O Sporting estará melhor do que nunca… mas não parece
Esta semana houve três demissões nos corpos sociais do Sporting. Uma no Conselho Fiscal e Disciplinar, Bernardo Simões, e duas na Direção - Filipe Osório de Castro (vice-presidente) e Rahim Ahmad (vogal). Todos invocaram motivos idênticos: vidas recheadas de problemas nos seus negócios, provocados pela Covid-19 que reclamam atenção plena. Questões pessoais, e não razões que tenham a ver com a condução do clube.
Osório de Castro publicou no sítio do SCP um texto onde reafirma essas razões e não deixa de «realçar e agradecer o empenho dos funcionários que comigo direta ou indiretamente trabalharam, bem como agradecer o apoio e trabalho dos meus restantes colegas de Direção, em especial ao presidente Frederico Varandas, desejando-lhes um bom trabalho e toda a sorte do mundo». Elegância e simpatia não faltam, pois. Nem desmentidos às notícias que vieram falar em divergências.
Eu, sinceramente, acredito nos três elementos que na semana em que começaram a reabrir muitos negócios e escritórios, argumentam razões pessoais para deixarem as responsabilidades que tinham no Sporting. Creio sinceramente que não se zangaram com ninguém, nem tiveram pela frente barreiras que os impedissem de, em liberdade, darem as suas opiniões e contributos. Porém, dito isto, ando na terra há tempo suficiente para saber que um projeto verdadeiramente mobilizador não leva a que alguém se demita de uma direção onde se sente plenamente realizado.
E isso remete-me para alguns reparos que já fiz ao modo como a Direção do Sporting tem agido: com muito menos abrangência do que seria de esperar, sobretudo depois de uma fase de quero, posso e mando de que o clube não gostou.
O Sporting pode ter a equipa muito motivada e espero que Rúben Amorim seja aquilo que todos nós esperamos dele. Mas os sinais que dá para o exterior não são esses. Aquilo que é visível por todos os que, tal como eu, não conhecem os meandros e os modos de exercer o poder no clube, são sinais negativos, de cada vez menos unidade entre os dirigentes. De surpreendentes subidas à SAD e à direção do jornal por parte de elementos que nem sequer tinham, até há pouco, grande protagonismo no clube. São sinais de quem ouve pouco, na ânsia de fazer muito.
O ‘wi-fi’ e as cadeiras
A edição da semana anterior do jornal do Sporting trazia várias páginas de Visão Estatégica 2020-2022, o que se saúda pelo menos na parte da tentativa da Visão Estratégica. Do que li, acrescento que não discordo de nada, até porque o documento tem aquele toque inútil de muitos documentos produzidos por alguns consultores. Estes, como diz a anedota, com exagero mas muita piada, chegam sem ninguém os chamar, informam-nos do que já sabíamos, não percebem nada do assunto e cobram dinheiro por isso.
Um pouco mais a sério, estou no ponto de não discordar, por exemplo, na parte que mais me diz respeito - aquela que sistematiza a interação com os sócios. Lê-se que existem quatro pontos prioritários (o que em matéria de prioridades deixa a desejar, uma vez que, como aprendi, quando não se destaca uma prioridade é porque hesitamos sobre o que deve ser essencial). Mas, enfim, há quatro prioridades: Na marca, deve-se «evoluir no posicionamento da imagem e marca Sporting, em linha com o seu ADN». Ótimo! Não podia estar mais de acordo, mas considero difícil dizer o contrário, pelo que a frase não tem valor substancial, como também se aprende. A segunda prioridade é sobre o Estádio e o Pavilhão: «Melhorar a experiência do ponto de vista do conforto, tecnologia, prestígio e imagem.» A concordância é plena, penso que para qualquer sócio, seja do Sporting, do Portimonense ou mesmo do Benfica. Piorar a experiência do conforto, da tecnologia e da imagem seria sempre mau, pelo que estamos perante outra frase sem substância.
Chegamos, assim, à terceira prioridade, que diz respeito ao digital: «Aproximar o clube do sócio, reduzindo o esforço das interações para três a cinco cliques e aumentar o engagement (palavra que poderia dizer-se em português - compromisso). Mais uma vez de acordo, reduzam-me os cliques, melhorem- -me a app, agilizem o sítio da Internet. Sou todo a favor. Como sou extraordinariamente favorável ao facto de haver wi-fi no Estádio e no Pavilhão e a pintarem-se as cadeiras de verde (deixando secar a tinta, claro, de modo a que não estraguemos o equipamento de má qualidade e alto preço que se vende como merchandinsing). Depois, a quarta prioridade, que aliás vem escrita em primeiro lugar, mas eu deixei para o fim: ganhar os Campeonatos de futebol e das modalidades; estar presente na Champions League; aumentar o número de atletas e retomar a Equipa B. Aqui, meus caros, basta-me a primeira: ganhar o campeonato da Liga - dou em troca não se centrarem nas cadeiras verdes, no wi-fi, no engagement, nos cliques e na comodidade. O meu principal incómodo (além das ameaças da santíssima Igreja de Bruno de Carvalho) tem sido o mau futebol e as derrotas. Troco também não poder ver as repetições do videoárbitro no meu telemóvel com wi-fi por umas boas vitórias. Não peço muito e penso que a generalidade dos sócios também não. Sobre isso, mais do que consultores, preciso de dirigentes.
Nem tudo está mal
há dados muito positivos a reter, não pensem que sou apenas crítico. Por exemplo, a promoção constante que Rúben Amorim tem feito de jogadores das camadas jovens parece-me uma mais-valia evidente. E, ainda que uma transferência de Matheus Nunes não pague o dinheiro investido no treinador, é ótimo que se veja a Academia a dar os seus frutos; sobretudo, os tais frutos serem valorizados e não desperdiçados como aconteceu com outros tantos, no passado.
Um outro ponto positivo a reter é o facto de Frederico Varandas ter defendido menos equipas na Liga. Falou em 16. Melhor do que redução nenhuma. Porém, mais radicalmente, eu defenderia apenas 12 equipas, como aqui referi na semana passada. Porém, tudo o que seja a favor da redução do exagerado número de equipas na I (e na II) Liga será de saudar.
O futebol, ou melhor, as partidas que faltam jogar nas últimas 10 jornadas, voltam daqui a 15 dias. É uma boa notícia, pese embora os condicionalismos que por várias vezes referi (o maior deles a falta de público). Mas há uma questão que tem de ser acautelada: não havendo público e com os jogos apenas em canal fechado, o Governo, a FPF, a Liga e os clubes têm de perceber o que acontece: vão reunir-se pessoas para ver os jogos em locais públicos como cafés e restaurantes. O controlo sobre as reações emocionais desses espectadores será impossível. Muito mais avisado seria, através de esquemas de compensação, que podem ser discutidos entre todas as entidades, permitir a transmissão de jogos (dos mais importantes, claro) em sinal aberto. Isso, pelo menos, permitiria que cada um visse em sua casa, ou pelo menos acompanhado de familiares ou de pessoas cujo historial conhece e não em minibancadas de bares e cafés, numa multiplicação daquilo que se quer evitar nos estádios.