O mercado e a habitual sangria
Portugal não percebeu ainda que o seu futebol é, sobretudo, para os jovens futebolistas
Ofutebol português enfrenta novo defeso carregado de ansiedade. A janela só agora abriu e o campeão FC Porto já perdeu o fiável Mbemba, negociou Fábio Vieira, espera que o PSG ou outro gigante continental bata a cláusula de Vitinha e faz contas a prováveis negociações complicadas com Uribe, à entrada do último ano de contrato e com expectativas legítimas sobre um derradeiro salto na carreira. O vice Sporting não teve meios, compreensivelmente, para segurar alguém do quilate de Sarabia, enquanto tenta expiar a tentação dos milhões com que lhe acenam e ameaçam desfazer o meio-campo. Já o Benfica viu 75 milhões rapidamente desconstruídos e logo no seu maior ativo, sem muitos mais nomes para rentabilizar e sem certezas sobre a Liga dos Campeões, apesar dos interessantes negócios, sobretudo com Bah e Neres, gotas ainda num oceano que é preciso mover para reconstruir um plantel mais perto da imagem de Schmidt. Entretanto, o SC Braga tenta aproveitar poder ser o filão que reporá as reservas de talento dos três grandes, ideia que hipoteca, mais uma vez, parte das aspirações a aproximar-se cada vez mais dos mesmos, não conseguindo dar o tal passo decisivo.
Portugal é um país vendedor e dificilmente conseguirá alterar o estatuto nas próximas décadas. Está condenado a perder valores e valor ano após ano, alimentando as Big Five e afastando-se cada vez mais destas. É também um país formador por excelência e de excelência, um viveiro que o próprio país ainda não percebeu que tem de proteger e fazer florescer, ainda mais quando os maiores recrutadores já chegam primeiro aos mercados paralelos, que os portugueses tinham liberdade, por falta de comparência, para explorar. É tempo de se perceber que este país não é só para velhos. É, sim, sobretudo, para os jovens.