O mérito pode igualar o tamanho

O mérito pode igualar o tamanho

OPINIÃO06.05.202306:30

O Barça caminha para o título sem que nada o incomode. E competir naquelas condições dobra a dificuldade e o mérito de Xavi

RUMO AO TÍTULO SEM ANESTESIA 

OBarça caminha para o título da Liga de forma tranquila, sem que nada o incomode. É possível que com mais conforto do que autoridade, mas se aprendi alguma coisa com o meu tempo no Real Madrid é que vencer custa muito. Por essa razão, fico indignado quando se tira mérito a conquistas passadas. O Barça está longe de ser uma equipa atrativa e só o tempo dirá se podemos esperar muito mais desta base. Mas jogou toda a temporada sobre um vulcão económico, com o desconforto mediático e ético do caso Negreira que continua a arrastar e com a Europa a expulsá-lo, impiedosamente, até por duas vezes, da aristocracia futebolística. Competir nessas condições dobra a dificuldade e o mérito de Xavi. O título está à porta e, mesmo com os perseguidores a anos-luz, é certo que dirigentes, treinadores e jogadores chegarão à mesma conclusão: vencer dá muito trabalho.


OSASUNA OU COMO GANHAR ANTES DE JOGAR

POR outro lado, o Real Madrid atirará a moeda ao ar nas próximas duas semanas e, como a este nível o mundo do futebol nunca falha, o cara ou coroa será chamado de glória ou fracasso. O Osasuna espera com todos os seus méritos nas costas. Um clube exemplar e uma equipa que chegou aqui convencida de que, no futebol, a terra é de quem a trabalha. Cada um traz a sua parcela de talento e rega o campo com suor para que a equipa pareça muito mais que a soma de suas individualidades. É admirável até aonde pode ir a modéstia empurrada pela ilusão de uma comunidade inteira. E a humildade é linda se se propuser a derrubar o maior obstáculo para escalar o pico mais alto da história do clube. O Osasuna, assim como a própria Taça, é a Supertaça ao contrário. David contra Golias? Prefiro dizer Golias contra Golias porque, no futebol, o mérito sempre pode igualar o tamanho. 


O CLUBE EM QUE TUDO É POUCO

QUANTO ao Real Madrid, não sei como será a chegada, mas acho que agradece a Ancelotti pela viagem. Em plena transição, os jovens vêm evoluindo ao mesmo tempo que os veteranos se vão apagando. Numa temporada partida ao meio pelo Mundial, ele soube conviver com aquela interferência, acomodando o físico e compensando o estado anímico de cada um de acordo com o resultado no Catar. Simplificou o complicado, apagou os conflitos, fez do senso comum um modo de vida. Porém, está num clube tão grande quanto a sua história, com uma cidade desportiva imaculada e um estádio que em pouco tempo será um palácio. Um clube exigente que melhora ano após ano. O problema é que, a cada ano, o fio da guilhotina também baixa.


O MADRID DA PREMIER CONTRA O MADRID DE VERDADE

OCity chega a Madrid com o seu correspondente Guardiola e com a ferida da temporada passada ainda por cicatrizar. Mas não é o mesmo City. Desta vez o primeiro jogo será em Madrid e isso modifica a importância do fator intimidador que é o Bernabéu. E não é o mesmo Guardiola porque, nesta temporada, Pep continua a tentar cuidar da bola no centro do campo, mas decidiu cuidar daqueles pequenos jardins chamados áreas, que é, por outro lado, o lugar onde os jogos são ganhos e perdidos. Ele cuida dos seus até com quatro centrais e ataca os outros com Haaland, um predador sem precedentes. Adeptos do Real Madrid precisam de mentalizar-se. Desde o primeiro minuto do primeiro jogo é preciso acreditar que estão a perder por 3-0. A remontada começa hoje.