O Sporting não deve assumir-se candidato ao título

OPINIÃO04.02.202106:05

A justiça dos resultados desportivos tem de resultar do que se passa em campo e não das manobras, mais ou menos habilidosas, das secretarias

SE me perguntarem se eu, honestamente, e tentando despir-me de qualquer clubismo, entendo que o Sporting mereceu ter ganho ao Benfica, respondo que sim. Mas se a pergunta for: um empate seria injusto? Com a mesma honestidade teria de dizer que não.
Para além da muita vontade do Sporting em ganhar, o que lhe dá o merecimento em tê-lo conseguido aos 92 minutos, o facto de alcançar o triunfo fruto de um erro de um guarda-redes experiente, é sempre uma questão de sorte. Acredito que um benfiquista sinta que o resultado não foi justo, mas saliento que este é o tipo de justiça que decorre do que se passa em campo, da sorte e azar de cada jogador, de cada equipa, de cada momento. Jardel lesionou-se aos 11 minutos, e isso foi uma dessas incidências próprias de uma partida. Quando aos 39’ Neto falha um golo de cabeça que parecia feito, ou quando Palhinha, por centímetros não faz um golaço, continuamos nessas justiças ou injustiças próprias de um jogo, que tem sempre o atrativo de um resultado inesperado. Acaso soubéssemos de antemão os resultados do esforço de cada equipa, perdia o jogo o seu encanto.
Coisa diferente são os golpes de secretaria. Que sentido faz manter a penalização de um jogador injustamente penalizado? Injustiça essa reconhecida por toda a gente, por todos os árbitros, pelo juiz da partida que a sancionou? Não será igual a deixar um inocente na cadeia, mesmo depois de se saber que não cometeu delito nenhum?
Bem andou Rúben em não colocar João Palhinha em jogo, fazendo-o apenas já passara uma hora de jogo, e quando João Mário sentiu uma lesão, que provavelmente o deixará de fora do próximo desafio, amanhã, no Funchal, contra o Marítimo.
A questão não está em saber se Matheus Nunes cumpriu ou fez esquecer a ausência de Palhinha. Claro que sim, foi o homem do jogo e marcou o golo. O problema está em verificar que quem decide desta justiça não é justo. Que o Conselho de Disciplina e a Dr.ª Cláudia são de pouca confiança. A questão é perceber que recorrendo o jogador para um tribunal comum, o Tribunal Central Administrativo do Sul, onde ganhou a suspensão da aplicação da pena que lhe fora imposta, o CD não se conforma. E já há quem fale na hipótese de o Benfica poder ganhar o jogo na secretaria (o que seria juridicamente impensável) ou, pelo menos, manter a suspensão de Palhinha para o próximo jogo, o que é desportivamente condenável.
Estes truques de secretaria, de estruturas do futebol que se julgam acima da lei comum, devem acabar imediatamente. Entendo que o Sporting faz muito bem em exigir a demissão, nomeadamente da deputada do PS e jurista Cláudia Santos, e não creio que o presidente da FPF, Fernando Gomes, que tem demonstrado bom senso e isenção, se reveja nos métodos daquele CD da sua Federação.
 

