O Sporting já esteve pior mas nunca pensei vê-lo assim

OPINIÃO23.01.202001:00

Caro Frederico Varandas, venceu as eleições de 8 de setembro de 2018 e com isso pensávamos ter encerrado um ciclo destrutivo da identidade do Sporting e começar uma época de recuperação de valores e de resultados. Talvez tenha sido dos presidentes que mais esperança concitou. O principal adversário derrotado (com mais votantes, mas menos votos), João Benedito, numa atitude que só o engradece, nunca levantou qualquer obstáculo ou dificuldade à sua liderança.
O presidente, no âmbito dos seus poderes e prerrogativas, despediu José Peseiro e contratou Marcel Keizer; no âmbito dos mesmos pressupostos, despediu Marcel Keizer e contratou Silas. Foi ainda por decisão sua, da sua equipa técnica ou por necessidades imperiosas, que vendeu Nani, Bas Dost, Raphinha, Thierry Correia e outros. Foi nas mesmas condições que foi buscar Luiz Phellype, Bolasie, Borja, Doumbia e mais alguns. Também se deve a si e à sua equipa a indefinição sobre a venda de Bruno Fernandes, tanto no Verão, como nesta janela de janeiro. No meio disto, chegou a pensar aumentar o seu salário.
Os resultados estão à vista.
No Campeonato, ou modernamente Liga, vamos a 19 pontos do Benfica, em quarto lugar, depois do FC Porto e do Famalicão e com o SC Braga a morder-nos as canelas.
Na Taça de Portugal fomos eliminados pelo Alverca, que joga no Campeonato de Portugal, ou seja, na velha III Divisão.
Na Taça da Liga fomos terça-feira eliminados pelo SC Braga.
Das duas Taças que ganhámos o ano passado não podemos reconquistar nenhuma. E se chegámos às meias-finais da Taça da Liga foi devido a uma conjugação de resultados favoráveis, pois começámos a competição a perder em casa com o Rio Ave, tendo depois beneficiado do facto do Rio Ave ter perdido, inesperadamente, em casa com o Gil Vicente.
Resta-nos a Liga Europa. É humor negro pensar que a jogar da maneira que andamos a fazer podemos ir longe.
Por isso, caro presidente, com o devido respeito, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do futebol profissional, que é o coração do clube, tem sido medíocre. Bem sei que a situação financeira e a estabilidade emocional da massa associativa não jogam a seu favor. Mas uma das razões pelas quais foi eleito terá sido os sócios pensarem que seria capaz de dar a volta a essas situações. Ninguém pensaria que a segunda época, depois do fim do reinado megalómano de pequeno ditador Bruno de Carvalho, seria pior do que a primeira. Meu caro presidente, o senhor está num plano inclinado e não vai a subir.

O que fazer?
Caro presidente da Assembleia Geral, meu caro Rogério Alves, uma vez que representa todos os sócios do nosso clube peço-lhe uns minutos de atenção para avaliar o que tenho a dizer-lhe. Tudo o que referi ao presidente Frederico Varandas foi feito com um enorme peso e desgosto. O Rogério deve sabê-lo. Eu queria e precisava que as coisas corressem bem. Eu, como bem sabe, fui ameaçado, insultado e perseguido por ter querido repor a legalidade e a integridade no Sporting. Longe de mim pensar que esse foi um trabalho solitário, nada disso. Jamais o conseguiria sem o esforço fantástico dos restantes membros da Comissão de Fiscalização e sem a dedicação de muitos membros do Comissão de Gestão e da Mesa da Assembleia Geral. Mas o facto é este: penso que nenhum de nós imaginaria sequer que fosse possível o que se está a passar.
Podemos esperar mais uma semana ou duas. Podemos ter a sorte de Sporar entrar por aí a marcar golos atrás de golos e esquecermos esta época infeliz. Podemos fingir que isto foi um mau momento que passa. Mas, desgraçadamente, não creio. Penso, pelo contrário, que a hora é de atuar na união dos sportinguistas.
O presidente fez um excelente trabalho, já várias vezes aqui por mim referido, quanto à disciplina das claques e à retirada de certos privilégios injustificados que tinham. Basta ver que o mesmo público que das bancadas remói contra Varandas é o que assobia as claques quando elementos da sua bancada atiram tochas contra o guarda-redes (deste vez contra Max, num jogo contra o Benfica, numa repetição do que haviam feito contra Rui Patrício, noutro jogo contra o Benfica). Essa gente das claques não tem lugar entre nós. Mas seria melhor, concordará, identificá-los e proibir-lhes a entrada no estádio do que confinar todos (porque não acredito que todos sejam por igual culpados) numa gaiola. Não me parece um bom caminho para a nossa unidade.
A unidade dos sportinguistas não pode ser feita em torno de uma ideia demasiado fechada. Temos os nossos valores, de que não devemos abdicar, mas devemos aceitar formas diversas de apoio à equipa. Eu vou ao Sporting há mais de 60 anos, penso (não me lembro de que idade tinha a primeira vez que entrei com o meu avô no velho Estádio de Alvalade), e não me imagino de tronco nu a tocar bombo. Mas confesso que isso não me incomoda. Já as tochas e os insultos aos corpos sociais são intoleráveis.
Peço-lhe, pois, caro Rogério Alves que pense na melhor forma de nos unir a todos. Mesmo sabendo que alguns não querem, é preciso uma estratégia que deixe esses isolados, ao contrário de isolados ficarem, como estão a ficar, todos os dirigentes do clube.


