O oásis e o deserto
Na Europa continuam as lendas que as gerações nunca poderão esquecer. Noutras latitudes o efémero deverá ser o destino
TRATA-SE de uma relação ancestral que além de estar na moda, se tornou um ponto de encontro de riquezas das mil e uma noites. No caso do futebol que, na Europa ou na América do Sul, goza da preferência das populações, vivemos um tempo divergente e um movimento atrativo, com base nos salários de muitos milhões. Aumentam craques principescamente remunerados, mas talvez pela dinâmica do jogo (sem a qualidade da Europa) entram ondas de jogadores de qualidade duvidosa pelo desgaste do tempo, auferem fortunas, mas os talentos, apesar do nome e do percurso, vão-se perdendo. Capricho de multimilionários e de alguns construtores de milagres que enfraquecem a genialidade do jogo e que o tempo confirmará ou não.
Para já, como moda e novidade, o facto de se poder assistir a jogos com futebolistas que em todo o planeta são admirados, parece uma mais-valia, embora a intensidade se vá perdendo com o avançar do tempo, a proximidade talentosa se resuma a identificar nomes de jogadores famosos, mas quando passar a normalidade, poderá ocorrer outro fenómeno para usufruir. As grandes equipas da Europa, da Arábia e outras neste momento ganham muitos milhões, porém tudo dura até um momento… O exemplo de Neymar é perfeitamente adequado para o jogador: Neymar encontrou Jesus e aguardemos por um grande milagre. Passou a ser mais uma estrela a brilhar na Arábia, para «escrever uma nova história» e receber milhões imparáveis. Contudo, o guarda-redes da Juventus assumiu que prefere jogos desafiantes a defender a baliza do clube italiano. Por isso, a ida para a Arábia Saudita pode ser desafiante para uns e fora de questão para outros. Szczesny afirmou: «Já ganhei muito dinheiro na minha vida. Prefiro desafios interessantes e defender a baliza da Juventus é o melhor que posso ter.»
Bernardo Silva, mantém-se no clube inglês e nem pretendeu conhecer as propostas que lhe queriam fazer - Bernardo é intransferível para o Manchester City. Na Europa continuam as lendas que as gerações nunca poderão esquecer. Noutras latitudes o efémero deverá ser o destino, ainda que se falem das exorbitâncias pagas a jogadores e treinadores, das paixões e clubismo inalterável. E o futebol como ficará?
A LIGA
OFC Porto entrou forte, com tarja de despedida no estádio para o dragão Otávio e votos de felicidade, embora tristes pela saída para o Al Nassr, pois os adeptos nunca esquecem quem sabe honrar a camisola do FC Porto e a memória fica para sempre. No jogo da estreia como titular, Nico González teve uma boa prestação, também esteve na base do primeiro golo e ajudou a controlar o jogo, perante um Farense bem organizado, com linhas juntas, que tentava avançar em velocidade. Toni Martínez marcou a passe de Galeno e os azuis e brancos começaram a dar muito espaço. No final do primeiro tempo, o Farense igualou. A segunda parte foi forte, disputada, com lances de perigo para ambos os clubes, mas com o FC Porto mais intenso e a marcar com mérito no final do tempo de compensação, com mais um golo de Marcano, após jogada brilhante de Gonçalo Borges: 2-1.
Saia ou entre quem for, Sérgio Conceição sabe que vai ter sempre jogadores para lutar pela vitória. E Romário Baró, a iniciar uma época com muita qualidade, foi traído por uma lesão que o vai obrigar a recuperação. Finalmente, Alan Varela vai estrear-se quando chegar um documento da Argentina. Como habitual, quase todos os argentinos que vestem a camisola do FCP, ficam dragões para sempre, exceto alguns que a memória vai apagando… Varela tem também essa tarefa complexa de substituir Uribe, mas como vem com ritmo de jogo, pela sua capacidade e com as indicações de Sérgio, tem tudo para ser um dos mais influentes na organização do meio-campo. No Dragão, os imponderáveis têm sempre solução ajustada e competente. Para o FC Porto nunca há impossíveis, mas sempre muito trabalho.