A candidatura 
 

Acomunicação social anda sempre a perguntar quando é que o Sporting se assume como candidato ao título. Muitos jornalistas (meus camaradas de profissão) atropelam-se a perguntar a Rúben quando dará ele esse passo.
Depois da vitória sobre o Benfica, o treinador sportinguista disse o mesmo que tem vindo a dizer: a 10 minutos do fim do último jogo em que isso possa ser decidido. Faz bem. E, muito embora, ele tenha dito que isso poderia desgostar alguns sportinguistas, penso que não há razão para tal e que o Sporting, efetivamente, não deve assumir-se como candidato. Não por uma questão defensiva, como poderia ser o caso (e não era um erro se o fizesse), mas porque o objetivo do Sporting este ano não é, nem nunca foi, o título (que eu saiba).
Naturalmente, uma equipa que a um jogo do fim da primeira volta está em primeiro, com o FC Porto a quatro pontos e o Benfica e o SC Braga a nove, tem condições para poder vencer o campeonato. Porém, uma coisa é ter condições, outra é ter esse objetivo como primordial. Caso Rúben e a Direção do Sporting colocassem como objetivo a vitória na I Liga, teriam de assumir que fracassavam na época, caso o não conseguissem. Ora esta é, para já, uma época tudo menos fracassada. E, mesmo que o Sporting venha a perder a vantagem para o FC Porto, a época será um sucesso se nos levar à Champions diretamente. Perder o avanço para o FC Porto não é algo extraordinário. É certo que o Sporting nunca perdeu nesta Liga, e tem apenas três empates (dois em casa, FC Porto e Rio Ave, e um fora, Famalicão). No entanto, no final deste mês tem de ir ao Dragão e se perder, a vantagem para o FC Porto fica apenas de um ponto, se entretanto as duas equipas mantiverem os mesmos resultados. Depois disso, numa equipa tão jovem, mesmo reforçada, qualquer escorregadela por culpa própria ou por arbitragens manhosas, como já vimos tantas, é possível. Mas se o campeonato chegar ao fim, com o FC Porto a ir à Luz e, cerca de 15 dias depois, lá ir o Sporting, ambos perante um Benfica com certeza aflito para chegar à Champions; estando o SC Braga, eventualmente na luta, e ainda o V. Guimarães, e quem sabe se o Paços, não se pode dizer que não é um final de Liga emocionante… Nem que, se o Sporting assegurar, senão o primeiro, o segundo lugar, não seja uma época que pode marcar uma viragem histórica no desempenho desportivo do futebol dos leões.
Candidatos ao título? Sim, se conseguirmos di-lo-emos quando, e se, for matematicamente impossível perdê-lo. Candidatos a uma época inesquecível? Com certeza! Sem dúvida! A primeira volta já o demonstrou, e esperamos todos, com afinco, que a segunda o confirme. 
 

Matheus Nunes, 22 anos, resolveu o dérbi com um golo apontado aos 90+2’


Os reforços
 

PAULINHO, Matheus Reis e o nosso velho (não de idade, mas porque passou alguns anos em Alvalade) João Pereira vão reforçar o plantel. Parecem-me nomes acertados. Até me irrita um pouco concordar tanto com Rúben Amorim, a melhor contratação do Sporting deste século, mas manda a verdade dizer que são aquisições absolutamente lógicas.
Não sendo eu daqueles que dizia mal de Sporar, reconheço que Paulinho tem características, como jogador e goleador, não só superiores às do esloveno, como se adapta melhor ao estilo de jogo que o treinador pôs em prática no Sporting. É hábil a jogar em tabelas, ágil e oportuno a marcar golos. Não foi por acaso que o prudente Fernando Santos o convocou há três meses para a Seleção Nacional. João Pereira supre a falta de alternativa a Porro, que é um mouro de trabalho e um jogador fundamental. Por isso mesmo, corre o risco de um dia (bato na madeira) poder ficar lesionado. Matheus Reis joga do outro lado e poderá fazer várias posições. O facto de se entender muito bem com o foguete Nuno Santos é também um ponto a favor dele.
Naturalmente, a entrada de Paulinho, sobretudo, terá de atirar para o banco um dos da frente - Tiago Tomás será o mais óbvio, e é pena, porque é sempre pena um jovem que se esforça e joga tão bem, ficar no banco. Porém, é assim em todas as grandes equipas e sei que Rúben dará oportunidades a todos, consoante a forma e o estado de ânimo que vão tendo ao longo da época. Confesso que quando Adán foi para a baliza eu pensei no que vinha o espanhol adiantar em relação a Max, o nosso querido guarda-redes. Confesso que já percebi e alegra-me ver que Max continua no banco e fora dele com a mesma alegria, como se vê na foto (no balneário, após a vitória sobre o Benfica) onde não mostra menos contentamento (talvez pelo contrário) do que Adán. Como, aliás mostram outros suplentes não utilizados sistematicamente, como Antunes, Quaresma ou Joelson. É isto uma equipa e só se ganha tendo uma equipa. 
 

Preçário

Rúben afirmou que há equipas que gastam num único jogador o que o Sporting gastou em todos. É verdade. Darwin, aquele rapaz que esteve fora de jogo e fora do jogo (créditos da piada para Gonçalo Guimarães) custou tanto quanto o Sporting gastou em todos. Acho que foram €25 milhões. 
 

Paços

Já várias vezes elogiei o Paços. Mas é extraordinária a campanha que tem vindo a fazer. O clube tem quatro vezes menos o valor de mercado do SC Braga; menos de metade do V. Guimarães; um sétimo do Sporting; um décimo do FC Porto e 12,5 vezes menos do que o Benfica. Aliás o Benfica, sendo o mais gastador, é o clube que menos rentabiliza o plantel.