Antecipar problemas
Há uma frase que os brasileiros usam e que é assim: vamos almoçá-los antes que eles nos jantem. Ora isso significa jogar na antecipação. E o Rogério, que é presidente da Mesa da AG, tem em cima da secretária um pedido de uma AG de destituição da Direção. Confesso-lhe que não comungo esse caminho, do mesmo modo que lhe confidencio que conheço muita gente que acha que a Direção deve ser mesmo destituída, porque não tem dado provas. A inteligência está, pois, em sabendo que os problemas existem, arranjar um método de os resolver antes que eles se tornem irresolúveis. Uma hipótese seria o presidente da AG exercer o seu magistério de influência e conseguir que a Direção se remodelasse e se tornasse mais profissional; outra ainda seria, além disso, convencer o presidente da Direção a contratar alguém para presidente da SAD que saiba efetivamente de futebol e tenha mão nos seus diversos agentes, jogadores e técnicos; não tendo sucesso nestas soluções, poderia o próprio Rogério convocar uma Assembleia Geral (ao abrigo do artº 51 dos Estatutos) na qual se pudesse clarificar a liderança do clube. Enfim, há sempre muitas formas de resolver problemas e esse é realmente um desafio para si, caro Rogério Alves, como para qualquer presidente da mesa da AG.
O que não pode, de forma nenhuma continuar é o estado de coisas a que vimos a assistir. No jogo contra o Benfica uma defesa que oferece dois golos, um meio-campo em que todos pareciam desmotivados; um avançado, Luiz Phellype, que parecia ausente. Não foi bonito de se ver. Na verdade, foi tão mau que saí do estádio, pela primeira vez, julgo, antes do jogo ter terminado. Não vi o segundo golo do Benfica.
Em Braga, o desvario total. Caro Rogério, quando um homem com a experiência, a classe e o querer de Mathieu perde a cabeça o que significa isso? O que podemos pensar do nosso balneário? Quando alguém que carrega uma equipa e é o melhor médio defensivo, o melhor lateral, o melhor médio de ataque e, provavelmente, o melhor ponta de lança que temos, e se chama Bruno Fernandes, passa a vida a discutir com os árbitros, que conclusões tiramos? Quando Acuña, todo ele raça, parece derrotado, que significado tem? Quando Bolasie é expulso (e bem, mesmo escorregando) ao fim de um quarto de hora de jogo, que podemos dizer?
Na Tribuna Expresso, Diogo Faro escreveu a seguinte piada: «Murphy deu autorização oficial para que a sua lei passe a chamar-se Lei de Sporting.» É isso. Estamos numa espiral que precisamos contrariar. O presidente da mesa da AG é a única pessoa que o pode fazer de forma institucional e elevada, evitando mais roturas, dissensões e dramas.