André Villas-Boas, presidente do FC Porto
André Villas-Boas, presidente do FC Porto

Villas-Boas: «Eleições da Liga? Há conluio, facilitismo, favoritismo e o sonho de um eldorado em direitos audiovisuais»

NACIONAL04.04.202512:00

Presidente do FC Porto aborda não ida de Pedro Proença para o Comité Executivo da UEFA e ataca Benfica e Sporting

No artigo que assina na revista Dragões da edição do mês abril, André Villas-Boas volta a falar de temas sensíveis que marcam a atualidade do futebol português, desde a não eleição de Pedro Proença para o Comité Executivo da UEFA, mas também as eleições para o próximo presidente da Liga, deixando nesse particular duras críticas a Benfica e Sporting.

«Não poderia terminar sem me referir aos acontecimentos recentes e lamentáveis, que vieram colocar em destaque a paz podre em que o futebol português vive há vários anos. Com um elenco federativo eleito há cerca de um mês, um comité olímpico ainda mais recente e em pleno processo eleitoral para a Liga, com a aproximação de exigentes desígnios como a candidatura à receção do Europeu de Futebol Feminino no nosso país, em 2029, e a coorganização do Mundial em 2030, é fundamental agir com bom senso e responsabilidade para não manchar ainda mais a reputação do nosso país nas mais altas instâncias do futebol europeu e mundial. Teria sido muito importante manter um representante no comité executivo da UEFA e estar no cerne das discussões críticas que marcam o futebol mundial. Por conseguinte, é fundamental congregar esforços e encurtar distâncias entre instituições para recuperar a nossa posição no próximo mandato», criticou, prosseguindo o seu raciocínio: «É por isso que todos temos de nos preocupar com as eleições da Liga. Deveríamos estar a discutir propostas, equipas, planeamento, estratégia, valorização e crescimento, e deveríamos fazer perguntas e obter respostas dos candidatos na cimeira de Presidentes da Liga. No entanto, o que está a acontecer é o oposto. Há conluio, facilitismo, favoritismo e o sonho de um eldorado em direitos audiovisuais que jamais chegará, como facilmente se pode perceber pelas tendências recentes noutros países europeus e com ligas melhor classificadas», acusa.

André Villas-Boas não se conforma e continua ao ataque: «A quem interessa que continuemos a viver nesta paz podre por mais tempo? A quem interessa, como já referi publicamente, um certo desalinhamento entre os três grandes e continuarmos a adiar discussões sobre a centralização dos direitos televisivos, o VAR e outros temas que continuam em atraso? A quem interessará dar um passo atrás no caminho para a dignidade, transparência e ética do futebol português? A quem interessa esta vacuidade? A quem interessa? Nós sabemos a resposta. Os nossos rivais e outros situacionistas também sabem disso, mas não lhes interessa. O fado do futebol português não é ser pequeno; temos de dar passos em frente. Para esse propósito maior, só para esse, contem com o FC Porto», promete.

O artigo assinado por Villas-Boas na íntegra:

Março foi mais um mês repleto de acontecimentos relevantes. Avançámos com serenidade no rumo que pretendemos para o nosso futuro, com o envolvimento de todos, essencial para sermos fiéis à estratégia traçada. Um clube que investe sustentadamente em si próprio.

É da mais elementar necessidade destacar o sucesso que obtivemos com o empréstimo obrigacionista que lançámos. Inicialmente pensado para um valor de subscrições até 30 milhões de euros, atingiu quase 60 milhões de euros. Com uma gestão financeira rigorosa e um controlo de gestão efetivo, reconquistámos a confiança do mercado. No entanto, o que mais satisfação nos trouxe foi o facto de, para além de investidores institucionais, muitos portistas particulares terem acorrido à subscrição. Trata-se de um sinal claro do envolvimento dos sócios e simpatizantes na construção do futuro do FC Porto. Estamos fortes e colocamos em primeiro lugar o que para nós é sagrado: continuar a ser um clube de topo, propriedade dos seus sócios, e não cair nas mãos de terceiros, cujo amor pelo FC Porto nunca será como o nosso.

