O que está por trás das letras de Fernando Póvoas?
De quem é que partiu a iniciativa de passar as letras? Da Porto SAD ou do credor Fernando Póvoas?
Ninguém esperava que o início da nova era do FC Porto fosse fácil. Depois de anos e anos a ser comandado pelas mesmas pessoas, muitos são os vícios que estão instalados. Em apenas 11 dias a equipa de André Villas-Boas já percebeu que vai ter de lidar com muitas surpresas desagradáveis. Depois de, desportivamente, ter conseguido resolver a (difícil) questão da rescisão de Sérgio Conceição, financeiramente a nova administração tem-se deparado com surpresas inesperadas. Esta semana soube-se que, nos últimos dias de Pinto da Costa e sua equipa na SAD, foram tomadas medidas que condicionam a atual administração e que podem indiciar algo mais!
Definição de letra
Tornou-se público que, nos últimos dias de Pinto da Costa na SAD, foram passadas duas letras a Fernando Póvoas, um conhecido adepto portista, que terá efetuado um empréstimo de um montante considerável ao clube. De uma forma simples, uma letra é um título de dívida que permite àquele que faz um empréstimo ter a garantia e executar a dívida na data assinalada na respetiva letra.
A forma como todo este processo foi tratado, e a necessidade em passar duas letras como forma de garantia a Fernando Póvoas, deixou bastantes interrogações. Para podermos perceber o que pode estar em causa, devemos analisar quatro pontos distintos, mas que se encaixam entre si.
1. Qual a data e valor do empréstimo?
A notícia que surgiu esta semana apontava para €2 milhões de empréstimo concedido por Fernando Póvoas, contudo, em entrevistas recentes, o famoso médico referiu que o valor concedido é muito superior, ressalvando que não cobrou quaisquer juros pelo empréstimo concedido. Outro ponto importante, para perceber este processo, é quando é que efetivamente este empréstimo foi concretizado - no início do ano? em março? em abril? em maio?
2. O que está por trás do empréstimo?
Depois de percebermos a dimensão do empréstimo em causa, a questão que deveríamos colocar é a seguinte: será que esta dívida estava contabilizada ou devidamente registada nos balanços da Porto SAD? Neste caso, é importante realçar que, contabilisticamente, todos os movimentos têm de ser registados. Isto significa que um empréstimo (entrada de dinheiro) teria sempre de ser contabilizado. Tendo em conta a dimensão do empréstimo, catalogado como superior a €2 M por Fernando Póvoas, será que existe um contrato que suporta esta dívida? Será que existem prazos de pagamentos associados e definidos? Ou será que o empréstimo foi concretizado sem nenhum suporte contratual? Em simultâneo, se assim foi, para que contas foi enviado o dinheiro? Para uma conta da Porto SAD ou para uma conta fora da instituição?
Nas últimas eleições, 80% dos associados do FC Porto demonstraram a sua vontade de mudança. Com toda a certeza que o fizeram para que o clube possa tomar outra trajetória e para poderem perceber quais os motivos que levaram a que o FC Porto tenha tantos problemas a nível financeiro.
3. Quem tomou a iniciativa?
A estranheza com que estas letras foram passadas a dois dias do fim do mandato, levantam outras questões muito pertinentes. Assim, de quem é que partiu a iniciativa de passar as letras? Da Porto SAD ou do credor Fernando Póvoas? Analisando cada um dos lados, podemos retirar conclusões distintas. Partindo do pressuposto de que esta dívida está devidamente contabilizada, qual a lógica da antiga administração da SAD de passar duas letras que vencem em junho e julho, respetivamente? Só vejo um objetivo e que passa por criar mais dificuldades à atual administração, obrigando-a a assumir mais um compromisso financeiro num curto espaço de tempo.
Contudo, se olharmos para o lado do credor Fernando Póvoas, a análise é diferente. O facto de possuir duas letras em sua mão faz com que o médico suba na qualidade creditícia. O que é que isto significa? Significa que com estas letras o credor Fernando Póvoas passa a ter uma garantia que os outros credores não têm. Mais, passa a ter duas datas para executar as suas dívidas! Foi precisamente neste ponto que Fernando Póvoas mostrou alguma incoerência esta semana. Ora, numa entrevista à TVI referiu que está sempre disponível para dilatar os prazos de pagamento do crédito que tem e que nunca questionou o momento em que lhe pagaram os muitos empréstimos que concedeu ao FC Porto. Se assim foi, e se assim é, por que motivo não recusou as letras que lhe foram passadas? Se já estava caracterizado como credor, e para ele a questão do prazo nunca foi um problema, então porque aceitou estas letras a dois dias do fim do mandato da administração anterior?
4. Existirão mais ‘Fernandos Póvoas’?
Ao longo da semana Fernando Póvoas referiu que tem vindo a efetuar inúmeros empréstimos desta dimensão e que lhe têm vindo a ser pagos com maior ou menor dificuldade. Mais uma vez, neste enquadramento surge mais uma questão: será que existem mais investidores que tenham emprestado dinheiro ao FC Porto nestas condições? Será que estão todos devidamente registados? Será que a nova administração irá ser surpreendida com mais situações desagradáveis?
Como última nota, não deixa de ser incrível que uma administração que, de uma forma regular, pedia empréstimos individuais a cidadãos e adeptos do FC Porto, foi a mesma que pagou a si própria €1,6 M em prémios pela equipa de futebol ter tido sucesso desportivo. Toda a situação financeira que o FC Porto está a atravessar é um exemplo da falta de exigência e escrutínio que existiu por parte dos associados ao longo dos últimos anos. A retórica das vitórias desportivas conseguiu iludir muita gente.
Por fim, também fica provado que ter uma longevidade muito grande à frente de uma instituição, pode não ser o melhor caminho, já que se instalam vícios e falta de mecanismos de controlo que são essenciais e fundamentais na boa governança, sendo que esta questão não é exclusiva do futebol, como pudemos verificar, por exemplo, no caso do BES.
A valorizar
Fábio Silva. De uma forma sincera, honesta e frontal falou sobre a sua saída do FC Porto. Através das suas palavras, percebemos a forma como os grandes intervenientes (jogadores) acabam por ser colocados de lado no momento das decisões, para beneficiarem muita gente que gravita à volta do futebol sem nenhuma contribuição positiva…
A desvalorizar
Roberto Martínez. Frente à Croácia, adversário com outra qualidade e com maturidade competitiva, a Seleção demonstrou muitas dificuldades. Defensivamente, Portugal esteve desequilibrado. Nos últimos quatro jogos, sofreu dois golos por jogo. O positivo é que os erros estão a acontecer quando podem acontecer, ou seja, antes da competição a sério!