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OPINIÃO DE DIOGO LUÍS O exemplo do Manchester United

OPINIÃO16.03.202508:40

Mercado de valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo futebolista e atual economista

Esta semana tive a oportunidade de ver uma entrevista feita por uma das lendas do Manchester United e o homem forte do clube, Jim Ratcliffe. Foram, sem dúvida, 44 minutos muito bem aproveitados. A forma e o conteúdo desta conversa são fantásticos e deviam servir de exemplo.

Gary Neville é um dos jogadores que fez parte das grandes conquistas do Manchester United com Alex Ferguson. Já se aventurou como treinador sem grande sucesso. Neste momento é um comentador e parece que voltou a encontrar o seu espaço de eleição. Apesar de ser adepto assumido do Man. United, pelo seu papel de comentador, faz muitas críticas à forma como o clube joga e à maneira como tem vindo a ser gerido.

Algumas destas críticas são fortes, mas, acima de tudo, são sinceras e honestas. Apesar destes factos, Gary Neville convidou Jim Ratcliffe, o homem forte dos red devils, e tiveram uma conversa com muita substância. Isto só foi possível porque em Inglaterra a cultura desportiva é outra.

As críticas não são encaradas como ataques pessoais ou perseguições a clubes. A crítica é vista como algo natural. Em Inglaterra, não existe a ideia de que quem critica quer o lugar de quem lidera. Nesta entrevista, Jim Ratcliffe demonstrou a forma como se deve responder às críticas. Assumiu erros, admitiu fraquezas, abordou a difícil situação financeira do United, foi confrontado e explicou algumas das medidas impopulares que tomou. Apontou um caminho, com convicções e sempre escudado na equipa que, finalmente, conseguiu criar.

Não vendeu ilusões. Apresentou uma realidade dura, revelou as suas preocupações e trouxe a esperança de que vai conseguir inverter o rumo atual. Tudo isto assente numa gestão mais racional e menos sentimental.

A situação do United

Quem me acompanha nas minhas intervenções públicas sabe que dou muita importância à vertente financeira. Uma empresa ou um clube que não tenha equilíbrio financeiro dificilmente vai conseguir ter sucesso desportivo de uma forma regular. A correta gestão financeira dos clubes permitirá que estes tenham melhores condições para obter sucesso desportivo. Complementarmente, é fundamental associar a uma gestão rigorosa a sensibilidade e visão que permitem antecipar cenários e tendências dentro do mundo do desporto.

Um dos principais temas da conversa entre Neville e Ratcliffe foi as dificuldades financeiras que o Man. United atravessa. Aqui surge a primeira questão: como é que um clube que está no top-3 de receitas mundiais tem dificuldades financeiras?

Ratcliffe respondeu a esta questão de uma forma muito simples: «Se gastas mais do que ganhas nunca poderás ser competitivo. Se gastas mais do que ganhas terás de, constantemente, recorrer a instituições financeiras para cumprires com os teus compromissos.»

De seguida, deu um conjunto de exemplos de más práticas e de desperdício de recursos. Este tema é familiar em Portugal.

Quantasvezes nos perguntamos para onde ia o dinheiro das vendas milionárias do FC Porto ou do Benfica? Como é possível o FC Porto estar com dificuldades financeiras, tendo em conta as vendas e performances na Liga dos Campeões? Ou, no Benfica, como é possível que nos últimos quatro exercícios a SAD encarnada tenha apresentado três resultados negativos e um positivo de €1,8 milhões? Como é possível que a dívida líquida do Benfica tenha duplicado em 5 anos?

O homem forte do Manchester United não fugiu às questões. Explicou alguns grandes erros do passado que estão hoje a ter impacto no clube e não teve receio em referir que se tudo continuasse como estava, em novembro, o United iria ficar sem liquidez para fazer face aos seus compromissos. É impossível, mais uma vez, não fazer o paralelismo com o que aconteceu com a anterior gestão do FC Porto que, como sabemos, deixou muitas receitas antecipadas e cerca de oito mil euros na conta!

O legado do Man. United

Tendo em conta o rumo que o Man. United vinha seguindo, foi necessário tomar um conjunto de medidas drásticas e impopulares, tais como, o corte das refeições ao staff da academia e do clube, uma vaga de despedimentos ou o aumento dos preços dos bilhetes.

Nestes pontos, Ratcliffe defendeu-se bem, com argumentos como: algum empregador em Inglaterra paga as refeições aos seus funcionários? O Man. United tem 1150 trabalhadores, faz sentido que assim seja?

Aqui não posso deixar de fazer o paralelismo com o Benfica que, aparentemente, tem 2008 funcionários, um número bastante superior!!

Por último, Ratcliffe justificou a subida do preço dos bilhetes com um motivo simples, a inflação e a necessidade de subir os ordenados dos funcionários, de forma a não perderem poder de compra.

Contudo, houve um tema que deixou Neville perplexo. O United cortou 40 mil libras (cerca de €47 mil) aos ex-jogadores. Neville fez questão de referir que quem é penalizado com esta medida são os ex-atletas das décadas de 70 e 80 que não recebiam o que se recebe agora. Perguntou se isto tinha lógica e ainda questionou o facto de não se ter pensado num plano B. Sugeriu, por exemplo, que, em vez de se cortar e anunciar desta forma, se fizesse um jantar de angariação com a presença de jogadores importantes como Bruno Fernandes, entre outros. Deu ainda outra sugestão que foi a de serem os jogadores a cobrirem aquelas 40 mil libras.

O que Neville pretendeu dizer é que a gestão rigorosa é importante, mas a história e o respeito por aqueles que ajudaram o clube a ser grande se deveria manter sempre. O mais interessante foi a resposta de Ratcliffe, que é um dos homens mais ricos e bem-sucedidos em Inglaterra.

Perante as sugestões de Neville assumiu, humildemente, que não tinha pensado nelas e que ninguém da sua equipa as tinha recomendado. Percebeu e reconheceu que há coisas para as quais se deve ter uma sensibilidade diferente. Tudo isto para dizer que o futebol é uma indústria diferente e que exige skills distintas de todos os outros sectores.

Para liderar e gerir no futebol é importante saber criar uma boa equipa, com pessoas qualificadas em cada uma das áreas, que consigam criar empatia entre si e, em simultâneo, ter a sensibilidade para perceber o contexto, a história e o legado de cada clube.

Por fim, Ratcliffe referiu que poderia injetar dinheiro no clube para disfarçar os problemas, mas que isso não iria resolver nada. Quando um clube tem vícios e gasta mais do que recebe de uma forma regular, no longo prazo as consequências apaclifrecem e desportivamente o clube fica mais frágil.

A valorizar: Vitinha

Cada vez mais se destaca como um dos melhores na sua posição. Incrível o facto de ter ficado fora do 11 ideal da jornada!

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