O que descemos até aqui chegar

OPINIÃO15.11.201800:30

No mesmo dia, o de ontem, Benfica e Sporting foram notícia pelo que aconteceu... nos tribunais. Uma espécie de dérbi da vergonha. É o espelho de uma profunda crise de valores que mancha o futebol português, em que os mandados de busca e de detenção entraram no jargão futebolístico como outrora se começou a falar em fora de jogo ou marcação homem a homem.


Que me lembre, nunca o desporto-rei em Portugal desceu tão baixo como agora. Talvez porque o sistema judicial agora aperta mais a malha do que há umas décadas ou porque a informação (e a desinformação) é produzida com uma cadência inédita. Quer isto dizer que os comportamentos dos agentes são hoje piores do que no passado? Não. A diferença está na perceção da realidade e no escrutínio.


A isto acresce outro mal: um campeonato nivelado por baixo, falta de qualidade dos executantes, bancadas geralmente despidas, muitos jogos que roçam o deprimente. Culpa do sistema que permite desigualdade de receitas e um exagerado número de clubes que faz dispersar em vez de concentrar uma pequena parte da riqueza (a que sobra dos grandes), daí resultando uma teia de cumplicidades, mais por necessidade do que por estratégia, uma espécie de corrida na lama em que vence aquele que tem maior instinto de sobrevivência.


O futebol português está doente. Muitos falam de curas mas ninguém veste a farda de médico e prescreve o medicamento. Nem Liga, nem Federação e muito menos o Estado, cujos governos, de forma sucessiva, não perceberam que o futebol deixou de ser  uma prática desportiva e se transformou numa indústria de entretenimento. E, como tal, devia ser encarada como uma atividade económica com as inerentes alterações a todos os níveis: legislativo, regulador, financeiro e comunicacional.