O homem da década de ouro

OPINIÃO18.12.202106:00

A bajulação apenas obriga a submissão. A admiração exige mais: humildade e grandeza de alma. É por isso bem mais difícil de praticar

NO essencial, Fernando Gomes juntou amigos na glamorosa festa dos seus dez anos de presidência na Federação Portuguesa de Futebol. Coincidência que entre esses seus amigos e confessos admiradores estivessem figuras como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ou o primeiro-ministro, António Costa. Ambos, e em especial o Presidente, elogiaram o líder, mas, acima de tudo, confessaram a sua admiração pelo Homem e o seu caráter. Marcelo chegou a declarar que nunca poderia haver um líder de tão notável sucesso, sem existir o Homem determinado, solidário, empreendedor e visionário que é Fernando Gomes.

Recordo-me do tempo em que este cidadão portuense, portista confesso e ex-atleta de alta competição (basquetebol) tomou uma das decisões mais difíceis da sua vida e rumou a Lisboa para exercer funções de presidente da Liga de Clubes. Antes, enquanto administrador da SAD do FC Porto, tínhamos tido relações cordiais, mas nem sempre fáceis ou concordantes. Por isso, Fernando Gomes me convidou, a mim e ao José Manuel Delgado, para uma conversa direta, franca e frontal, de onde nasceu, no início, um evidente respeito mútuo, que viria, depois, a consolidar-se numa amizade que não interfere, nem nunca poderia interferir, com algumas assumidas divergências de opinião e com a liberdade de cada um de nós pensarmos pela nossa cabeça.

Fernando Gomes, que já foi oficial e publicamente homenageado por A BOLA, é, de facto, o Homem da década de ouro do futebol português. Pelas vitórias obtidas, obviamente, com um título de campeão europeu e uma conquista da Liga das Nações, mas também pelos fulgurantes sucessos no futsal e no futebol de praia e pelo notável crescimento, na quantidade e na qualidade, do futebol feminino. Além de tudo isso, que já seria muito, cumpriu um projeto de dimensão mundial na construção da Cidade do Futebol, consolidou uma estrutura forte e competente que garantiu o assinalável sucesso das nossas seleções jovens e soube renovar e restaurar a imagem de um futebol velho, desgastado, associado à subversão de valores e viciado nos interesses pessoais ou de grupo, num futebol que se confundiu com a natureza honrada do seu povo e que a ele se aliou ativamente em vários momentos de sofrimento e dor, como aconteceu no drama dos devastadores incêndios de Pedrógão ou, mais recentemente, no decisivo apoio às unidades de saúde que no pico mais trágico da epidemia de Covid-19 estiveram na linha da frente do tremendo combate.

Somos, tradicionalmente, um povo que prefere a bajulação à admiração. A bajulação apenas exige submissão. A admiração obriga-nos à humildade e à grandeza de alma. É, por isso, que se torna bem mais difícil de praticar.
Foi, pois, gratificante assistir à admiração e sentido de gratidão de tantas figuras públicas e representantes do Estado naquela festa de comemoração dos dez anos de presidência de Fernando Gomes na instituição maior do futebol português. Sendo significativo que, apesar de tudo o que aqui se diz e regista, nunca comprometerá a independência e a liberdade com que, no passado, no presente e no futuro, continuarei a vestir a camisola do jornalista que não confunde campos de ação e muito menos deveres essenciais para quem nos lê, nos ouve ou nos vê.
Fernando Gomes sabe que será assim, e nem ele próprio admitiria que fosse de outra maneira. As grandes instituições fazem-se de Homens sólidos, humildes na aceitação das diferenças e determinados nas suas convicções. E é isso, afinal, que Portugal merece de cada um dos portugueses.
 

AS BRUXAS DE PINTO DA COSTA

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A RAZÃO DE SE CHAMAR ÓMICRON

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