O sueco que mudou o Sporting
O Sporting descobriu em Viktor Gyokeres um precioso diamante onde todos os outros apenas pareciam ver um vidro baço e sem grande valor
O futebol é sempre a verdade do momento e por isso já ninguém se lembra do tempo, que parece, agora, muito distante, em que Rúben Amorim, fustigado por críticas que apontavam o dedo a um Sporting inocente e frágil no ataque, garantia que a solução não estava em mais um ponta de lança. Afinal estava.
Os mágicos do circo tiram coelhos da cartola. Os mágicos de cartola do futebol descobrem diamantes onde todos os outros apenas veem vidros baços e foscos.
Não terá sido, pois, por mera questão de sorte, que o Sporting descobriu, no pouco esplendoroso Coventry City, um sueco que tinha andado a pular entre este clube e o Brighton e continuava a ser uma esperança adiada. Viktor Gyokeres, nascido em Estocolmo, filho de um antigo futebolista de descendência húngara, começara a sua carreira no desconhecido Brommapojkarna, nos arredores da capital sueca. Quatro anos depois, logo após a sua primeira experiência em Inglaterra, a carreira de Gyokeres ganhava força com o salto para o St. Pauli, clube alemão da zona de Hamburgo, e que lhe oferecia um contrato mais entusiasmante. Não resultou.
Cedo os alemães desistiram dele e, de novo em Inglaterra, a sua carreira marcou passo com contratos modestos, sobretudo para a realidade do futebol inglês.
E foi neste limbo de crescimento que apareceu o Sporting com uma oferta irrecusável para o Coventry: vinte milhões de euros!
Todos estranharam a opção. Para um clube com um treinador que assegurara, antes, que a solução não estaria num ponta de lança, o Sporting aparecia, surpreendentemente, a colocar todas as fichas em Viktor Gyokeres, um ponta de lança que tinha a referência de ser internacional sueco, mas que estava longe de despontar como alguém que pudesse chegar ao Sporting e fazer a diferença. Apesar disso, o Sporting tinha disponibilizado vinte milhões de euros, que não sendo muito para contratar um avançado de dimensão internacional, era manifestamente um risco para o patamar financeiro do Sporting.
A escolha viria a afirmar-se como uma descoberta notável. O vidro era mesmo um diamante. Agora que Rúben Amorim o lapidou com o saber e o talento de um artista que, da pedra, revela a joia, a Europa ficou atenta, invejosa e seduzida. Em especial os ingleses que o tiveram à porta de casa e que passavam por ele sem o ver.
A verdade é que Viktor Gyokeres transformou o Sporting e mudou a opinião de Rúben Amorim sobre a importância de um ponta de lança na sua equipa. Com Gyokeres, o Sporting tornou-se uma equipa que intimida o adversário, que o mantém em respeito, que o condiciona. O atacante sueco tem a força de um gladiador de Roma, a intuição e a precisão necessária a um goleador de qualidade mundial, a generosidade e a humildade competitiva que fazem dele um trabalhador incansável para a sua equipa, algo que não é muito comum em jogadores que sabem que marcam a diferença e que resolvem jogos.
Não tenho dúvidas. Com Gyokeres, o Sporting volta a ser um sério candidato ao título. Não apenas porque é mais forte no ataque à baliza do adversário, mas também porque todos esses adversários, dos menos aos mais qualificados, jogam mais presos à sensação de perigo. Eles sabem que o Sporting tem um avançado poderoso, capaz de fazer golos, apesar de marcações diretas, e capaz, pela sua mobilidade e pela sua inesgotável resistência física, de destruir os sistemas defensivos mais organizados. É evidente que será difícil o Sporting conseguir manter um jogador deste nível em Alvalade. Mas o que conta é o presente.