O peso dos números
Um frio alemão e um apaixonado português reagem, naturalmente, de forma distinta
O Sporting terminou o dérbi para a Taça de Portugal com quatro remates perigosos e o Benfica com três. A posse de bola não podia ser mais dividida em termos percentuais: 50-50. Analisando os números só pode constatar-se que a primeira mão das meias-finais foi muito equilibrada. Não foi. Os leões foram bem dominadores e falharam uma boa oportunidade de levar para a Luz uma vantagem superior a um golo.
Compreendo o peso que os números têm no futebol, mas confesso que não sou fã das estatísticas. Como, por exemplo, a contabilidade das assistências. Um passe de Kevin de Bruyne a desmontar toda uma estratégia defensiva e a deixar Haaland de baliza aberta fica registado ao mesmo nível de um passe a meio-campo de John Stones para Phil Foden serpentear por entre toda a cortina adversária e fazer golo. Sozinho, claro. Não deveria ser igual, mas na prática é.
O Benfica foi goleado pelo FC Porto e saiu do Dragão com um humilhante 0-5. No final do jogo, Roger Schmidt, claro, admitiu a superioridade dos dragões, mas também fez questão de recordar as três vitórias desta época do Benfica sobre os maiores rivais. «Não é para pedir desculpas, não fizemos de propósito», disse o treinador, como que desvalorizando o impacto do humilhante desaire. Já Rui Costa foi o primeiro a dar a cara. «Ninguém merecia uma derrota desta dimensão e, como presidente, assumo essa responsabilidade. Esta noite não é para esquecer, mas sim para perceber o que aconteceu e tirar ilações.»
Também neste caso os números tiveram um peso bem diferente. A começar logo por uma questão de mentalidade. Um frio alemão e um apaixonado português reagem, naturalmente, de forma distinta. Para os adeptos benfiquistas é que pode não ser assim tão natural. Os números têm peso e frente a rivais ainda muito mais. Ganhar por um ou dois dá um gozo bem diferente, assim perder por um ou cinco faz toda a diferença. Rui Costa há muito que o percebe e Roger Schmidt tarda a entender a realidade portuguesa. Ou melhor, o peso que o futebol tem na vida dos adeptos.
Grande peso têm os números do Arouca. A melhor equipa da segunda volta! Sim, é verdade. Os lobos somam 18 pontos em 21 possíveis, registo que supera Sporting (16, embora com menos um jogo), Benfica (16), SC Braga (16) e FC Porto (14). Fantástico o trabalho de Daniel Sousa, não só por lutar com armas bem desiguais à dos adversários do topo da tabela, mas principalmente por ter herdado a equipa à 11.ª jornada… no último lugar, com apenas seis pontos. Agora, soma já 34, está na sétima posição e prepara-se para receber o Sporting com a armada espanhola do ataque em grande forma. Cristo González (11), Rafa Mújica (16) e Jason Remeseiro (6) são responsáveis por 33 dos 43 golos da equipa. Maior peso era difícil.