O Casa Pia perdeu com o Sporting, com um golo validado incorretamente, pois se tivessem sido colocadas as linhas de fora de jogo, o lance teria de ser invalidado; curiosamente o Casa Pia não comenta nem lamenta… Estranho! O Guimarães foi a Barcelos, começou a perder e até ao fim conseguiu a vitória. O Chaves recebeu o Braga, começou a ganhar, mas os minhotos dominaram e venceram folgadamente. O Portimonense foi derrotado pelo poderoso Boavista, que triunfou e que lidera com naturalidade. Na Luz, os encarnados marcaram os dois golos da vitória nos minutos finais, mas acumulam um grande problema em função da troca de guarda-redes. O Estoril, com o regresso de Mangala a Portugal e a marcar golo, conseguiu derrotar o Rio Ave. O Vizela recebeu o Arouca e cada um esteve a vencer em situações diferentes, mas o jogo acabou empatado. O Famalicão recebeu o Moreirense e o jogo teve de tudo um pouco: lesão por choque de cabeça, único jogo sem golos, uma expulsão, lances previsíveis e raras oportunidades, sem muita qualidade e com falta de criatividade. Total de golos desta jornada: 28.
O REGRESSO DA RAZÃO
Opresidente da FIFA tem responsabilidades em todo este processo de pretender fazer da Arábia Saudita um universo motivante e original. Aguardemos o que vai deixar ao futebol mundial. Em Inglaterra («onde mais poderia ser?»), os dirigentes do Burnley identificaram um agressor, proibiram o adepto de entrar no estádio durante o jogo por ter lançado um isqueiro para as quatro linhas, acertando na cabeça de um adepto enquanto o Burnley jogava com Manchester City: grande exemplo que deveria ser o normal do dia a dia.
ERROS INACEITÁVEIS
OManchester United estava a vencer por 1-0 o Wolverhampton, nos últimos lances houve um choque entre o guarda-redes do United e um avançado adversário e o árbitro decidiu não marcar grande penalidade: foram afastados os três árbitros. O presidente do Conselho de Arbitragem nacional, numa situação que envolveu o árbitro e o VAR Hugo Miguel (com alguma tradição em casos semelhantes), decidiu afastá-los, numa decisão correta; o árbitro e o VAR foram suspensos por tempo indeterminado. Contudo, o presidente da APAF achou essa decisão de condenar quem falhou (ao contrário do CA da FPF) evitável: a transparência é essencial para o desenvolvimento, mesmo que outros a prefiram esconder. O VAR em causa tem vários erros que decidiram jogos. Sem dúvida que um dos focos essenciais para valorizar o nosso futebol passa pela simplicidade qualitativa dos árbitros que nunca pretendem ser o centro do jogo, mas antes o elemento que passa despercebido e cria condições para atrair os adeptos, contribuindo para um melhor jogo, sempre que possível.
ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS
Otreinador do Benfica, num diálogo complexo e intenso com Vlachodimos (de acordo com a Comunicação Social), além de o considerar culpado nos golos do Bessa, retirou-lhe a titularidade. E assim se prejudicam atletas que deveriam ter proteção e um diálogo superior para salvaguardar o clube e o jogador. Não é com decisões dessas que se deixam as responsabilidades para outros. Tristeza! Roger Schmidt é um treinador como a grande maioria da nossa Liga, o que o diferencia é a capacidade de fazer diferente, embora o fundamentalismo não se coadune com a racionalidade.
URGENTE
MAIS uma vez, as equipas nacionais que vão às fases de apuramentos (Guimarães, Arouca e outros todos os anos, excetuando as quatro equipas mais poderosas) são eliminadas precocemente, o que deve merecer uma reflexão profunda quer dos calendários, quer dos apoios, para poderem conseguir vencer pré-eliminatórias, pois temos de subir no ranking europeu com a velocidade possível. O play-off que vai opor o Braga ao Panathinaikos pode ser o arranque europeu com estabilidade.
REMATE FINAL
A Espanha sagrou-se campeã do Mundial de futebol feminino ao vencer justamente a Inglaterra por 1-0, tendo desperdiçado uma grande penalidade. No apuramento para o terceiro lugar nesse Mundial, a Suécia venceu a Austrália por 2-0. O Mundial foi muito bem organizado e a qualidade dos jogos, assim como a qualidade das arbitragens, merece o nosso reconhecimento e admiração. Um excelente exemplo para ensinar e valorizar o futebol.
Inaceitável atitude do presidente da Federação Espanhola de Futebol nos festejos do título.