Outra importante manifestação da nossa vitalidade vem do nosso basquetebol. Foi um mês cheio, que começou com a renovação contratual do treinador Fernando Sá. Jogador formado nas escolas portistas, agora treinador, alguém cuja forma de ser, de treinar, de estar no banco e de contactar com os sócios e simpatizantes ilustra bem os valores do Portismo. Mas não ficamos por aqui. Também Miguel Queiroz festejou connosco a bonita marca dos 500 jogos de Dragão ao peito, devolvendo todo o nosso carinho ao revelar-se o jogador mais valioso (MVP) da final da Taça de Portugal que vencemos, «sem espinhas», com todo o brilhantismo, contra o nosso rival. O Miguel não nasceu portista, aprendeu a ser portista, porque amar este clube, unir a voz à gente autêntica que enche as bancadas, ser trabalhador, exigente consigo próprio, batalhador, viver para o grupo e estar envolvido com o clube com intensidade e verticalidade são ingredientes que marcam. Hoje, o Miguel é um exemplo para muitos que procuram um modelo de Portismo.
Orgulho e emoção foi o que também senti ao ler a extensa entrevista de Rodrigo Mora que preenche esta edição da Revista Dragões. Mora é ainda um jovem, um «menino», mas escutar sair da sua boca, com uma segurança granítica, expressões como «o FC Porto representa a ‘união’, ‘o nunca desistir’ e ‘a paixão que temos pelo clube e pela cidade», perceber que o seu «maior sonho» por concretizar é o de «ser campeão nacional», pois para «um miúdo que cresceu no FC Porto» e que é «portista», «ir aos Aliados é uma coisa especial», enche-nos de certezas e a principal é: Estamos cá para vencer, trabalhamos para isso diariamente e vamos vencer porque somos Porto.
No entanto, há ainda muitos desafios pela frente.

Por isso, não poderia terminar sem me referir aos acontecimentos recentes e lamentáveis, que vieram colocar em destaque a paz podre em que o futebol português vive há vários anos. Com um elenco federativo eleito há cerca de um mês, um comité olímpico ainda mais recente e em pleno processo eleitoral para a Liga, com a aproximação de exigentes desígnios como a candidatura à receção do Europeu de Futebol Feminino no nosso país, em 2029, e a coorganização do Mundial em 2030, é fundamental agir com bom senso e responsabilidade para não manchar ainda mais a reputação do nosso país nas mais altas instâncias do futebol europeu e mundial. Teria sido muito importante manter um representante no comité executivo da UEFA e estar no cerne das discussões críticas que marcam o futebol mundial. Por conseguinte, é fundamental congregar esforços e encurtar distâncias entre instituições para recuperar a nossa posição no próximo mandato.
É por isso que todos temos de nos preocupar com as eleições da Liga. Deveríamos estar a discutir propostas, equipas, planeamento, estratégia, valorização e crescimento, e deveríamos fazer perguntas e obter respostas dos candidatos na cimeira de Presidentes da Liga.

No entanto, o que está a acontecer é o oposto. Há conluio, facilitismo, favoritismo e o sonho de um eldorado em direitos audiovisuais que jamais chegará, como facilmente se pode perceber pelas tendências recentes noutros países europeus e com ligas melhor classificadas.
A quem interessa que continuemos a viver nesta paz podre por mais tempo? A quem interessa, como já referi publicamente, um certo desalinhamento entre os três grandes e continuarmos a adiar discussões sobre a centralização dos direitos televisivos, o VAR e outros temas que continuam em atraso? A quem interessará dar um passo atrás no caminho para a dignidade, transparência e ética do futebol português? A quem interessa esta vacuidade?
A quem interessa? Nós sabemos a resposta. Os nossos rivais e outros situacionistas também sabem disso, mas não lhes interessa.

O fado do futebol português não é ser pequeno; temos de dar passos em frente. Para esse propósito maior, só para esse, contem com o FC Porto.

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Análise de Bruno Francisco, comentador de A BOLA.
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