que o fracasso batesse à porta, para se sentirem reforçadas nas convicções e terem o prazer de likes e retweets que as redes sociais oferecem.

O FC Porto, para todos os efeitos, já deixou um vazio na liderança do futebol português. Desconhece-se, por enquanto, se será grande ou pequeno, curto ou prolongado, e quem o ocupará, afinal no futebol tudo muda depressa, mesmo que, nos nossos dias, a incerteza possa consumir os adeptos e sócios do FC Porto na medida exata em que o entusiasmo alimenta os adeptos e sócios de Benfica e Sporting.

O que é certo e disso temos variados exemplos é que o medo que muito tempo demora a construir-se depressa desaparece. Sobretudo — apesar de nem sempre ser tão óbvio — numa sociedade cada vez mais exigente, informada e que tudo e nada escrutina.

Também é certo que sem VAR o golo de Pavlidis no Dragão teria sido anulado. E as conversas seriam hoje, seguramente, outras. Como aconteceu, vá lá, durante 42 anos.